27/03/2024

7 anos depois, irmãos Batista voltam ao conselho de administração da JBS

7 anos depois, irmãos Batista voltam ao conselho de administração da JBS

Os irmãos Wesley (á esq.) e Joesley Batista, controladores da holding J&F - Iara Morselli e Marina Malheiros Divulgação CNN Brasil

 

Irmãos haviam renunciado aos cargos em 2017, durante investigações da Lava Jato.

Depois de quase sete anos, os irmãos Joesley e Wesley Batista vão voltar ao conselho de administração da JBS.

Em documento enviado à CVM (Comissão de Valores Mobiliários), a maior produtora de carnes do mundo informou a criação de duas novas vagas no conselho.

Serão 11 integrantes. Os dois nomes apresentados para as novas cadeiras foram os de Wesley e Joesley, filhos de José Batista Sobrinho, o Zé Mineiro, fundador da companhia.

Eles estão afastados do conselho de administração da JBS desde maio de 2017, quando renunciaram aos cargos por pressão do mercado.

Joesley havia gravado conversa com o então presidente da República, Michel Temer (MDB), antes de fechar acordo de delação premiada. O mesmo caminho foi seguido por Wesley após investigações da Operação Lava Jato.

Os dois seriam presos no ano seguinte acusados de terem usado informações privilegiadas a respeito das próprias delações para manipular o mercado com a compra e venda de ações da JBS e operações em dólar. Eles depois seriam absolvidos pela CVM.

Oficialmente, no momento, os irmãos ocupam cargos executivos apenas no Instituto J&F, organização sem fins lucrativos que estimula empresas comprometidas com projetos de educação em suas comunidades. Também oferece cursos para crianças e adolescentes.

Eles são os donos da J&F, holding que administra os negócios da família. Ela está envolvida na disputa com a Paper Excellence pelo controle da Eldorado.

Fundada pelos Batista, a companhia de celulose foi vendida em 2017 por R$ 15 bilhões. Desde então, a briga pelo controle acionário está na Justiça, sem perspectiva de definição em um futuro próximo.

Um dos motivos do litígio é a exigência para que a Paper obtivesse liberação das garantias dadas pelos Batista para construir a fábrica da Eldorado. Entre elas, ações da JBS, uma empresa de capital aberto.

A assembleia geral que vai confirmar a volta de Joesley e Weesley está marcada para 26 de abril.

Eles, a princípio, ficariam no cargo "até a assembleia-geral ordinária que deliberar sobre as demonstrações financeiras referentes ao exercício encerrado em 31 de dezembro de 2024", diz o documento enviado à CVM.

 

Entre as justificativas apresentadas pela JBS para indicação dos filhos do fundador, está que eles não sofreram, nos últimos cinco anos, qualquer "condenação criminal" ou em processo administrativo da CVM, "do Banco Central do Brasil ou da Superintendência de Seguros Privados, ou qualquer condenação transitada em julgado, na esfera judicial ou administrativa (...)".

O retorno ao conselho de administração é mais um ato da reaparição dos irmãos Batista ao centro da vida empresarial e política do país. No ano passado, os dois integraram comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em viagem à China.

Também em 2023, o ministro Dias Toffoli, do STF (Supremo Tribunal Federal), suspendeu os efeitos do acordo de leniência que a J&F havia assinado com o MPF (Ministério Público Federal) em 2017.

Ele atendeu a pedido dos Batista, que alegaram coação de procuradores da Lava Jato a representantes da holding. Com a decisão, foram suspensas multas que totalizavam R$ 10,3 bilhões.

A JBS fechou 2023 com receita líquida de R$ 364 bilhões, mas com prejuízo de R$ 1 bilhão (Folha, 27/3/24)