22/05/2018

Alta do dólar traz renda ao campo, mas pode dificultar planejamento

Alta do dólar traz renda ao campo, mas pode dificultar planejamento

Enfraquecimento do real, no entanto, traz elevação de custo para produtores.

A alta do dólar traz renda ao campo, aponta para um novo cenário em 2019, mas requer cuidados e dificulta planejamento no setor.

A valorização da moeda dos EUA afeta não apenas o real mas a divisa de vários países. “A pergunta que deve ser feita é qual será a duração dessa valorização”, diz Fernando Muraro, analista da AgRural.

Se for curta, o mercado agropecuário se ajusta. Se for longa, haverá impacto no mercado de commodities.
Dólar em alta exigirá mais dinheiro dos países importadores na compra de commodities, inibindo a demanda.

“Historicamente, as elevações da moeda norte-americana têm sido positivas para a cadeia agropecuária”, diz Fábio Silveira, sócio-diretor da MacroSector. Ele lembra, porém, que o enfraquecimento do real traz elevação de custos para os produtores.

O Brasil é dependente de fertilizantes e de produtos químicos. Pelo menos 60% dos produtores já adquiriram os insumos para a próxima safra. Os outros 40% vão pagar caro por esses produtos.

Dentro da porteira, os agricultores que ainda têm produtos exportáveis serão benefícios a curto prazo, segundo Anderson Galvão, analista da consultoria Céleres.

Há uma preocupação, no entanto, porque a alta não é garantia de renda no ano que vem. Assim como o produtor obtém mais reais na venda da soja, do milho, do café e dos demais produtos exportáveis, ele gasta mais reais para a compra dos insumos para a próxima safra.

A alta do dólar vem sendo provocada por motivos externos, e a estabilidade da moeda dos EUA também vai depender de medidas econômicas externas, segundo Galvão.

O pior dos mundos para o produtor seria pagar os insumos importados a R$ 3,70 ou R$ 4,00 por dólar nos próximos meses e vender a produção a R$ 3,10 a R$ 3,20 no próximo ano, segundo ele.

Fernando Cardore, vice-presidente da Aprosoja-MT (Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso), concorda que poderá haver o aumento de receitas no curto prazo. Grande parte da safra, contudo, já foi comercializada a um dólar com valores defasados, afirma.

Para ele, essa volatilidade da moeda dos EUA traz uma insegurança no setor. Ela dificulta as operações de hedge (proteção contra oscilações de mercado) e, consequentemente, até o planejamento.

Para Galvão, a mudança de rumo do dólar afeta inclusive as empresas de insumos, principalmente as que não têm estoques. Vão pagar mais pelos produtos nas importações e terão dificuldades nos repasses em uma eventual redução do valor da moeda norte-americana em 2019.

A valorização do dólar poderá mudar o cenário para a agricultura no próximo ano, dizem Silveira e de Galvão.

O primeiro acredita em um 2019 com um patamar de produção maior, enquanto Galvão refez os cálculos de ocupação de área agrícola no país.

Uma remuneração melhor pelos produtos agrícolas poderá elevar a área de plantio de soja em 1,5 milhão de hectares na safra 2018/19. Neste ano, foi de 34,7 milhões. A previsão anterior era de uma evolução de 700 mil a 1 milhão.

A melhora nos preços do milho vai fazer com que os produtores também deem mais atenção ao cereal.
O aumento de área na safra de verão deverá ser de 500 mil hectares. Na de inverno, o aumento poderá atingir 1 milhão de hectares, segundo Galvão (Folha de S.Paulo, 22/5/18)