28/03/2024

Brasil cria 306 mil vagas formais de emprego em fevereiro

Brasil cria 306 mil vagas formais de emprego em fevereiro

CAGED

Geração líquida de empregos foi 21,2% maior do que em igual mês do ano passado.

O Brasil gerou 306.111 vagas formais de trabalho em fevereiro, de acordo com dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) divulgados nesta quarta-feira (27) pelo Ministério do Trabalho e Emprego.

O número supera com folga o resultado consolidado registrado em fevereiro do ano passado, quando foram abertas 252.487 vagas com carteira assinada no país.

Na comparação anual, em fevereiro deste ano, a geração líquida de vagas foi 21,2% maior do que em igual mês de 2023.

Também é bem maior que o esperado pelos analistas econômicos: a projeção era de 236 mil vagas.

Ao todo, no segundo mês deste ano, foram registradas 2,249 milhões de contratações e 1,943 milhão de demissões. Analistas alertam que não é adequado comparar os números com resultados obtidos em anos anteriores a 2020 devido a uma mudança de metodologia nos cálculos.

Os cinco setores de atividades econômicas tiveram saldo positivo em fevereiro, com maior impulso do setor de serviços –193.127 empregos formais. Também houve geração líquida de 54.448 postos na indústria, 35.053 na construção, 19.724 no comércio e 3.759 na agropecuária.

Às vésperas da nova divulgação, membros do governo Lula (PT) já repercutiam o vigor do mercado de trabalho. Desde o início do ano, foram criados 474.614 empregos formais no Brasil.

Em entrevista à rádio Itatiaia, na manhã desta quarta, o ministro Fernando Haddad (Fazenda) disse que o número de criação de empregos em fevereiro seria "bastante expressivo". "A economia brasileira inicia um ciclo longo de crescimento econômico e nós precisamos preparar a nossa juventude para ocupar esses postos de trabalho", disse.

Já o ministro Rui Costa (Casa Civil) afirmou um dia antes que os dados do Caged seriam "extraordinários".

Em entrevista a jornalistas, o ministro Luiz Marinho (Trabalho) disse que Lula ficou "muito feliz" com o resultado de fevereiro. "Esperamos que março venha reforçar ainda mais para enxergarmos uma tendência do que pode acontecer neste ano", afirmou.

Para Marinho, o Brasil pode ultrapassar a marca de 2 milhões de empregos líquidos gerados ao término do ano.

Dos cinco setores de atividades, quatro tiveram saldo positivo no primeiro bimestre de 2024. O grupo de serviços ajudou a impulsionar o resultado, com a criação de 268.908 vagas formais somadas em janeiro e fevereiro. Na sequência, aparecem indústria (120.004 postos), construção (81.774) e agropecuária (25.751). No comércio, houve saldo negativo de 21.824 empregos formais.

A força do mercado de trabalho vem soando como alerta para o Banco Central e para as perspectivas sobre o ritmo de cortes na taxa básica de juros (Selic) à frente.

Na ata do último Copom (Comitê de Política Monetária), divulgada na terça (26), o colegiado registrou uma extensa discussão sobre a resiliência do mercado de trabalho e seus potenciais impactos sobre a atividade econômica e a inflação.

"Notou-se que um mercado de trabalho mais apertado, com reajustes salariais acima da meta de inflação e sem ganhos de produtividade correspondentes, pode potencialmente retardar a convergência da inflação, impactando notadamente a inflação de serviços e de setores mais intensivos em mão de obra", disse.

Para o Copom, a evolução do comportamento do mercado de trabalho será muito relevante para determinar a velocidade com que a inflação atingirá a meta (3%).

Diante dos alertas do BC, Marinho criticou a atuação da autoridade monetária, defendendo maior redução dos juros, e afirmou que os diretores da instituição precisavam "estudar mais os fundamentos da economia".

Para o ministro, controlar a inflação por meio de aumento de juros e corte de crédito é uma "forma burra" de ação. O "jeito inteligente", segundo ele, é atuar pelo lado da oferta e exigir planejamento da iniciativa privada.

"Eu convido o Banco Central a aprofundar mais esse debate da produtividade do Brasil. Não por constatação, por números globais, é preciso dar uma aprofundada nas especificidades de cada setor para ver o que está acontecendo", disse.

No mês passado, o salário médio de admissão caiu para R$ R$ 2.082,79, uma redução real (descontada a inflação) de R$ 50,42 em relação a janeiro (R$ 2.133,21) –variação negativa de 2,36%. Na comparação com fevereiro do ano anterior, houve ganho real de R$ 28,29 (alta de 1,4%).

Os dados do Caged mostram também que foram abertas vagas de emprego em todas as regiões do país em fevereiro, sendo 159.569 no Sudeste, 84.862 no Sul, 34.044 no Centro-Oeste, 17.062 no Norte e 10.571 no Nordeste.

Em 24 das 27 unidades da federação foram registrados saldos positivos. O principal resultado foi verificado em São Paulo, com a geração de 101.163 vagas formais (alta de 0,7%), com destaque também para o setor de serviços (67.750 postos). Na outra ponta está Alagoas, com retração de 2.886 empregos formais (queda de 0,65%).

Quanto ao pessimismo dos brasileiros com a economia mostrada pela pesquisa Datafolha, realizada nos dias 19 e 20 de março, Marinho disse ver influência do aumento sazonal de despesas no início do ano, com o pagamento de contas como IPVA (automóveis), IPTU (imóveis) e compra de material escolar.

Na visão do ministro, não adianta "brigar com sentimento" e é preciso deixar o mercado de trabalho crescer para reverter essa percepção negativa.

O economista Matheus Pizzani, da CM Capital, viu o resultado positivo de fevereiro como um "sinal" da resiliência apresentada pelo mercado de trabalho brasileiro. No entanto, pondera que a composição do Caged não destoa significativamente do comportamento sazonal previsto, embora o saldo de empregos formais tenha sido maior do que o esperado.

Ele ressaltou que a maior parcela das vagas criadas no grupo de serviços se concentra no setor público (93.792 postos) e que o bom desempenho apresentado pela indústria pelo segundo mês consecutivo chama a atenção.

"Apesar de ser uma boa notícia, ainda é cedo para afirmar que isto pode resultar em melhora na produção do setor [industrial], tendo em vista que mesmo tendo criado 65 mil vagas em janeiro, a produção industrial recuou 1,6% de acordo com a PIM [Pesquisa Industrial Mensal] divulgada pelo IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística]", disse.

Pizzani observou que houve queda generalizada no nível de salários entre janeiro e fevereiro, com exceção ao setor de construção, que permaneceu relativamente estável no período.

"Levando em consideração que a preocupação do BC se concentra no setor de serviços, de acordo com o que foi divulgado na ata da última reunião, mesmo a criação de vagas acima do esperado em fevereiro não deve ser vista como ponto de preocupação para os próximos passos da política monetária", afirmou.

A XP ressaltou que os dados do Caged vieram novamente acima das expectativas e que, em suas estimativas com ajuste sazonal, houve geração de 161 mil ocupações com carteira assinada no mês passado, contra 216 mil em janeiro –ambas superiores à média mensal ao redor de 120 mil registrada em 2023.

Para o economista Rodolfo Margato, os níveis historicamente altos tanto das contratações quanto dos desligamentos refletem o mercado de trabalho apertado e maior flexibilidade nas relações trabalhistas –com demissões voluntárias em patamar elevado.

Quanto à oscilação dos salários na base interanual, os números são vistos pela XP como "compatíveis com o cenário de mercado de trabalho apertado, mas não necessariamente superaquecido."

"O mercado de trabalho formal continua a surpreender positivamente e deve impulsionar a demanda doméstica. O firme crescimento do emprego e dos salários reais são os principais fatores por trás da nossa projeção de expansão de 2,5% para o consumo das famílias este ano", escreveu em nota (Folha, 28/3/24)