16/04/2024

Café robusta mantém alta no campo e se aproxima do valor do arábica

Café robusta mantém alta no campo e se aproxima do valor do arábica

CAFÉ ROBUSTA - FOTO FREEPIK

Antes usado como blend, variedade cai no gosto do consumidor e avança no mercado externo.

O valor da saca dos cafés robusta e conilon se aproxima do arábica, o que traz novos custos para a indústria e, consequentemente, impacta o consumidor.

O robusta subiu para R$ 1.105 por saca, acumula 16% de alta apenas neste mês e já representa 89% do valor de uma saca de café arábica, tradicionalmente bem mais elevado. Os dados são do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada). Há um ano, essa diferença era de 60%.

A correção ocorre tanto por motivos internos como externos. A qualidade dos cafés conilon e robusta mudou de patamar no Brasil. Antes usado apenas para compor blend, agora, com manejo e cuidados maiores no campo, eles têm mais sabor e aroma.

Com o avanço da qualidade desses dois cafés, pertencentes à família do café canéfora, as indústrias de torrefação fizeram um blend que caiu no gosto dos consumidores, e esse padrão deverá ser mantido, segundo Celírio Inácio da Silva, diretor-executivo da Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café).

O avanço da qualidade do produto brasileiro o tornou mais competitivo no mercado internacional. Com a quebra de produção em países africanos e asiáticos —o Vietnã é o maior produtor mundial desse tipo de café—, a demanda pelo café brasileiro cresceu muito. Além disso, o produto dos demais países se torna mais caro devido aos custos logísticos, provocados pelos conflitos geopolíticos atuais.

O robusta, com estoques baixos em Londres, está com os preços mais elevados dos últimos 30 anos. Em fevereiro, a Ásia e a Oceania exportaram 17% menos café, considerados todos os tipos. A queda no Vietnã foi de 19%, em relação ao mesmo mês de 2023. Já a América do Sul exportou 42% a mais, segundo a OIC (Organização Internacional do Café).

O preço sobe em um momento em que o consumo cresce. Na safra 2023/24, o consumo mundial aumenta 2,2%, segundo a OIC, e a Abic constatou alta de 1,64% no Brasil no ano passado. Os brasileiros consumiram o correspondente a 21,7 milhões de sacas, 39% do que foi produzido.

Inácio diz que as margens do setor ficam apertadas. De um lado, o produtor brasileiro tem a opção de entregar o café para a indústria interna ou para o mercado externo, que tem forte demanda pelo produto brasileiro.

De outro, as exportações brasileiras de café voltaram a crescer, e a preços melhores. As vendas externas de café arábica têm uma regularidade de 3 milhões de sacas por mês de janeiro a março. Já as do robusta, que iniciaram janeiro com 461 mil sacas, atingiram 847 mil em março.

 

Em 2023, as exportações brasileiras de café robusta e conilon superaram em 213% as de 2022, segundo o Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil).

Mais difíceis ainda são as negociações com o varejo, segundo o executivo da Abic. O café é um produto de consumo importante no dia a dia do consumidor, e o varejo quer colocá-lo sempre com os preços mais atraentes possíveis. Poucas redes dominam até 60% das vendas no varejo.

A indústria de café solúvel, praticamente voltada para o mercado externo, com vendas de 80% do que produz, também terá impacto no custo, principalmente no mercado interno.

Com relação às vendas externas, o dólar em alta ainda dá competitividade ao produto brasileiro no mercado externo, não gerando impacto nas exportações, afirma Aguinaldo José Lima, diretor-executivo da Abics (Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel).

Uma das preocupações da indústria de solúvel é se, quando a produção de café externa for recomposta, o preço interno do conilon e do robusta não cair. Já ocorreu em 2017, quando, por pouco tempo, a saca do conilon superou a do arábica.

 

Quanto ao desempenho do setor neste ano, ainda é cedo para previsões, segundo o executivo da Abic. É preciso ver se os problemas de 2023 se repetem. O ano passado foi um período muito quente, o que inibe o consumo; havia uma insegurança nos preços e dúvidas sobre o tamanho da safra.

Inácio afirma que a qualidade do café brasileiro melhorou muito nas últimas décadas, após a instituição dos selos de pureza, de 1989, e de qualidade, de 2003. Com a entrada em vigor de portaria do Ministério da Agricultura, um instrumento legal para o controle oficial da qualidade do café torrado, essa melhora tende a se estender para todo o setor. A indústria terá de mostrar ponto de torra, tipo de café e se ele está dentro do padrão mínimo exigido.

A recuperação de preços no campo vai melhorar a renda do produtor. O VBP (Valor Bruto de Produção) do café deverá atingir R$ 57,2 bilhões dentro da porteira neste ano. O cálculo considera volume a ser produzido e preços recebidos pelos produtores. Minas Gerais e Espírito Santo ficam com R$ 43 bilhões desse valor.

O consumidor, que vinha pagando menos pelo café em pó, voltará a pagar mais. Em 2023, os preços recuaram 9,1%, segundo a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), mas no primeiro trimestre acumularam alta de 1,4%. Na primeira quadrissemana de abril, no entanto, já registram alta de 2,7% (Folha, 16/4/24)