08/05/2024

Estrago no RS é grande, mas é preciso evitar alarmismo nacional

Estrago no RS é grande, mas é preciso evitar alarmismo nacional

ALAGAMENTO RS Foto Blog Jornal Nacional

O arroz, devido à importância do estado no abastecimento nacional, preocupa.

Os efeitos da catástrofe climática que assola o Rio Grande do Sul serão dramáticos, tanto regionalmente quanto individualmente. O estado terá muito a reconstruir, e o produtor vai demorar para retornar à sua vida agrícola normal.

Por ora, é difícil estimar o tamanho dos estragos, mas é necessária uma atenção com os alarmismos. Muitos elos da cadeia podem se aproveitar desse momento. O Rio Grande do Sul vai perder muito, mas o impacto nacional não terá a mesma dimensão daquele no estado.

A avaliação é de Lucílio Alves, pesquisador do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), que acompanha o setor de grãos na região.

Mais um agravante para o produtor gaúcho é o momento atual dos preços nacionais e internacionais das commodities, que estão em patamar reduzido. O produtor vai colher menos, devido às enchentes, mas terá ganhos menores no que produzir, devido aos preços internacionais.

Alves diz que um dos gargalos pode ser a logística, em vista das dificuldades de circulação de produtos. Quanto à safra, boa parte já estava colhida.

O arroz, cereal que o Rio Grande do Sul tem grande importância no cenário nacional, preocupa. Algumas regiões, mesmo com a safra terminada, podem não escoar o produto. Já as perdas pela chuva eliminam a possibilidade de uma recuperação da safra deste ano, em relação à do anterior.

Os preços vão subir, diz Alves, mas o mercado internacional é um limitador. O país vem exportando e importando nos últimos anos, sempre seguindo os parâmetros do mercado internacional.

O Brasil consome próximo de 10,5 milhões de toneladas por ano, e a safra brasileira, com a quebra do Rio Grande do Sul, deverá ficar um pouco inferior a 10 milhões.

O Rio Grande do Sul, que esperava 7,7 milhões de toneladas, deverá produzir de 6,9 milhões a 7 milhões, segundo Vlamir Brandalizze, analista do setor. O estado tem ainda 1,3 milhão de toneladas para colher, mas nem toda essa área que falta está nas regiões mais afetadas pelas enchentes.

Alves diz que os estoques estão baixos, vai haver aumento de preço, mas dentro de um alinhamento externo.

Para Brandalizze, a quebra no Brasil ocorre em um momento ruim para o cereal, uma vez que os países do Mercosul e da Ásia estão com pouco produto exportável.

A soja terá redução de até 3 milhões de toneladas na colheita, segundo o analista. O prejuízo financeiro é grande para o produtor gaúcho, podendo chegar a R$ 6 bilhões, mas esse volume não consegue interferir nos preços internacionais.

 

O forte da colheita de milho do Rio Grande do Sul ocorre na primeira safra, a de verão, e os gaúchos se preparam agora, a partir do final deste mês, para o plantio de trigo.

Quanto ao feijão, o governo errou a mão ao anunciar uma possível importação. O país está no melhor momento de colheita, e os preços já recuaram 40% nas últimas semanas no campo. Para Brandalizze, o anúncio do governo pode aviltar ainda mais os preços, trazendo prejuízos para os agricultores.

No setor de carnes, os frigoríficos que estavam nas regiões de enchentes foram afetados fortemente nos primeiros dias pelas chuvas. Já há, no entanto, uma retomada gradativa das atividades, segundo a ABPA (Associação Brasileira da Indústria de Proteínas).

O Rio Grande do Sul terá problemas no abastecimento de proteínas, principalmente pela mobilidade interrompida entre as cidades. O estado, no entanto, não tem grande importância na venda de carnes suína e de frango para outras regiões do país. Os gaúchos são importantes, porém, mas exportações dessas duas proteínas, estando entre os principais exportadores nacionais (Folha, 7/5/24)