20/02/2018

Farelo de soja é melhor commodity do ano devido à seca argentina

Farelo de soja é melhor commodity do ano devido à seca argentina

Para entender por que o farelo de soja é a commodity com o melhor desempenho até agora neste ano, converse com Ariel Striglio, um produtor de 52 anos da província argentina de Santa Fe.

Desde janeiro, caíram cerca de 3,5 centímetros de chuva em suas plantações de soja e milho. Isso não é nem um quinto do volume de chuva normal. Além disso, as temperaturas estão muito mais altas.

“O calor é incrível — estamos usando ar-condicionado o tempo todo agora, o que não é normal”, disse Striglio. “Estou estimando perdas de 30 por cento no rendimento da soja.”

A soja é um dos cultivos para ração mais comuns do mundo. Essa oleaginosa é esmagada para fabricar um farelo com alto teor de proteína que é vendido para os criadores de gado. As condições de seca que assolam o coração da região agrícola da Argentina são um motor fundamental dos preços porque o país é o maior exportador desse farelo. Para os produtores de carne como a Tyson Foods e a Sanderson Farms, uma oferta mais ajustada poderia acabar elevando os custos das rações em um momento em que se estima que os americanos comerão mais carne do que nunca.

A seca já impulsionou um aumento de 19 por cento dos futuros mais ativos de farelo de soja em 2018. É o maior ganho entre as 22 matérias-primas monitoradas pelo Bloomberg Commodity Index.

Perspectivas

O Departamento de Agricultura dos EUA (USDA, na sigla em inglês), em 8 de fevereiro, reduziu sua perspectiva para a safra de soja da Argentina para 54 milhões de toneladas, frente aos 56 milhões projetados em janeiro. As estimativas locais são ainda mais baixas. A Bolsa de Grãos de Buenos Aires prevê 50 milhões e a consultoria AgriPac projeta 47,2 milhões. Se esse último número se tornar realidade, esta seria a menor safra desde 2012, mostram números do USDA. A Bolsa disse em 15 de fevereiro que a maior parte dos grãos é de má ou péssima qualidade.

Na Chicago Board of Trade, o farelo de soja para entrega em maio chegou a US$ 381,20 por 2.000 libras na sexta-feira, um recorde para o contrato de futuros criado em dezembro de 2015.

O apetite da China por soja e farelo de soja cresceu nos últimos anos porque sua população cada vez maior está adicionando mais carne à dieta média. O consumo robusto do país ajuda a ampliar qualquer perda de produção das safras, mesmo em uma época de grandes estoques de grãos, segundo Matt Connelly, analista da Hightower Report em Chicago.

Para piorar a escassez de oferta, os produtores na Argentina limitaram a venda das colheitas em meio a expectativas de redução dos impostos à exportação e de queda do peso, disse Heather Jones, analista da Vertical Group em um relatório publicado em 12 de fevereiro. Em dezembro, as exportações de farelo do país atingiram o patamar mais baixo desde 2013. A desvalorização da moeda local favorece as exportações de commodities precificadas em dólar (Bloomberg, 19/2/18)