11/12/2018

Fórum Brasileiro de Mudança do Clima apresenta proposta na COP-24 do Clima

Fórum Brasileiro de Mudança do Clima apresenta proposta na COP-24 do Clima

Legenda: Ativista protesta contra o uso de combustíveis fósseis na COP-24, na Polônia; Brasil defende uso de etanol como alternativa para energia limpa

 

O Fórum Brasileiro de Mudança do Clima lançou nesta segunda (10) uma estratégia de longo prazo para as contribuições brasileiras ao Acordo de Paris. 

O órgão é presidido pelo presidente da República e tem participação da sociedade civil, universidades, empresas e funcionários de ministérios como Meio Ambiente, Relações Exteriores e Casa Civil. 

O documento foi pedido pelo presidente Michel Temer em agosto e define ações-chave para que o Brasil ajude o mundo a zerar suas emissões de gases-estufa em 2050. 

A estratégia é baseada em três linhas de ação: zerar o desmatamento ilegal, criar incentivos para proteção florestal e para agricultura de baixo carbono e investir em transportes mais limpos. 

"Esse trabalho vai continuar mesmo que chova canivete", anunciou o coordenador do Fórum, Alfredo Sirkis. Indicado por Temer para o cargo, ele conta que o grupo já discutiu estratégias para lidar com o novo governo, que considera deixar o Acordo de Paris. 

O futuro ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, indicado ao cargo no domingo (9), disse em entrevista à Folha no mesmo dia que "a discussão se há ou não há aquecimento global é secundária". 

Apesar de reações de alívio por Salles não negar a ocorrência do aquecimento global, membros da delegação brasileira na COP-24 se dizem preocupados com um possível desmantelamento da pasta ambiental, que ficaria submetida à Agricultura. "Estamos preparados para diversas contingências", diz Sirkis, para quem é possível manter o trabalho sem a participação do governo federal. 

Entre ambientalistas, o receio é de que o novo governo anule o decreto de criação do Fórum. "O novo governo vai demandar capacidade de dialogar; fui deputado com Bolsonaro e tinha relação de cordialidade com ele. Não tenho problema em dialogar com ninguém", diz Sirkis. 

Também na segunda o Brasil realizou seu já tradicional evento na COP do Clima, a Plataforma Biofuturo, que busca apoio internacional para a adoção dos biocombustíveis como solução de curto prazo para a transição energética. 

A proposta tem que contornar posições contrárias de outras delegações, que consideravam o jogo injusto no mercado internacional, já que só o Brasil teria solo disponível para produzir biocombustível de fontes como soja, milho e cana-de-açúcar sem competir com o plantio de alimentos. 

A opção, porém, passou a despertar o interesse de gigantes como Índia e China por causa das novas tecnologias que permitem produzir biocombustível a partir de resíduos agrícolas, como cascas de arroz e milho, afirma Renato Godinho, responsável pela plataforma no Itamaraty. 

Segundo ele, os biocombustíveis podem substituir os combustíveis fósseis onde outras tecnologias não estão disponíveis. "Compete com o combustível comum e não com a eletrificação", diz Godinho. Segundo ele, o biocombustível será mais viável que baterias elétricas para a frota de carga, como caminhões.

Com 20 países-membros, a plataforma passa a ser gerenciada pela Agência Internacional de Energia, sediada em Paris. O Brasil continua na presidência do grupo.

ESTRATÉGIA BRASILEIRA PARA AJUDAR A ZERAR AS EMISSÕES DO MUNDO EM 2050

Proposta foi apresentado na COP-24 do Clima, na Polônia

1.     Agricultura

Ampliar o programa Agricultura de Baixo Carbono (ABC), dando crédito do Plano Safra a esforços de sustentabilidade

2.     Desmate

Zerar o desmatamento ilegal até 2050 Florestas Regulamentar incentivos previstos no Código Florestal para preservação florestal

3.     Transportes

Modernizar frota com alternativas mais limpas, como carros elétricos. Investir em transporte público

4.     Economia

Criar incentivos econômicos para descarbonização, como o mercado de carbono (Folha de S.Paulo, 11/12/18)