02/05/2024

Lula sozinho no Itaquerão é símbolo dos fracassos de público da esquerda

Lula sozinho no Itaquerão é símbolo dos fracassos de público da esquerda

CAPA Lula chegou a reclamar da falta de público no 1º de Maio em São Paulo. Foto Edi Sousa Ato Press

Lula chegou a reclamar da falta de público no 1º de Maio em São Paulo. Foto Edi Sousa Ato Press

 

Por Vinicius Torres Freire

Esquerdas deixaram de falar com o mundo dos trabalhadores e com o povo da rua.

"LULA PRESIDENTE". "Metalúrgico é o primeiro líder de esquerda a ser eleito no país". Eram as manchetes desta Folha na eleição de 2002.

Lula deixara o sindicalismo havia quase 20 anos, mas aparecia ainda como operário. Centrais e sindicatos declinavam, mas manteriam alguma presença na vida política ou nas ruas até a Grande Recessão (2014-16).

No 1º de Maio de 2010, Lula apresentava Dilma Rousseff como sua sucessora. Os dois foram também à festa da Força Sindical (rival da CUT, lulista, mas então aliada do governo).

A manifestação, com shows e sorteios, teria juntado mais de 450 mil pessoas, segundo a PM, e foi patrocinada por empresas estatais e privadas. A popularidade de Lula passaria de 80% no final daquele ano.

No 1º de Maio deste 2024, Lula irritou-se em público por causa do fiasco da festa. No estádio do Corinthians, o Itaquerão, havia umas 2.000 pessoas.

O vexame em si não tem importância, embora tenha feito a alegria da extrema direita nas redes. O sindicalismo definha no Brasil faz tempo. A notícia trabalhista mais importante das últimas semanas, de resto, é o fracasso da regulamentação do trabalho dos motoristas de aplicativo, que criticam o projeto do governo e têm aversão a sindicato.

Mais impressionante, embora impressão velha já quase de uma década, é a extinção da esquerda nas ruas. Nem mesmo as causas que já foram célebres da antiga esquerda comovem manifestantes.

Em abril de 2017, as centrais sindicais ainda conseguiram levar gente para protestos e promover greves contra a reforma da Previdência, movimento que também expressava raiva contra a pobreza dos anos recessivos. Foi a última vez em que esse dinossauro foi visto.

A reforma trabalhista de Michel Temer, de 2017, passou quase sem um pio nas ruas, assim como a reforma da Previdência de 2019.

O maior movimento trabalhista recente foi a greve dos caminhoneiros de 2018. Sim, era isso também, greve, além de locaute e ensaio geral de organização da extrema direita.

O Brasil tinha em março passado cerca de 100 milhões de pessoas com algum emprego. O trabalho ainda deveria ser assunto central da esquerda, que, no entanto, se ocupa de outras conversas, ao menos as esquerdas de salão e redes sociais. As demais não têm sucesso de público ou crítica.

 

Muitos trabalhadores se tornaram "MEI" (microempreendedor individual), formalmente ou na prática. Desconfiam do Estado, que muita vez lhes aparece como uma burocracia que custa caro em regulamentações e impostos e não oferece nada de valioso em troca.

É o caso do 1,7 milhão de pessoas que se empregam como motoristas ou entregadores de aplicativo, segundo pesquisa do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento) e da Amobitec (Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia), de 2023.

No total, há mais de 13 milhões de MEIs, 9% deles cabeleireiras e trabalhadores da estética (dados de 2021, do IBGE, o mais recente).

 

Uma categoria grande de trabalhadores, quase sempre trabalhadoras, são os empregados domésticos, 5,9 milhões, 75% delas sem carteira assinada (dados da Pnad do IBGE de março deste 2024).

Outros 19 milhões de pessoas trabalham "por conta própria", segundo também o IBGE, e sem qualquer registro formal (sem CNPJ). É o mundo dos bicos mais precários. Quem da política fala com essas pessoas?

No setor privado, são 38 milhões de trabalhadores na CLT (afora os domésticos), a maioria em comércio e serviços, parte deles um dia organizada em sindicatos com alguma relevância política. Cadê seus representantes, cadê suas queixas? Para os terceirizados e pulverizados, a representação institucional é ainda mais difícil. De qualquer modo, cadê os ouvidos de quem se diz de esquerda? (Folha, 2/5/24)


Lula repete críticas a ministro Márcio Macedo e gera expectativa de saída do governo

Lula repete críticas a ministro Márcio Macedo Imagem Youtube

Por Mônica Bergamo

Presidente reclamou da quantidade de pessoas que as centrais sindicais, com apoio do governo, conseguiram reunir.

O puxão de orelhas público de Lula no ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Márcio Macedo, não foi o primeiro –e realimentou expectativas de que o titular da pasta pode deixar o cargo nas mudanças que o presidente deve promover em seu governo ainda neste ano.

Em dezembro, no evento natalino dos catadores de papel em São Paulo, ao qual Lula comparece todos os anos, Macedo também ouviu queixas públicas.

No meio do discurso, o presidente se dirigiu ao ministro e afirmou: "Eu esperava que você e os catadores tivessem feito mais. Eu esperava que a gente tivesse aqui uma pauta de grandes conquistas. Eu acho que nem vocês [catadores] fizeram direito, nem ele [Macedo] atendeu direito. Nós vamos corrigir isso".

Nesta quarta, no ato de 1o de Maio em Itaquera, Lula reclamou da quantidade de pessoas que as centrais sindicais, com apoio do governo, conseguiram reunir.

"Vocês sabem que ontem eu conversei com ele [Márcio Macêdo] sobre esse ato e disse para ele: ‘Ô Márcio, o ato está mal convocado’. O ato está mal convocado, nós não fizemos o esforço necessário para levar a quantidade de gente que era preciso levar, mas, de qualquer forma, eu estou acostumado a falar com 1.000, com milhão, mas também se for necessário eu falo apenas com a senhora que está ali na minha frente", disse o presidente.

Depois de Lula manifestar preocupação, antes ainda do evento, Macedo chegou a procurar o pré-candidato a prefeito Guilherme Boulos (PSOL-SP), conhecido pela capacidade de mobilização, para tentar turbinar o público. Mas fez isso poucas horas antes do ato, tornando impossível a missão (Folha, 2/5/24)

 


Lula reclama de baixo público em ato do 1º de maio em São Paulo: “Evento foi mal convocado”

EVENTO 01.05.2024 LULA EM ITAQUERA - Foto Taba Benedicto Estadão Conteúdo

Público presente no ato das Centrais Sindicais pelo Dia do Trabalhador na Neo Química Arena, em Itaquera, na zona leste da cidade, nesta quarta-feira, 1º de abril de 2024. O evento conta com a presença do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).01/05/2024 – 

 

Durante discurso no evento em comemoração do Dia do Trabalhador, organizado pelas centrais sindicais em São Paulo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) mostrou incômodo com a mobilização realizada para o ato. Segundo o presidente, a convocação para o evento de 1º de Maio, realizado no estacionamento do estádio do Corinthians, em Itaquera, não foi feita como deveria, o que reduziu o público do evento. No palco, ao apresentar seus ministros, ele falou que tratou do assunto com Márcio Macedo, titular da Secretaria-Geral da Presidência, mas tentou minimizar o problema de falar para menos gente do que o esperado.

“Ele (Márcio Macedo) é responsável pelo movimento social brasileiro. Não pense que vai ficar assim. Vocês sabem que ontem eu conversei com ele sobre esse ato e eu disse para ele: ‘Oh Márcio, o ato está mal convocado. O ato está mal convocado. Nós não fizemos o esforço necessário para levar a quantidade de gente que era preciso levar’. Mas, de qualquer forma, eu estou acostumado a falar com mil, com um milhão (de pessoas), mas também, se for necessário, eu falo apenas com a senhora maravilhosa que está aqui na minha frente pra conversar com a gente”, disse.

Antes da fala de Lula, outros dirigentes de centrais defenderam maior presença de grupos de esquerda nas ruas, em contraposição aos atos de direita convocados por Jair Bolsonaro, ainda que sem citá-lo.

Nas redes, aliados do ex-presidente ironizaram o que consideraram uma baixa participação dos atos das centrais, mesmo antes do evento começar efetivamente. “Um boneco do Bolsonaro coloca mais gente na rua”, ironizou o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG). “Lula bate mais um recorde de fiasco absoluto”, completou Gustavo Gayer (PL-GO).

Além de Lula e Macedo, também estavam presentes o vice-presidente Geraldo Alckmin, e os ministros Cida Gonçalves (Mulheres), Anielle Franco (Igualdade Racial), Luiz Marinho (Trabalho), Alexandre Padilha (Relações Institucionais), André Fufuca (Esportes), Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário), Silvio Almeida (Direitos Humanos) e Paulo Pimenta (Comunicações). O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), pré-candidato de Lula nas eleições em São Paulo também compareceu e discursou (Broadcast, 1/5/24)