11/10/2018

Participação maior do agro no exterior passa por viés comercial do governo

Participação maior do agro no exterior passa por viés comercial do governo

Brasil tem condições de expandir produção e exportação de proteínas, mas precisa ser mais duro com parceiros.

O setor de proteínas esteve reunido nesta quarta-feira (10) para discutir como o Brasil poderá aumentar a capacidade de produção para atender a demanda mundial futura de alimentos.

Durante o seminário Horizons, realizada em Atibaia (SP), entidades e produtores apontaram o potencial que o país ainda tem para ser explorado.

Algumas das mudanças devem vir de dentro da porteira. Outras, como escoamento de produtos e um foco maior do governo na política comercial no exterior, já estão fora do alcance dos produtores.

Roberto Jank, da Agrindus, produtora de leite, diz que o setor tem de ser mais intensivo e usar mais e melhor os recursos finitos.

O modelo de produção não é prioritário, mas o produtor tem de mostrar que consegue fazer. Afinal, o maior custo na pecuária é o das oportunidades, diz ele.

A intensificação de produção no setor poderia liberar pelo menos 20 milhões de hectares de terra já aberta para a sociedade.

Jank destaca que a produção brasileira cresceu muito nas últimas décadas, mas ainda tem um longo caminho a percorrer. De 1974 a 2016, o Brasil avançou 374% no setor de leite. A média mundial do período é de 71%.

Para Francisco Turra, da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal), o status sanitário do Brasil é um trunfo, e o país tem condições de oferecer um produto diferenciado ao mercado externo.

"Precisamos, porém, de um governo forte e que veja o mercado externo como uma via dupla". O país se curva demais perante outros parceiros, o que dificulta as negociações, segundo o executivo da ABPA.

Um setor que ainda tem muito a crescer é o da piscicultura, mas também encontra os mesmos gargalos das demais proteínas. Os problemas vão de licenciamento a escoamento de produtos.

A avaliação é de Ricardo Neukirchner, da Peixe BR, entidade que reúne produtores do setor. Para ele, o país tem água e diversidade de espécies. Além de ser uma atividade sustentável, "a piscicultura é uma máquina de conversão alimentar", diz. A cada 1,2 quilo de ração, o produtor consegue 1 kg de carne.

A produção brasileira de peixe é de 692 mil toneladas por ano, mas o país tem capacidade de produção de 3 milhões de toneladas, se aprovados os projetos submetidos ao governo.

Antonio Camardelli, da Abiec (Associação Brasileira das Industrias Exportadoras de Carnes), afirma que, para continuar suprindo o mundo com produto brasileiro, não basta apenas aumentar a produtividade, mas é preciso estruturar melhor o sistema de escoamento.

O executivo da Abiec concorda com Turra de que o Brasil precisa ter um viés mais comercial no governo. A carne bovina brasileira está fora de 40% dos mercados que melhor remuneram a proteína, diz ele (Folha de S.Paulo, 11/10/18)