19/12/2025

A farsa da saída triunfal de Haddad que agora quer ser aplaudido

A farsa da saída triunfal de Haddad que agora quer ser aplaudido

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Foto: Wilton Junior/Estadão

 

Por Rogério Werneck

 

Alguém acredita que, reeleito, Lula estaria disposto a adotar uma política econômica menos irresponsável do que a que vem sendo conduzida por Haddad?

 

Embora o governo continue a conduzir o País como se não houvesse amanhã, numa farra fiscal sem fim, há sinais de otimismo neste apagar das luzes de 2025. Dissemina-se a expectativa de que o desfecho da eleição presidencial torne, afinal, crível uma mudança do regime fiscal a partir de 2027.

 

Farra fiscal é assim mesmo. De início, as notícias são todas boas, a começar pela expansão da economia. E a verdade é que, desta vez, a farra fiscal pôde ser mais longa do que costumava ser, porque, por sorte, o País agora conta com um Banco Central independente, que tem sido crucial para impedir um descarrilamento rápido e desastroso da economia, como o que se viu há dez anos, ao fim do mandato e meio de Dilma Rousseff.

 

Mas a que custo? A taxa básica de juros teve de ser elevada, já há meses, a nada menos que 15% ao ano. E, mesmo assim, a expansão da demanda acima do que comporta a economia tem redundado em franca deterioração das contas externas. Ajudado, contudo, por um ambiente mundial deflacionado e pela apreciação do dólar, o Banco Central, a duras penas, vem conseguindo trazer a inflação de volta à meta.

 

O que continua alarmante, não obstante a carga tributária recorde, é o quadro fiscal. Sem apoio parlamentar, o governo logrou agora renovar pelo quarto e último ano de mandato seu pacto de irresponsabilidade fiscal com o Congresso. Dois terços das emendas parlamentares serão pagas até meados do ano que vem.

 

Em troca, o Congresso permitiu que a condução da política fiscal deixasse de lado o centro da meta fiscal pífia que consta da LDO, e busque atingir não mais do que o limite de tolerância inferior da meta. Na prática, isso acabará permitindo ao governo atravessar seu último ano de mandato ainda sem gerar superávit primário, mesmo com indecorosa exclusão de todo tipo de dispêndio do cômputo do gasto primário.

 

Com tamanha irresponsabilidade fiscal, o endividamento público vem aumentando de forma assustadora, a três pontos porcentuais do PIB a cada ano. Doze pontos num só mandato. Uma farra fiscal colossal.

 

O que mais espanta é que, tendo tido desempenho tão desastroso, o ministro da Fazenda, imbuído de delirante sensação de dever cumprido, pretenda agora encenar uma saída triunfal do cargo para “pensar o programa de governo” do Lula 4.

 

Alguém acredita mesmo que, reeleito e empossado no ano em que completará 82 anos, Lula estaria disposto a adotar uma política econômica menos irresponsável do que a que, sob sua batuta, vem sendo conduzida por Haddad há três anos?

 

Bom 2026 para todos! (Rogério Werneck, economista, doutor pela Universidade Harvard e professor da PUC-Rio

Estadão, 19/12/25)