A pizza de R$ 12 bilhões servida pelo Judiciário – Por Paula Sousa

A pizza de R$ 12 bilhões servida pelo Judiciário – Por Paula Sousa
01/12/2025

Charge Reprodução Blog Jusbrasil

 

Em um país onde a previsibilidade é a única instituição que realmente funciona, a notícia da soltura de Daniel Vorcaro, o dono do Banco Master, e de seus demais executivos, veio apenas para confirmar que a "Justiça" brasileira tem um paladar bastante peculiar: adora pizza. Mas não uma pizza simples. Estamos falando de uma iguaria caríssima, temperada com R$ 12 bilhões em supostas fraudes e servida no salão nobre do Supremo Tribunal Federal.

 

Enquanto uma parte barulhenta do País vibra com a perseguição implacável contra Jair Bolsonaro, mesmo cercado de acusações sem provas, é pintado como a encarnação do mal  – a fina-flor do nosso sistema financeiro, desfruta do conforto de suas mansões com um singelo acessório no tornozelo. Ah, a doce ironia do direito penal de castas.

 

O poder do Q.I. (Quem Indica)

 

O Brasil, sabemos, é a terra do "jeitinho". E a maior de nossas instituições é o QI – Quem Indica. Não se trata de quociente de inteligência, mas sim de quem tem a agenda de contatos mais recheada. O QI decide quem vai para a cadeia e quem vai para casa tomar um vinho, que, segundo as más línguas (ou seriam as línguas da imprensa?), custa mais do que o salário de um aposentado por décadas.

 

Vorcaro, o banqueiro que, segundo as investigações, preparava-se para "esticar as pernas" em Dubai – um destino clássico para quem só queria comprar um souvenir – teve sua prisão preventiva revogada. Por quê? Porque, para a alta roda, basta entregar o passaporte e colocar uma tornozeleira eletrônica, esse elegante bracelete de pulso para os pés.

 

Comparar essa complacência com o rigor aplicado a adversários políticos é um exercício de cinismo compulsório. Aos amigos do poder, medidas cautelares leves como uma brisa de verão. Aos que tiveram a coragem de encarar o “sistema”, o rigor da lei, a caneta implacável e a narrativa de que o risco de fuga é sempre iminente, mesmo para quem retornou voluntariamente ao País. É a comprovação de que o perigo reside menos no ato de fraudar e mais na falta de um bom lobby em Brasília.

 

A viagem ao STF: Onde tudo se anula

 

O ápice dessa tragicomédia judicial é o destino final do processo: o STF. A defesa do banqueiro, alegou que a Justiça Federal não era competente para o caso. Você já ouviu essa música antes? Sim, é o velho e bom artifício de anular tudo, de "zerar o placar" – não o placar do crime, mas o placar da investigação. Como foi no caso do Lula.

 

O caso foi parar nas mãos de ninguém menos que o ministro Dias Toffoli. Durma-se com um barulho desses! Toffoli, o amigo do amigo do meu pai, o "editor" da nação, aquele que tem o poder de pegar uma lanterninha de "Homens de Preto" e fazer todos esquecerem o que foi a Lava-Jato no Brasil e até no Peru (sim, ele soterrou a Lava-Jato continental, um verdadeiro geólogo judicial).

 

A partir de agora, o que podemos esperar? O script é mais previsível que final de série ruim da Netflix:

 

  1. A soltura prévia: A desembargadora do TRF-1, em um ato de extrema cortesia, solta a turma antes de mandar o caso para o STF. Uma gentileza republicana: "Soltem o rapaz, ministro, para não ficar feio para o Supremo!"

 

  1. O "sorteio" divino: O processo cai nas mãos do relator mais improvável e, ao mesmo tempo, mais esperado.

 

  1. A anulação em massa: Em breve, o STF deve reconhecer a "incompetência" da Justiça Federal, invalidando todos os atos do juiz que ousou investigar a elite financeira. R$ 12 bilhões de fraude? Que fraude? Isso é só um erro de CEP processual!

 

  1. A prescrição: Depois de anular tudo e mandar o processo para um juiz amigo recomeçar do zero, a lentidão da máquina judicial fará seu trabalho mais eficiente, garantindo que tudo termine em pizza, antes que o prazo de validade da investigação expire.

 

A corrupção "autorizada" e a tragédia dos aposentados

 

Essa farra judicial não seria completa sem uma dose de escárnio social. O Banco Master é citado por ter envolvido o dinheiro dos aposentados da Rio Previdência. O que acontece com os velhinhos que perderam suas economias? Nada.

 

Eles que se virem. O importante é o banqueiro estar solto para desfrutar de seu vinho de R$ 10 mil e seguir com seus "dias duros pela frente", que, no jargão do QI, significa ter que contratar mais advogados de renome – incluindo a esposa de um ministro do STF e ex-ministros influentes.

 

O brasileiro que "fez o L", autorizou a corrupção. O raciocínio é imbatível na sua simplicidade cínica: se você elege quem já foi condenado, você carimba a autorização para a ladroagem da sua turma. É um salvo-conduto moral para o crime do colarinho branco. O banqueiro Daniel Vorcaro não é um criminoso; é apenas um ladrãozinho da turma, um "inocente" que só roubou dinheiro, mas que tem o selo de qualidade do alto escalão.

 

A hipocrisia no Brasil não é um defeito; é a viga mestra do sistema. Enquanto cidadãos comuns são tratados com o rigor da lei por delitos menores, o “amigo do amigo do meu pai” tem a liberdade concedida em tempo recorde, com direito a reconsideração da desembargadora após o quarto pedido. A persistência é a chave para o sucesso, principalmente quando você pode contratar a elite da advocacia brasileira.

 

Em breve, é provável que o governo seja condenado a indenizar o banqueiro por tê-lo prendido "injustamente". Tão previsível quanto o nascer do sol, a impunidade da elite é a única certeza que resta para o cidadão comum, que paga a conta do vinho caríssimo e da pizza bilionária. É o Brasil, o País onde a lei não é para todos, mas apenas para quem não tem um bom padrinho. (Paula Sousa é Historiadora, professora e articulista; 1/12/2025)