27/11/2025

A vaga do STF que virou um bilhete Premiado – Por Paula Sousa

A vaga do STF que virou um bilhete Premiado – Por Paula Sousa

Hugo Motta , Davi Alcolumbre e Lula Foto Reprodução Fabio Rodrigues Pozzebon-Agência Brasil

 

A política brasileira é um espetáculo que nunca para, e nos últimos dias, o Planalto se transformou em cenário de um drama oculto. Por um lado, o presidente Lula. Por outro lado, o Congresso, fortemente armado e preparado para o confronto. No meio dessa disputa acirrada, encontra-se o bilhete premiado mais desejado de Brasília: um lugar no Supremo Tribunal Federal.

 

O que começou como uma simples indicação para a cadeira deixada pelo ministro Barroso evoluiu para uma "crise sem precedentes", evidenciando a ferida mais profunda do governo atual e, principalmente, revelando um ponto de conflito que pode ser uma grande chance para a direita se reestruturar e focar nas eleições de 2026.

 

O vácuo no Planalto

 

O primeiro sinal de que a coisa estava feia veio de uma ausência barulhenta. Uma importante cerimônia no Palácio do Planalto, marcada com antecedência para a sanção da lei que isenta de Imposto de Renda quem ganha até R$ 5 mil — um tema crucial para o governo —, foi solenemente ignorada.

 

Os protagonistas que deveriam estar lá, ao lado de Lula, eram o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, e o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta. As manchetes estamparam a vergonha: “Presidentes da Câmara e do Senado ignoram convite: gesto aprofunda desgaste com o Planalto.” Ambos faltaram. Pior: não deram sequer uma explicação protocolar para a ausência.

 

Esse gesto não foi um pequeno erro de agenda; foi uma declaração de guerra, uma mensagem clara de que o alvo era o próprio Lula.

E o motivo da briga? A dança das cadeiras no STF.

 

A indicação azarada e o favorito do Centrão

 

Quando o nome de Jorge Messias, então Advogado-Geral da União (AGU), foi anunciado como o indicado de Lula para a vaga no STF, a reação no Congresso foi indigesta, principalmente no Centrão e no MDB.

 

O que se sussurrava nos corredores era que havia um "combinado" para que a vaga fosse para Rodrigo Pacheco, ex-presidente do Senado, conhecido justamente por ter segurado inúmeros pedidos de impeachment contra ministros do STF, principalmente durante o governo Bolsonaro.

 

Agora tudo se encaixa: o Centrão, liderado por Alcolumbre, quer Pacheco. E por que tanto empenho? Porque Pacheco mostrou ser um guardião do status quo judicial, alguém que não incomoda a cúpula do Judiciário e que pode ser útil para quem negocia nos altos escalões.

 

A indicação de Messias, portanto, foi um tiro no pé: violou um acordo tácito e colocou Alcolumbre em confronto direto com o Planalto.

Tanto Lula quanto Alcolumbre querem seus aliados mais próximos no STF para proteger seus próprios interesses — não os do país.

 

A "arapuca" do dia 10

 

Ao contrário do que muitos esperavam, Alcolumbre não reagiu de forma evasiva. Ao contrário. Alcolumbre correu para agendar a sabatina de Messias para o dia 10 de dezembro, um prazo extremamente curto.

 

Qual a lógica disso? Se Messias fosse um nome forte e querido, Alcolumbre o seguraria, dando tempo ao indicado para "fazer o beija-mão" e negociar votos, fazendo alianças e prometendo mundos e fundos.

 

Mas Alcolumbre fez o oposto: ele encurtou o prazo. A estratégia é clara: levar Messias à votação antes do recesso, quando ele não terá tempo de articular os 41 votos necessários para sua aprovação. O objetivo não é aprovar Messias, mas derrubá-lo.

 

Essa é a jogada do Senado, montar um calendário "dramático", como definiram os aliados de Lula. Messias tem que correr contra o tempo para convencer 41 senadores de que ele é um bom nome, uma missão quase impossível.

 

O dinheirinho da galera: O medo do "Novo Dino"

 

O verdadeiro motor da resistência do Centrão, tem menos a ver com a toga e mais a ver com o bolso. Messias está sendo visto como um "Novo Dino" no Senado. Por quê?

Flávio Dino, ao assumir sua vaga, logo se indispôs com setores do Congresso ao barrar emendas parlamentares — aquele dinheiro que os deputados e senadores usam em suas bases, azeitando a máquina fisiológica. Tirar o dinheiro dos congressistas é o pecado capital em Brasília, o único tabu que realmente não pode ser quebrado.

 

O receio é que Messias, por ser muito próximo de Lula, atue na mesma linha, controlando e barrando emendas. Como dizem as análises: "Messias é visto como risco a emendas por setores do Senado." Para a ala fisiológica, que só se move por verbas, o risco de ter mais um Ministro do STF mexendo no "dinheirinho da galera" é inaceitável.

 

Essa é a prova cabal de que, na maioria das vezes, o que move a política e as votações cruciais em nosso país não é a ideologia ou a justiça, mas a mera e simples negociação de verbas e cargos. O MDB, um partido clássico dessa ala fisiológica e com muitas cadeiras no Senado, já liga o alerta, inclinando-se a votar contra Messias e, talvez, empurrar um nome próprio: Bruno Dantas, do TCU. Ou seja, o caos só aumenta.

 

A intervenção sombria: Moraes entra em campo

 

A cereja do bolo neste cenário de terra arrasada é o apoio mais inusitado (e preocupante) de todos: o do “imperador” Alexandre de Moraes.

Em um movimento que o isola no STF (já que outros ministros acham que, uma vez feita a indicação, ela deve ser respeitada), Moraes apoia Alcolumbre na articulação para derrubar Messias.

 

Isso confirma o que já se suspeitava: a briga não é só entre Planalto e Congresso, mas envolve uma aliança velada entre a cúpula do Senado e a cúpula do STF. Eles querem Pacheco, e fazem um esforço concentrado para garantir que o indicado de Lula seja recusado. Por que Pacheco? O motivo é óbvio: Pacheco já demonstrou ser um escudo contra a fiscalização do Judiciário (segurando impeachments). Moraes ao lado de Alcolumbre expõe o nível de coordenação e interesse do Judiciário nas indicações do Legislativo.

 

O Lula se indispôs com a cúpula do Congresso (Alcolumbre e Motta) e de tabela com o homem mais poderoso do Judiciário, Alexandre de Moraes.

 

O caos é a nossa oportunidade

 

Todo esse pandemônio — o Planalto esvaziado, o presidente isolado, o Congresso em revolta, o STF intervindo ativamente na política de indicações — pode parecer uma notícia ruim para o país, mas é, na verdade, uma oportunidade de ouro para a direita brasileira.

Aqui está o porquê:

 

  1. Exposição da fisiologia: A guerra das emendas (o "dinheirinho") deixa claro para o eleitor de que a política no topo se resume a trocas e verbas. Isso reforça a necessidade de políticos que atuem pelo povo, e não por barganha. O fracasso de Lula em negociar com essa ala, embora taticamente ruim para ele, expõe as entranhas do sistema.

 

  1. O fim da neutralidade judicial: O apoio declarado de Moraes à articulação de Alcolumbre contra o nome do presidente Lula expõe o poder desproporcional do STF. Não se trata apenas de uma briga entre poderes, mas de uma intervenção direta do Judiciário no processo de nomeação, algo que jamais deveria ocorrer.

 

  1. A prova de 2026: A direita tem, neste momento, a prova cabal da urgência em elegermos, em 2026, uma bancada forte e comprometida de senadores. O foco não pode ser apenas o Executivo; o Senado é o poder de freio contra o ativismo judicial. É no Senado que nomes são aprovados, é lá que abusos devem ser contidos, e é lá que o STF precisa ser "colocado no seu devido lugar".

 

A briga do Lula com Alcolumbre e, por tabela, com Moraes, transformou a vaga do STF em um manifesto eleitoral. Se Messias for barrado, a crise se aprofunda, forçando Lula a uma terceira, e talvez mais desastrosa, indicação. Se ele for aprovado por pouco, Lula mostra fraqueza.

Em qualquer cenário, o resultado é o mesmo: a fragilidade do governo e a politização do Judiciário são escancaradas. A direita ganha tempo e material farto para mostrar ao eleitor que o problema de fato está na falta de freios e contrapesos eficazes, e que a solução passa, obrigatoriamente, por uma reforma do Senado em 2026.

 

Não podemos nos distrair. Enquanto o Planalto se engasga com a crise, nossa missão é simples: usar este caos como combustível. Precisamos de senadores de direita, com coragem e compromisso de limitar os excessos e abusos do ativismo judicial.

 

Que venha o dia 10 de dezembro. E que o caos em Brasília seja a nossa grande chance de vitória nas urnas.

 

O prazo é curto para Messias, mas o tempo é perfeito para a direita começar a se articular de olho no futuro. (Paula Sousa é historiadora, professora e articulista; 27/11/2025)