27/05/2024

Açúcar: Momento de reflexão: Onde foi que eu errei?

Açúcar: Momento de reflexão: Onde foi que eu errei?

Por Arnaldo Luiz Corrêa

A semana foi relativamente calma, provavelmente devido aos feriados. Na segunda-feira, 27 de maio, os Estados Unidos comemoraram o Memorial Day, homenageando os militares que morreram em combate. No Brasil, teremos o feriado de Corpus Christi na próxima quinta-feira. Portanto, esta é uma boa oportunidade para revisar estratégias e refletir: “onde foi que eu errei?”. Analisar cuidadosamente os pontos em que as expectativas não foram atendidas nos permite identificar falhas, ajustar abordagens e evitar os memos erros no futuro.

Na sexta-feira, em Nova York, o contrato de vencimento julho-24 fechou cotado a 18,45 centavos de dólar por libra-peso, uma alta de 35 pontos em relação ao fechamento da semana passada. Os contratos para os demais meses, até março-27, fecharam com variação entre estável e seis dólares por tonelada de ganho. Segundo o relatório COT (Commitment of Traders), divulgado na sexta-feira com base na posição de terça-feira passada, os fundos aumentaram ligeiramente suas posições vendidas, totalizando pouco mais de 84.000 lotes.

Confesso que fiquei ligeiramente mais construtivo quando percebo que apesar de adicionarem 12,000 contratos no seu portfólio, a queda (de terça a terça) foi de apenas 31 pontos, podendo indicar que o mercado encontra interessados na compra quando se aproxima dos 18 centavos de dólar por libra-peso.  De qualquer forma, o volume de negócios na semana foi sofrível. Mas, há de se ressaltar que os fundos nunca estiveram tão vendidos nos últimos quatro anos.

Como até as pedras sabem, o mercado de açúcar vai viver em função do clima. Esse é o principal vetor de preços, pelo menos no campo dos fundamentos. Quanto ao imponderável, evidentemente ninguém sabe. O mercado de petróleo está tão carregado de estoque que, em outros tempos, uma fatalidade como a recente morte do presidente do Irã num acidente de helicóptero, traria enorme volatilidade ao mercado apenas pela percepção de problemas políticos numa área já naturalmente conflituosa e complicada. E o que fez o mercado de petróleo com a notícia? Nada, absolutamente nada.

Foi uma boa semana para as softs: todas subiram. Até o cacau, que protagonizou o famoso “repique do gato morto” – depois de despencar, deu uma leve levantada ao bater no chão. Alguém me perguntou por que falo de cacau em um comentário sobre açúcar. Ora, meu caro, tudo está interligado. O que aconteceu com o cacau segue a mesma cartilha do açúcar no ano passado, com narrativas parecidas. Tanto cacau quanto café tiveram uma alta abrupta de preços seguida por uma queda rápida. Já mencionamos aqui que os fundos estão numa posição de vulnerabilidade. Deixe-me explicar.

Ficar vendido a descoberto em NY ao nível de 18 centavos de dólar por libra-peso é preocupante. Especialmente porque 18 centavos são o novo 14 – aquele nível psicológico onde o mercado parecia encontrar suporte. Só que o custo de produção no Brasil subiu depois do conflito Rússia x Ucrânia, e hoje está entre 15,50 e 16,00 centavos de dólar por libra-peso FOB Santos equivalente. “Ainda tem margem”, dirão alguns, mas o etanol está negociando abaixo do custo para a maioria das usinas. Assim, uma coisa compensa a outra.

Da mesma forma que exortávamos as usinas a fixarem a venda dos seus açúcares de exportação quando os preços em NY negociavam equivalente aos – hoje saudosos – 2,800 reais por tonelada, hoje acreditamos que o mercado está dando enorme oportunidade aos consumidores industriais de açúcar a fixar sua matéria prima em centavos de dólar por libra-peso para a 25/26 e 26/27, cujos preços médios com base no fechamento de sexta-feira eram respectivamente 18.33 e 18.13 centavos de dólar por libra-peso. Acredito ser difícil, em especial se analisarmos os fundamentos para os próximos anos, que o mercado consiga permanecer nesse nível por longo período, nível que basicamente afasta a Índia e Tailândia do mercado internacional.

Nosso analista Marcelo Moreira fala sobre a parte técnica: “mais uma semana com o Jul-24 pressionado, porém conseguindo respeitar os 18centavos de dólar por libra-peso (mínima da semana foi 18.03 centavos de dólar por libra-peso). Após uma leve reversão na sexta feira e encerrar a 18.41 centavos de dólar por libra-peso, o Jul-24 encontra próximas resistências a 18.46/20.12/20.97 centavos de dólar por libra-peso. Já suportes relevantes a 18.00 e 17.52 centavos de dólar por libra-peso. Atenção, se romper os 17.50 centavos de dólar por libra-peso os 16.00 centavos continuam como um “objetivo” no curto prazo.”

Sobre o comentário da semana passada, um executivo com larga experiência no mundo das commodities observou: “lendo seu artigo desta semana fiquei refletindo se o trader que dormiu é diferente dos que ficaram acordados. Essa sensação de responsabilidade sobre a posição me parece que está se esvaindo nas relações do trader com as instituições. O que vemos no mercado parece mais uma tragicomédia do que ações e reações estudadas e bem conduzidas”. E dois leitores reclamaram da minha comparação do Lula com o faraó Ramses II, “por favor não ofenda Ramsés II novamente!”

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