11/03/2019

Agricultura mais produtiva – Editorial O Estado de S.Paulo

Agricultura mais produtiva – Editorial O Estado de S.Paulo

Entre 1975 e 2017, a produção brasileira de grãos passou de 40,6 milhões de toneladas para 237,8 milhões de toneladas, o que corresponde a um aumento de 486% em 42 anos.

Acompanhando a notável expansão da produção agrícola nas últimas décadas – num período de pouco mais de 40 anos, a produção de grãos cresceu quase seis vezes –, a produtividade da agropecuária brasileira aumentou em média 3,43% ao ano. Em período mais recente, o crescimento da produtividade alcançou 3,8% ao ano, bem acima do registrado pela agricultura norte-americana, sempre mencionada como exemplo de eficiência, que foi de 1,38% ao ano no período considerado.

Um conjunto de fatores impulsionou a modernização e os ganhos da agropecuária. Entre eles estão a disponibilidade de crédito, o aumento de investimentos, a adoção de novos sistemas de produção, a abertura de mercados no exterior para a produção nacional e a adoção de políticas adequadas para o setor, como destaca o estudo Produtividade da Agricultura Brasileira – Algumas Atualizações, elaborado pela Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

Entre 1975 e 2017, a produção brasileira de grãos passou de 40,6 milhões de toneladas para 237,8 milhões de toneladas, o que corresponde a um aumento de 486% em 42 anos. Além desse expressivo ganho da produção, teve forte contribuição para a melhoria da renda dos produtores a diversificação dos produtos, com a inclusão de itens de maior valor agregado. Entre estes, o estudo do Mapa menciona carnes, frutas, produtos do setor sucroalcooleiro e grãos.

A produção de carne bovina, por exemplo, passou de 1,8 milhão para 7,7 milhões de toneladas; a de carne suína, de 500 mil para 3,8 milhões de toneladas; e a de frango, de 373 mil para 13,6 milhões de toneladas. Além de melhorar a renda do campo, essa diversificação também contribuiu para aumentar a produtividade.

O período abrangido pelo estudo começa num ano que boa parte dos produtores de dois dos principais Estados agrícolas, como Paraná e São Paulo, não esquece. Foi o ano da segunda pior geada registrada nesses Estados (a pior ocorreu em junho de 1918). Em julho de 1975, a geada negra – muito mais danosa do que a branca, pois queima também a seiva da planta – prejudicou duramente as plantações de café em São Paulo e praticamente dizimou as do Paraná. Especialmente neste Estado, o resultado foi uma diversificação forçada da produção e a busca de novas áreas e culturas para o plantio. Isso pode ter contribuído para intensificar a diversificação que já estava em curso.

Há uma expressiva mudança no peso dos diferentes produtos na composição da produção agrícola. No período considerado, aumentou de maneira acentuada a quantidade produzida e melhorou a qualidade de produtos como soja, milho, cana-de-açúcar, laranja, uva, tomate e leite, entre outros.

Dos fatores que influem na produtividade, o estudo do Mapa considera o pessoal ocupado, a terra e três itens que compõem o capital (tratores, fertilizantes e defensivos). Uma das características da evolução da agricultura brasileira nas últimas décadas é a forte tendência de redução do pessoal ocupado e da área plantada. Entre 1985 e 2017, a agricultura dispensou o trabalho de 8,4 milhões de pessoas. O resultado é o aumento expressivo da produtividade desses dois fatores. O crescimento anual da produtividade do trabalho aferido pelo estudo do Mapa foi de 4,23% ao ano, e o da terra, de 3,83% ao ano no período considerado. Produz-se mais com menos gente e menos terra.

Observe-se que, além da diminuição do pessoal ocupado, também deve ter contribuído e de maneira expressiva para o aumento da produtividade do fator trabalho a melhoria da qualificação do pessoal ocupado na agricultura. Profissionais mais preparados são necessários para a utilização mais intensa de equipamentos como tratores e colheitadeiras, que igualmente contribuem para elevar a eficiência da agricultura. O crescimento da produtividade de dois itens que compõem o índice de capital, defensivos e fertilizantes, deve-se não tanto ao aumento da quantidade desses fatores, mas à melhoria da qualidade dos insumos, diz o estudo (O Estado de S.Paulo, 9/3/19)