23/03/2020

Agronegócio fica com 17% do socorro de bancos públicos na pandemia

Agronegócio fica com 17% do socorro de bancos públicos na pandemia

Legenda: Produtores observam máquina agrícola na Agrishow de 2019, em Ribeirão Preto (SP). A edição deste ano da feira foi suspensa

 

Caixa e BB destinam R$ 178 bilhões para socorrer a economia na crise causada pelo coronavírus.

Responsável por segurar o saldo do comércio exterior e com participação relevante no PIB, o setor agrícola vai ficar com pouco menos de 17% do crédito novo anunciado até agora pelos bancos públicos como medida de socorro contra a crise do coronavírus.

Caixa Econômica e Banco do Brasil ampliaram suas linhas em R$ 178 bilhões. Créditos para o agronegócio somam R$ 30 bilhões, 16,9% do total.

A maior fatia vai ficar com as empresas, que terão acesso a R$ 88 bilhões (49,4%). Outros R$ 30 bilhões estão disponíveis para compra de carteiras de bancos pequenos e médios.

Há ainda R$ 24 bilhões (13,4%) para pessoas físicas e R$ 6 bilhões (3,4%) para hospitais, estados e municípios.

Diante da avaliação de que cada área do agronegócio será impactada de uma forma distinta pelo choque econômico da pandemia, representantes do setor se organizam para apresentar uma lista de demandas ao governo. As negociações devem ser focadas em ampliação do crédito para capital de giro, adiamento de parcelas de dívidas e alongamento de prazos dos débitos.

Do total liberado nas últimas semanas para o agro, R$ 25 bilhões vêm do Banco do Brasil, e R$ 5 bilhões, da Caixa.

Nos bastidores, a cúpula da Caixa não avalia disputar o mercado com o BB, líder na área, e ainda não considera futura ampliação dessas linhas. O foco será dado às micro e pequenas empresas.

O agronegócio tem acesso a linhas de crédito com condições diferentes, características específicas e prazos vinculados às safras, mas não há impedimento de que capte em condições normais, o que não costuma ser vantajoso.

O superintendente técnico da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) Bruno Lucchi diz ser cedo para estimar os impactos da crise. Ressalta, porém, que os cortes nas projeções de avanço da economia mundial e do Brasil vão atingir o setor e que algumas áreas sentirão os efeitos com maior intensidade.

É o caso dos produtores de flores, que verão suas vendas desabarem sem o movimento das datas comemorativas, e de frutos do mar, que perdem grande parte das vendas com o fechamento de restaurantes.

O técnico diz que dificuldades com mão de obra já são sentidas nas áreas de processamento, especialmente em frigoríficos e laticínios, que fecharam unidades, reduziram turnos e concederam férias coletivas.

Para mitigar efeitos da crise, a CNA vai apresentar demandas ao governo nesta próxima semana.

“Em algumas, só prorrogar parcelas. Outros setores precisam de mais crédito. É preciso ações para alguns setores terem fôlego e aguentarem o período sem vendas.”

 

Ressaltando a importância da manutenção do abastecimento de alimentos, Lucchi considera que o setor segue com capacidade de produção e deve ser tratado com prioridade, assim como a área da saúde.

“O produtor vai continuar produzindo. Vamos trabalhar com o governo para que tudo chegue ao consumidor.”

Procurado, o Ministério da Agricultura não comentou.

Segundo a CNA, o agronegócio é responsável por 21% do PIB brasileiro. Historicamente, o setor ancora a balança comercial brasileira no azul. Anualmente, registra saldo positivo que segura o déficit de todos os outros setores.

No ano passado, o valor das exportações brasileiras nessa área foi de US$ 97 bilhões. China, União Europeia e Estados Unidos —os mais atingidos pelo coronavírus— são os três maiores compradores.

Segundo o vice-presidente de Agronegócios e Governo do BB, João Rabelo Júnior, o banco vai apresentar ações para simplificar a liberação do crédito. O objetivo é evitar que os clientes se locomovam às agências, ampliando a segurança contra a pandemia (Folha de S.Paulo, 22/3/20)