03/05/2021

Análise Ipea de preços para carnes, açúcar, café, soja, milho e trigo

Análise Ipea de preços para carnes, açúcar, café, soja, milho e trigo

Os preços de carnes devem se manter firmes durante o primeiro semestre de 2021, avalia o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Na nota de conjuntura sobre Mercados e Preços Agropecuários, divulgada ontem (29), e que será divulgada trimestralmente, o instituto cita a falta de animais, o alto custo de produção e as exportações como fatores de influência.

Para a carne bovina, o Ipea afirma que o ano deve ser difícil para quem trabalha com engorda de animais. "O menor volume de abate já observado ao longo de 2020 deve seguir no primeiro semestre de 2021", afirma no documento. No segundo semestre, a oferta de animais oriundos do confinamento vai depender dos preços de insumos e peças de reposição, que começaram o ano em patamares altos.

Pelo lado da demanda, segundo o instituto, frigoríficos relatam dificuldade de repassar ao consumidor os aumentos no preço da arroba do boi gordo, o que pode pressionar a arroba.

Já a carne de frango deve ter, no segundo trimestre, manutenção dos patamares de preço vistos no primeiro por causa dos altos custos com ração, em especial milho e farelo de soja. Outro motivo é a competitividade do frango ante as carnes bovina e suína. "O menor poder de compra da população tende a favorecer o consumo de proteínas mais baratas, como é o caso da carne de frango", diz o Ipea.

Quanto à carne suína, a expectativa é de aumento de preço no animal vivo, também por causa do custo de produção. As fortes exportações para a China - o país asiático tem dificuldades de recompor seu rebanho após a peste suína africana - também seguram os preços internos.

Açúcar 

A recuperação da economia global e o baixo volume de açúcar disponível da safra brasileira 2021/22 devem manter firmes os preços globais e nacionais do adoçante, projeta o Ipea. "À medida que as campanhas de vacinação ganham ritmo, particularmente nos Estados Unidos, na Europa e na China, as perspectivas quanto à recuperação da economia global parecem reforçar a sustentação dos preços externos do açúcar", diz documento da entidade. "Para a safra 2021/2022 - que se inicia oficialmente em abril de 2021 -, cerca de 70% do que será produzido no Centro-Sul já teve seus preços fixados no mercado internacional", completa o relatório.

A nota de conjuntura sobre Mercados e Preços Agropecuários diz, ainda, que o mix sucroenergético brasileiro deve se manter favorável ao adoçante com base na perspectiva do setor e nos contratos futuros. Entretanto, o fato de a safra 2021/22 provavelmente ser menor do que a anterior tanto em moagem quanto em ATR deve causar redução na oferta de açúcar e, assim, dar sustentação aos preços.

Café 

Os preços do café arábica devem ter forte oscilação nos próximos meses em decorrência da colheita da safra brasileira 2021/22, que deve começar no mês que vem, segundo o Ipea. "Ainda assim, são esperados preços acima do custo de produção aos produtores, fundamentados na previsão de menor produção e na possível reabertura das economias ao redor do mundo, com o avanço das campanhas de vacinação", diz a entidade em nota.

Um fator que deve ajudar a segurar as cotações é que boa parte do café da próxima safra foi vendida antecipadamente, portanto a colheita não significa, necessariamente, que o volume disponível no mercado terá grande aumento.

Soja

Além disso, a safra 2021/22 de café tem bienalidade negativa - ou seja, é esperada queda expressiva de produção ante a temporada anterior - e a falta de chuva em áreas produtoras pode tornar a oferta ainda menor.

- Os preços da soja no Brasil devem se manter em nível elevado, segundo análise do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). "A demanda internacional aquecida, que favorece as exportações americanas e brasileiras (os embarques de março foram os maiores da história) e as incertezas sobre a produção argentina devem manter os preços em patamar elevado no Brasil", diz o Ipea em nota de conjuntura sobre Mercados e Preços Agropecuários, que passará a ser publicada trimestralmente.

A pesquisadora associada do Ipea, Ana Cecília Kreter, afirmou que os estoques de passagem globais da oleaginosa estão relativamente baixos e que há um aumento na comercialização. "Existe demanda maior e os estoques estão baixos e devem permanecer baixos", disse ela ontem (29), durante o webinar.

Milho 

O Ipea fez também uma avaliação sobre o mercado de milho. Conforme o Instituto, se a segunda safra de milho, responsável por mais de dois terços da oferta brasileira do cereal, tiver problemas devido à seca, a tendência é de que os preços do grão se mantenham em patamares altos no País. "Apesar de a Conab prever recorde na produção, a seca pode impactar negativamente a produtividade da segunda safra, tendo em vista a restrição hídrica no Cerrado brasileiro a partir de maio e as baixas temperaturas no Sudeste, no Paraná e em Mato Grosso do Sul", diz o documento. "Se confirmado, esse ambiente contribui para a manutenção da tendência de alta dos preços."

Ana Cecília acrescentou que os estoques de passagem globais estão baixos - pela terceira safra consecutiva - e o consumo deve ser maior do que a produção, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).

De acordo com o Ipea, os altos preços no Brasil até o momento, mesmo com a colheita da primeira safra, se devem à relutância do produtor em vender por causa do atraso do plantio da safrinha e dos baixos estoques no primeiro semestre.

Trigo 

No mercado de trigo, os baixos estoques nesta entressafra devem sustentar os preços do grão no Brasil, mas os moinhos parecem estar suficientemente abastecidos para atender à baixa demanda por derivados, segundo perspectiva do Ipea. "Além disso, agentes estão acompanhando o crescimento nas áreas de produção da safra 2021-2022 na Argentina e nos Estados Unidos", informa a nota de conjuntura sobre Mercados e Preços Agropecuários da entidade.

Segundo o documento, as negociações de trigo no Brasil foram menos intensas no primeiro trimestre deste ano porque produtores estavam mais focados na colheita e armazenagem das safras de soja e milho. Isso colaborou para que o preço do trigo aumentasse durante o período de entressafra.

A pesquisadora associada do Ipea Ana Cecília Kreter destacou no evento que, no mundo, a China tem sustentado a demanda pelo trigo. "O estoque mundial aumentou em 6% porque a China busca formar estoques de reserva", disse ela