17/10/2019

Apoio à ciência básica permite ao Brasil avançar em inteligência artificial

Apoio à ciência básica permite ao Brasil avançar em inteligência artificial

A inteligência artificial tem avançado exponencialmente nos últimos anos e diversas aplicações práticas têm surgido em todo o mundo. O apoio à pesquisa e à formação de recursos humanos nessa área da Ciência da Computação nas últimas décadas permitirá ao Brasil, agora, avançar e até mesmo liderar inovações em setores como agropecuária e exploração de petróleo em alto-mar.

A avaliação foi feita por especialistas que participaram do lançamento do Centro de Pesquisa em Engenharia (CPE) em Inteligência Artificial, financiado pela FAPESP em parceria com a IBM. O evento foi realizado no dia 4 de outubro, durante o “IBM Research Brasil Colloquium 2019 – os caminhos para IA no Brasil”. Na ocasião, a Universidade de São Paulo (USP) foi anunciada como a instituição parceira e sede do novo CPE.

“Há uma base de pesquisa construída no Brasil nas últimas décadas e muitas empresas sabem que vão se beneficiar dos avanços nessa área, que tornou-se economicamente relevante nos últimos anos em razão do aumento da capacidade de processamento dos computadores”, avaliou Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP.

De acordo com Brito Cruz, a Fundação financia projetos sobre o tema desde a década de 1970. O primeiro a adotar o termo “inteligência artificial” data de 1975.

Desde então, já foram apoiados mais de 1.100 projetos sobre esse assunto e, nos últimos sete anos, sextuplicou o número de startups nessa área apoiadas pelo Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE).

“Esse é o papel que uma fundação pública deve desempenhar: apoiar novas ideias para ter um número suficiente de pesquisadores que dominam determinados temas e saibam como aplicá-los quando se tornarem relevantes, como foi o caso da inteligência artificial”, disse.

“Agora que esse tema tornou-se importante, é possível mobilizar pesquisadores que na década de 1980 tiveram apoio da FAPESP por meio de bolsas de iniciação científica ou de mestrado, por exemplo, e fazer parcerias em pesquisa com empresas como a IBM para criar centros de pesquisa nessa área”, acrescentou.

Um dos pesquisadores que receberam apoio da FAPESP para sua formação foi Fabio Gagliardi Cozman, diretor do novo CPE e professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP).

Por meio de projetos apoiados entre o final da década de 1990 e início de 2000, Cozman desenvolveu estudos sobre robôs autônomos e desenvolvimento de ferramentas computacionais para suporte e tomada de decisão na área médica, por exemplo.

“O Brasil tem hoje uma comunidade científica forte em inteligência artificial que pode fazer grandes contribuições em áreas nas quais o Brasil tem chance real de ser líder internacional ou já lidera de alguma forma. Agora, com o novo centro de pesquisa, podemos catalisar os esforços”, disse.

Eixos de pesquisa

Algumas das áreas de aplicações da inteligência artificial que o Brasil pode liderar são exploração autônoma de óleo e gás em alto-mar (offshore), agricultura digital – a criação de fazendas sustentáveis, geridas de forma autônoma – e doenças tropicais, avaliou Cozman.

Essas áreas estão inseridas nos eixos de pesquisa do novo centro – recursos naturais, agronegócio, meio ambiente, finanças e saúde –, que são os focos do laboratório de pesquisa da IBM no país.

“Como já temos dados de agricultura digital de praticamente todo o país, talvez possamos acelerar e criar uma nova geração de serviços para essa área. Mas o foco de pesquisa do centro não é estanque. Como terá duração de 10 anos, muita coisa pode mudar nesse período”, disse Ulisses Mello, diretor do Laboratório de Pesquisa da IBM Brasil.

Outro eixo de pesquisa transversal do centro será inteligência artificial e sociedade. Para cobrir esse tema, além de pesquisadores das áreas das Engenharias, Ciências da Computação, Matemática, Medicina e Agricultura, entre outras, o CPE terá a participação de pesquisadores das Ciências Humanas, de áreas como Ciências Políticas, Direito e Economia.

“Nosso objetivo é levar a pesquisa em inteligência artificial no país a um novo patamar, com o intuito de beneficiar a sociedade. Estamos interessados em discutir como essa tecnologia pode ser melhor aproveitada pela sociedade”, afirmou Cozman.

A expectativa é que os estudos feitos no âmbito do tema sobre inteligência artificial e sociedade possam contribuir para a regulamentação da área, como pretende um projeto de lei em tramitação no Senado.

“As pesquisas feitas no âmbito do CPE podem contribuir para que esse debate no Brasil aconteça de forma mais educada e organizada, de modo que o país possa elaborar uma legislação adequada sobre o assunto. Quando não se tem muito conhecimento sobre um determinado tema, em geral, são feitas legislações muito restritivas”, disse Brito Cruz.

Colaboração plena

O centro terá a participação de mais de 60 pesquisadores, de diversas unidades da USP e das universidades Estadual Paulista (Unesp) e Estadual de Campinas (Unicamp), Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Centro Universitário FEI e do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). As pesquisas serão feitas em estreita colaboração com os pesquisadores da IBM.

“Queremos colaboração plena, no sentido de colocar nossos pesquisadores junto com os das universidades participantes do consórcio, de modo a desenvolver projetos que sejam realmente em conjunto”, afirmou Mello.

“Isso permitirá unir as competências em pesquisa básica das universidades com as de aplicação da indústria, que enfrenta problemas reais no dia a dia. Há poucas colaborações em pesquisa entre universidade e empresa que funcionam dessa forma”, avaliou.

A pesquisa colaborativa plena entre universidades e empresas é justamente uma das principais missões dos CPEs, ressaltou Brito Cruz.

Algumas das exigências sobre o funcionamento do centro é que o diretor seja um pesquisador da universidade e o diretor-adjunto um pesquisador da empresa, que participe ativamente das decisões cotidianas.

“Não é uma pesquisa sob contrato, em que a empresa dá o recurso, esquece o assunto e, 10 anos depois, vai lá verificar os resultados. Os pesquisadores da universidade e da empresa vão fazer as descobertas e apresentar os resultados juntos”, afirmou Brito Cruz.

O CPE fará parte do Centro de Inovação Inova USP, localizado na Cidade Universitária, em São Paulo, e deverá iniciar as atividades em 2020.

Com financiamento de até 10 anos, FAPESP e IBM reservarão, cada uma, até US$ 500 mil anualmente para implementar o programa, que contará com avaliações periódicas. Já a USP, por sua vez, investirá até US$ 1 milhão por ano em instalações físicas, laboratórios, professores, técnicos e administradores para gerir a unidade, entre outros custos.

A definição do cronograma de construção do espaço e outros detalhes do projeto serão definidos em acordo previsto para ser assinado até o fim de 2019 (Agência Fapesp, 17/10/19)