25/10/2019

Após embate com EUA, China amplia leque de compras do agro brasileiro

Após embate com EUA, China amplia leque de compras do agro brasileiro

Em 2000, os chineses ficavam com apenas 4% dos alimentos exportados pelos brasileiros. Há uma década, esse percentual subiu para 17% e, nos nove primeiros meses deste ano, já atinge 34%.

Ainda bem que o presidente Jair Bolsonaro mudou de opinião. Ou, pelo menos, disfarça bem. Ao chegar à China nesta quinta (24), disse que o Brasil quer se inserir nas economias mundiais sem viés ideológico.

Nas palavras, é um presidente bem diferente do candidato nas eleições de 2018, quando deixou os chineses preocupados ao colocar em questão a relação entre os dois países.

O Bolsonaro da campanha seria ruim para o agronegócio de hoje, uma vez que a China subiu vários degraus em importância na agropecuária.

Importante importadora de soja, a China tem diversificado as compras no país. Carne, celulose, madeira, algodão e outros produtos agropecuários integram a lista chinesa.

  E essa dependência da China por produtos brasileiros vai continuar, se o Brasil não desperdiçar esse mercado.

Foi o que ocorreu com os americanos. Ao medirem forças com a China, os EUA viram as portas chinesas se fecharem para seus produtos agropecuários, os primeiros afetados na guerra comercial.

Isso exigiu intervenção bilionária do governo de Donald Trump no campo —o governo brasileiro não teria esse dinheiro. Mas os americanos não ficaram imunes —os preços das commodities recuaram e os estoques agrícolas atingiram patamares recorde.

Não parece que isso ocorrerá com o Brasil, que o governo tem aparado as arestas da campanha, exceto com a Venezuela, que lhe serve para descarregar a ira ideológica.

Há dez anos, as compras chinesas do agronegócio brasileiro somaram US$ 7,92 bilhões, com participação de 17% nas receitas obtidas no setor. Neste ano, são US$ 23 bilhões, com participação de 33%.

Esse fluxo comercial deverá aumentar. O crescimento anual de 5% a 6% da economia chinesa coloca mais renda no mercado, principalmente no setor de proteína animal.

Só neste ano, 75% das receitas obtidas pelo Brasil com a soja vieram da China. E isso deve aumentar, já que os chineses não têm área para expandir a produção, e a demanda, humana e animal, deve crescer.

A peste suína africana, doença devastadora e que atinge a suinocultura da China, quando eliminada, poderá elevar mais a demanda por soja.

O país também já é o principal destino das proteínas bovina e de frango do Brasil.

A China ainda tem impulsionado a celulose no Brasil, já que, com o avanço da economia, estão cada vez mais dependentes de matéria-prima para embalagens, papel e artigos de higiene.

As compras dos chineses também ajudaram o algodão brasileiro. Neste ano, eles já gastaram US$ 311 milhões em importações com o produto (Folha de S.Paulo, 25/10/19)