10/12/2025

B3 enquadra Raízen que avalia alternativas para deixar de ser penny stock

B3 enquadra Raízen que avalia alternativas para deixar de ser penny stock

 

Foto: Divulgação

 

Por Pasquale Augusto

 

Raízen informou nesta terça-feira (9) que a B3 solicitou que a companhia divulgue os procedimentos e o cronograma das medidas que serão adotadas para o reenquadramento da cotação ao valor mínimo exigido, cuja regularização deverá ocorrer até 29 de maio de 2026. As ações vêm sendo negociadas abaixo de R$ 1 desde 6 de outubro.

 

Segundo as regras da B3, uma ação só é considerada penny stock quando permanece abaixo de R$ 1 por ao menos 30 pregões seguidos. Isso pode levar a empresa a sofrer algumas sanções por parte da administradora da Bolsa brasileira, como a retirada de índices dos quais faz parte – incluindo o Ibovespa

 

“A Raízen esclarece que está avaliando as alternativas e adotará as medidas necessárias para promover tal reenquadramento dentro do prazo estipulado, levando em consideração a evolução da execução do seu plano de negócios”, disse, em comunicado.

 

Para evitar esse tipo de punição, empresas nessa situação podem optar por fazer um grupamento de ações, operação que reúne um grupo de ações para aumentar o preço unitário e tirá-las da faixa dos centavos.

 

UBS BB rebaixa Raízen  para venda e São Martinho para neutro

 

Na semana passada, o UBS BB reduziu as estimativas para todas as companhias do setor de açúcar e etanol em sua coberturaRaízen  caiu de neutro para venda e São Martinho (SMTO3) saiu de compra para neutro.

 

De acordo com relatório do banco, o setor de açúcar e de etanol passa por um momento de maior oferta do que demanda, pressionando o preço das commodities. Para os analistas do UBS BB, não há “nenhum fator que impulsione uma recuperação significativa do açúcar no curto prazo” (Money Times, 9/12/25)

 



Com queda do açúcar e tarifaço, usinas do Nordeste já falam em prejuízo

'Preço da tonelada de cana caiu de R$ 170 para R$ 129” José I. de Morais — Foto Wenderson Araujo-CNA

 

Indústrias da região sentem os efeitos das taxas dos EUA, mantidas para a commodity.

 

O setor sucroalcooleiro do Nordeste está enfrentando nesta safra 2025/26 diversos reveses, que passam por preços baixos do açúcar no mercado internacional, custos em alta, efeitos do tarifaço americano, que ainda atingem as exportações regionais da commodity, e um clima que pode reduzir a produção. Tanto usinas como produtores de cana já avaliam que podem ter prejuízos na temporada e defendem medidas de apoio do governo para amenizar a crise.

 

Em novembro, os preços do açúcar no mercado de Pernambuco foram 21% menores do que no mesmo período do ano passado, enquanto em Alagoas os valores recuaram 14%, de acordo com dados do Cepea/Esalq. Os valores acompanham os preços do açúcar vendido no mercado internacional, que já caíram 25% somente este ano, segundo o Valor Data.

 

Além disso, o Nordeste está sem a vantagem da comercialização com os Estados Unidos, uma vez que o açúcar não foi isento do tarifaço. Em geral, os americanos pagam quase duas vezes a mais que o preço internacional pelo açúcar nordestino, já que o país é deficitário no produto e concede uma cota ao Brasil, usufruída pelo Nordeste, isenta da tarifa setorial.

 

Porém, a tarifa de 50% imposta por Donald Trump praticamente interrompeu esse comércio. Desde outubro, quando começou a safra do Nordeste e também o ano-cota dos Estados Unidos, zarparam dos portos nordestinos apenas dois navios com açúcar rumo ao território americano, levando 60 mil toneladas no total, segundo dados compilados pela reportagem junto à agência marítima Williams.

 

O mercado de etanol tampouco ajuda. Os preços regionais apurados pelo Cepea/Esalq estão até em níveis ligeiramente acima dos registrados um ano atrás, mas a produção local dá prejuízo no momento, segundo análise da consultoria Pecege, de Piracicaba (SP).

 

Se for considerado apenas o custo caixa (sem considerar depreciação), a produção de etanol na média da maior parte do Nordeste já dá prejuízo de 8,2%, no caso do hidratado, e de 14,9%, no caso do anidro, segundo levantamento da consultoria com 15 usinas locais. A produção de açúcar VHP (bruto), para exportação, ainda tem em média margem positiva de 25,8% no Nordeste, enquanto o açúcar branco, mais voltado ao mercado interno, tem margem de 22,8%.

 

Os usineiros afirmam que os preços atuais não cobrem os custos de produção. “Ninguém está tendo lucro”, disse Renato Cunha, presidente do Sindaçúcar-PE.

 

Segundo Raphael Delloiagono, analista do Pecege, as chuvas mais intensas nos últimos meses tiveram efeito não só de atrasar a colheita e a moagem, mas também de dificultar o maior direcionamento da cana para a produção de açúcar, o que pode levar as usinas a terem um mix mais alcooleiro, ao contrário do que desejariam.

 

Mercado

 

O proprietário de uma usina na Paraíba, que pediu para não ser identificado, disse que terá margens apertadas neste ciclo, e que vai aumentar a produção do etanol porque acredita na melhora do preço do biocombustível até maio de 2026. Já para o açúcar, ele não enxerga mudanças na perspectiva de preços no curto prazo.

 

Para esse empresário, mesmo quem é eficiente sai prejudicado com os atuais preços. “O preço vai se ajustar, mas talvez no fim da próxima safra [2026/27]. O preço precisa reagir para não haver desestímulo à produção”, disse. Para ele, um valor ideal seria entre 17 e 18 centavos de dólar a libra-peso.

Quando as usinas do Centro-Sul iniciaram a moagem da safra de cana, em abril, as cotações ainda estavam maiores, e elas conseguiram fixar os preços com antecipação. Já as do Nordeste iniciaram a moagem entre agosto e setembro, quando os preços já estavam em queda, lembrou Delloiagono.

 

Se o ambiente de preços baixos já está espremendo as margens das usinas do Centro-Sul e levando muitas ao prejuízo, a situação é pior para as empresas do Nordeste, que têm uma estrutura de custos bem mais alta.

 

Entre as particularidades da região que encarecem a produção está a pior condição dos solos, mais exauridos após centenas de anos de cultivo de cana. Além disso, a colheita em geral ainda é manual, porque a declividade dos terrenos impede a mecanização, o que aumenta o custo fixo. Outro fator é que as indústrias são mais antigas do que as do Centro-Sul, e portanto menos eficientes.

 

Nas contas da consultoria Pecege, o custo agrícola da cana no Nordeste é hoje em média 25% maior do que o custo médio do Centro-Sul, enquanto o custo industrial da moagem e produção de açúcar e etanol nordestinos é, em média, 18% maior que o das usinas do Centro-Sul. Se todo o custo for calculado com base na produção de açúcar VHP, o custo médio do Nordeste por tonelada produzida é 27% maior do que no Centro-Sul.

 

Para os fornecedores de cana, o cenário também é negativo e começou a se agravar em agosto, disse José Inácio de Morais, presidente da Associação dos Plantadores de Cana da Paraíba (Asplan). À época, os produtores do Estado recebiam o equivalente a R$ 160 a tonelada, valor que ainda cobria os custos.

 

“O preço pago pela tonelada de cana caiu de R$ 170 para R$ 129, o que não cobre o nosso custo. Essa cota de importação [dos EUA] nos dava uma vantagem de R$ 10 a tonelada de cana, mas sem ela estamos na mesma paridade com o mercado em relação às demais regiões”, disse (Globo Rural, 9/12/25)