Bolsonaristas agem com discrição e impõem ‘apagão’ ao governo no Congresso
CPMI do INSS realiza reunião para instalação e eleição. Foto Saulo Cruz Agência Senado
Governistas sofreram derrota dupla na CPMI do INSS. Articulação da oposição também é vista como resposta à cúpula do Parlamento.
Governistas classificam esta quarta-feira (20) como um dos piores dias para a gestão Lula dentro do Congresso Nacional até hoje. Uma derrota dura e inesperada, no que chamaram de “apagão geral” do núcleo duro do presidente no Parlamento.
Por 17 votos a 14, a oposição emplacou o senador Carlos Viana (Podemos-MG), na presidência da CPMI do INSS. Ele então designou Alfredo Gaspar (União Brasil-AL), como relator. Ambos são ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Os preferidos do governo e dos presidentes do Senado e da Câmara ficaram a ver navios.
“Errou o governo e erraram os presidentes das Casas ao querer caminhar com um governo fragilizado, um governo que não tem base. [...] E fica provado quando tem inclusive o apoio dos presidentes do Senado e da Câmara, e não consegue aprovar sequer o presidente de uma CPMI”, disse Sóstenes Cavalcante (RJ), líder do PL na Câmara.
A oposição manteve o contra-ataque em sigilo até minutos antes da sessão da CPMI para pegar o governo desprevenido. Uma articulação discreta, com conversas nesta madrugada e a participação de parlamentares do Centrão.
A reviravolta é vista ainda como uma resposta a Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) e Hugo Motta (Republicanos-PB) por não avançarem com pleitos da oposição, como o impeachment do ministro do STF Alexandre de Moraes e a anistia a suspeitos de envolvimento na suposta tentativa de golpe de Estado. A cúpula do Congresso, por sua vez, busca jogar a culpa somente na conta do governo.
Aliados de Lula alegam terem sido surpreendidos com ausências de aliados e a substituição desses faltosos por suplentes do PL nas votações. Tudo, porém, foi feito conforme o regimento interno. A princípio, não há do que recorrer. Logo após a derrota, Gleisi Hoffmann, ministra responsável pela articulação entre Planalto e Congresso, convocou lideranças do PT para uma reunião de emergência. O tom foi duro, de cobranças.
Líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (PT-AP) fez uma mea culpa e disse que a base acreditava que a escolha de Davi Alcolumbre pelo senador Omar Aziz (PSD-AM) no comando da CPMI seria respeitada. Randolfe chegou a dizer que o cargo de líder está sempre à disposição de Lula, caso o presidente queira uma troca.
“O time entrou com salto alto, subestimou o adversário. O adversário teve capacidade de se articular, exerceu maioria e elegeu presidente”, afirmou Randolfe.
Em meio à crise, o deputado federal e ex-ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, Paulo Pimenta (PT-RS), foi escalado para coordenar a base de Lula dentro da comissão.
A preocupação do Planalto agora é que a oposição use a CPMI para tentar ajudar Jair Bolsonaro em meio ao julgamento no Supremo pela suposta tentativa de golpe. Até por isso, governistas já apresentaram pedido para convocar o próprio ex-presidente.
“A preocupação com essa CPMI é que ela vire circo, daqui a pouco vai virar moeda para tentar livrar o julgamento”, falou o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ).
Enquanto isso, o governo opta pelo discurso da soberania do parlamento e de que vai colaborar com os trabalhos.
“Como ministro da Previdência Social eu só desejo que o interesse público seja a prioridade dos trabalhos da CPMI e que o relatório seja um relatório equilibrado, com justiça e que seja um relatório que aponte a verdade dos fatos. Essa é a minha expectativa”, disse Wolney Queiroz, titular da Previdência (CNN Brasil, 20/8/25)

