Brasil tem a menor importação de trigo no primeiro semestre em 26 anos
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Compra externa do cereal recua para 2 milhões de toneladas, menor volume desde 1997.
As importações brasileiras de trigo recuaram para 2,03 milhões de toneladas de janeiro a junho deste ano, o menor volume para o período desde 1997, quando as compras externas haviam sido de 1,96 milhão, conforme dados da Secex (Secretaria de Comércio Exterior).
A necessidade menor de importação ocorre porque o país vem de uma safra recorde, que atingiu 10,6 milhões de toneladas no ano passado, e poderá ter outra semelhante neste ano, segundo dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).
Rio Grande do Sul e Paraná, líderes nacionais em produção, têm perspectivas de boas colheitas em 2023. No ano passado, os gaúchos colocaram 4,95 milhões de toneladas de trigo no mercado, e os paranaenses, 3,5 milhões.
O consumo nacional é de 12,4 milhões de toneladas, e a demanda será complementada por importações. Nos dois últimos anos, no entanto, o país acelerou as exportações. Em 2022, o volume total do ano atingiu o recorde de 3,1 milhões de toneladas. De janeiro a junho deste ano, já foram 2,1 milhões de toneladas.
A balança comercial do agronegócio termina o primeiro semestre com um ritmo ainda maior do que o de igual período do ano passado, conforme os dados divulgados nesta segunda-feira (3) pela Secex.
As receitas da agropecuária subiram para US$ 43,1 bilhões, com aumento de 15% no volume exportado e de 7% nas receitas recebidas. Neste primeiro semestre, no entanto, os preços internacionais perderam fôlego e recuaram 3,4% para os produtos do setor.
A balança comercial foi reforçada, mais uma vez, pela soja, que obteve o maior volume de exportação da história para o primeiro semestre do ano. O país colocou 62,9 milhões de toneladas da oleaginosa no mercado externo, 19% a mais do que em 2022. As receitas com a soja em grãos somam US$ 33,5 bilhões neste ano.
As exportações brasileiras devem terminar o ano com números bem superiores a 90 milhões de toneladas. O Brasil colheu uma supersafra de 156 milhões de toneladas, e os Estados Unidos, segundo maior produtor e exportador mundiais, ainda têm incertezas quanto ao clima e ao potencial de produção.
As exportações de milho também têm bom ritmo e já somam 11,7 milhões de toneladas. As previsões para o ano são de um volume superior a 50 milhões.
A partir de agora, os embarques de soja diminuem, e aumentam os de milho proveniente da segunda safra. O cenário internacional de preço para o cereal, no entanto, não está tão favorável como em 2022. Os embarques de junho foram feitos com uma retração de 17% nos preços da tonelada, em relação ao mesmo período do ano passado.
Assim como ocorre com o milho e com a soja, os preços médios internacionais das carnes também diminuíram. O Brasil conseguiu, porém, manter o mesmo patamar de receitas do primeiro semestre do ano passado devido ao aumento no volume exportado.
Conforme os dados ainda provisórios da Secex, as exportações totais de carnes de boi, de frango e de suínos subiram para 4,2 milhões de toneladas neste ano, 10% a mais do que as de 2022. As receitas, no entanto, permaneceram em US$ 11,3 bilhões.
A queda no valor médio da carne bovina de 18,5% no mercado internacional no primeiro semestre fez com que as receitas com a carne de aves, cujo preço ficou estável, voltassem a superar as da bovina. As exportações de frango somaram US$ 5,1 bilhões.
Enquanto as exportações sobem, as importações dos principais insumos recuam. As compras externas de fertilizantes caíram para 7,1 milhões de toneladas no semestre, bem abaixo dos 12,8 milhões de igual período do ano passado.
Os preços também estiveram mais favoráveis neste ano do que em 2022. Com isso, os gastos com as importações desse insumo caíram para US$ 13,6 bilhões, 30% a menos do que de janeiro a junho de 2022.
A importação de agroquímicos desacelerou, ficando em 144 mil toneladas no ano, 46% abaixo do volume de janeiro a junho de 2022. Neste ano, os gastos com as compras externas caíram para US$ 1,7 bilhão, 33% a menos do que no ano anterior (Folha, 4/7/23)