21/10/2025

Brasil tem vantagens consolidadas para fortalecer agricultura regenerativa

Brasil tem vantagens consolidadas para fortalecer agricultura regenerativa

Foto Reprodução Blog Forbes

  

Evento em São Paulo reúne mais de 200 produtores rurais, pesquisadores, autoridades e representantes da indústria para discutir boas práticas.

 

O Brasil tem “vantagens consolidadas” para ampliar a adoção da agricultura regenerativa, um conjunto de práticas que tem como objetivo assegurar a saúde do solo. Para especialistas, acesso a crédito e a assistência técnica são dois dos elementos-chave para o avanço do modelo.

Kadigia Faccin, professora da Fundação Dom Cabral, diz que a construção da agricultura regenerativa é um processo com diversos elos. “É uma agricultura da cooperação, que ninguém faz sozinho", afirmou. "Seja pequeno produtor ou grande”.

 

A professora participou das discussões do primeiro painel do Summit Agricultura Regenerativa, que a Globo Rural organizou na manhã desta segunda-feira (20/10), em São Paulo. O evento reuniu mais de 200 pessoas, entre produtores rurais, representantes da indústria, especialistas e autoridades, para estimular o debate sobre o sistema.

 

Para ela, cada vez mais produtores desejam “cruzar a ponte” em busca de mais boas práticas, mas esbarram em diferentes obstáculos. A falta de apoio técnico e financeiro são alguns dos entraves.

 

“Entre os desafios estão a própria decisão pela [produção com] sustentabilidade, superando o medo de abandonar práticas convencionais, e identificar as soluções especificas para sua propriedade, gerir essas mudanças e perceber os resultados”, afirmou.

 

Plantio direto, um "padrão sustentável" na agricultura

 

Segundo Marina Piatto, diretora do Imaflora, a agropecuária precisa sempre “subir a régua” da sustentabilidade por meio de melhoria contínua das práticas e uso dos recursos. Ela citou, por exemplo, o plantio direto, um “padrão sustentável” na agricultura de grande escala do país.

 

“A agricultura regenerativa começa pelo solo, com práticas como o plantio direto, mas extrapola para a biodiversidade, manejo integrado de pragas e doenças, uso racional da água, toda a questão do sequestro de carbono e outros”, citou.

 

Quatro pilares

 

Ludmila Rattis, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), apresentou os quatro pilares da agricultura regenerativa: saúde do solo, sistemas integrados e diversos, proteção da vegetação nativa e inclusão social.

 

“As propriedades que fizeram a transição para os [insumos] biológicos, por exemplo, têm um ganho de qualidade de vida na comunidade. É uma relação interessante que demonstra como o foco sobre o meio ambiente também se traduz [no bem-estar para] as pessoas”, disse ela.

 

Mas, para a pesquisadora, a falta de métricas confiáveis sobre diferentes aspectos que envolvem as boas práticas, como a agricultura regenerativa, é uma questão central.

 

“A carência de dados confiáveis e reconhecidos é um obstáculo para toda essa jornada, [que vai] do convencimento até o financiamento. Apesar de tudo, o Plano ABC (política pública de promoção da agricultura de baixa emissão de carbono) é uma joia brasileira. Precisamos fazer um Plano Safra mais alinhado para os pequenos produtores”, opinou.

 

Estímulo a quem já adota boas práticas

 

Alessandra Fajardo, diretora-executiva Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (Cebds), reforçou a importância de se estimular boas práticas entre quem ainda não as adota, mas reconhecer quem já segue essas diretrizes.

 

“Já temos muitos produtores com boas práticas e em constante evolução no Brasil. Não podemos nos esquecer deles e, inclusive, deixar o caminho claro para que possam avançar ainda mais”, pontuou.

 

“A sustentabilidade é o único caminho

 

Na abertura do evento, Alex Carreteiro, presidente de Alimentos da PepsiCo no Cone Sul, disse que a agricultura regenerativa é o principal instrumento do país, e também da empresa, para cumprir o objetivo de zerar o saldo de emissões de carbono.

 

“Quando o solo passar a ser sequestrador de CO2, a agropecuária vai mitigar as emissões do país como um todo e atuar sobre mudanças climáticas”, afirmou. “A sustentabilidade é o único caminho para se alcançar produtividade, resiliência e margens. A agricultura regenerativa é a grande mudança”, afirmou (Globo Rural, 20/10/25)