18/08/2025

Cana: “Pronunciamento” do presidente sub judice Tirso Meirelles da Faesp

Cana: “Pronunciamento” do presidente sub judice Tirso Meirelles da Faesp

Foto AdobeStock

Presidente sub judice da Faesp Tirso Meirelles tenta, com factóides, influir no embate entre a Orplana - Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil e a Unica - Associação Brasileira da Indústria de Cana-de-Açúcar no Consecana - Conselho dos Produtores de Cana de Açúcar, Açúcar e Etanol do Estado de São Paulo.

Certamente inspirado e motivado pela matéria divulgada na última sexta-feira (15) pelo BrasilAgro (UNICA dividida pode provocar ruptura na cadeia produtiva sucroenergética), Tirso Meirelles, presidente sub judice da Federação da Agricultura do Estado de São Paulo – Faesp/Senar, que teve sua eleição em dezembro de 2023 e sua posse no Theatro Municipal de São Paulo em 14 de abril de 2024 anuladas pelo Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região, emergindo da sua insignificância, gravou e distribuiu em suas redes sociais “importante pronunciamento”.

Bem ao estilo que marca sua infeliz e desastrada trajetória no âmbito da tentativa de suceder ao pai, Fábio de Salles Meirelles, que comandou durante quase meio século a Faesp, Tirso tenta demonstrar seu “conhecimento” sobre os setores canavieiro e sucroenergético propondo-se a mediar as divergências provocadas pela Única contra a Orplana no Consecana.

Logo no início do “importante pronunciamento”, o presidente sub judice escorrega e diz, textualmente que “o IEA do Brasil” referindo-se ao IAA – Instituto do Açúcar e do Álcool. Em seguida lança esta pérola: “A Faesp coordenou e ajudou a formação das associações de cana-de-açúcar” e antes de saltar para a crise provocada pela desregulamentação da cadeia produtiva da cana-de-açúcar” lança esta pérola:

“A Única e a Orplana sempre desenvolveram as suas negociações através da Federação da Agricultura do Estado de São Paulo (sic) para alcançar o melhor preço da tonelada da cana e da sucarose...”. Com sua declaração, Tirso Meirelles tenta criar uma nova palavra na língua portuguesa. Talvez quisesse dizer “sacarose”, também conhecida como açúcar de mesa, um dissacarídeo composto por glicose e frutose.

Mas, a bem da verdade, ocorre que o correto seria dizer “Açúcares Redutores Totais (ATR)”, que é o indicador da quantidade de açúcares (sacarose, glicose e frutose) na cana-de-açúcar. E é usado para determinar o teor de açúcar na cana e influencia o preço do produto. O ATR varia entre 13 e 17,5% na maioria dos casos e é calculado pela relação POL/0,95 mais o teor de açúcares redutores.

A extinção do IAA – Instituto do Açúcar e do Álcool do Brasil e, vejam bem, não do Brics ou da Venezuela e Cuba, ocorreu quando o presidente Collor assinou o decreto nº 99.240/1990.

 

Já a formação das primeiras associações de produtores de cana no Brasil ocorreu em meados do século XX. A Associação dos Fornecedores e Lavradores de Cana de Santa Bárbara d'Oeste foi fundada em 30 de abril de 1944, sendo a segunda do gênero no estado de São Paulo.

 

Posteriormente, em 22 de julho de 1945, foi fundada a Canaoeste (Associação dos Plantadores de Cana do oeste do Estado de São Paulo). A Orplana (Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil) foi fundada em 29 de junho de 1976, com o objetivo de organizar a classe dos produtores de cana e ampliar sua representatividade.

 

Em 1975 foi criado o Proálcool – Programa Nacional do Álcool. Em 1976 os usineiros paulistas criaram a Sopral – Sociedade dos Produtores de Álcool. A Única – União da Indústria da Cana-de-Açúcar foi criada em 1997.

 

A grande e maior crise da cadeia produtiva canavieira atingiu seu ápice em 1999 com manifestações contra os governos de Fernando Henrique Cardoso, na presidência da República, e, Mário Covas no Governo do Estado de São Paulo a partir do movimento “Grito pelo Emprego e pela Produção” em Sertãozinho (SP). O movimento não teve nenhuma participação nem ajuda da “dinastia Meirelles” ou da Federação da Agricultura do Estado de São Paulo.

 

Em 1999 Tirso Meirelles era secretário de governo da prefeita e sua sogra Neli Tonielo. A única e desastrada contribuição dele ao movimento foi quando, durante manifestação na Praça da Matriz de Sertãozinho, acionou a Polícia Militar para prender os líderes do movimento. A prisão só não ocorreu pela intervenção do então vereador João Marcos Pignata que abrigou os dirigentes no recinto da Câmara Municipal.

 

Totalmente desinformado

Tá tudo errado - De Porfírio- Reprodução Internet

A crise entre a Unica e a Orplana no Consecana não é porque “a Única quer um preço e a Orplana outro”, como afirma o presidente sub judice. É, isto sim, porque parte dos usineiros associados da Única não querem cumprir os acordos formalizados com os seus fornecedores de cana, ou seja, não querem cumprir o pacto em relação a aplicação e retroatividade para a safra 24/25.

 

O embate “atravanca o desenvolvimento do setor sucroenergético” é outra afirmação de Tirso Meirelles, que cortou as verbas do Senar – Serviços Nacional de Aprendizagem Rural, que obrigatoriamente, deveriam ser transferidas aos sindicatos que lhe fazem oposição.

 

O corte atinge, dentre outros, o Sindicato Rural de Ribeirão Preto, que reúne os produtores da maior região produtora de cana-de-açúcar do País. Ou seja, se alguém “atravanca o setor sucroenergético” é o presidente sub judice da Federação da Agricultura do Estado de São Paulo  Faesp/Senar.

 

Em seu devaneio, Tirso Meirelles propõe que o “Guilherme da Orplana, o Evandro da Única e mesmo o Hugo da Udop sentem conosco na Faesp para negociar um acordo...”.

O “acordo” proposto é desnecessário pois o que os produtores de cana querem é que o acordado no Consecana seja cumprido pelos usineiros que se opõem. Esta postura denota falta de governança e provoca com despropósito este embate surreal. Tirso Meirelles se refere a “Hugo presidente da Udop que representa as destilarias de São Paulo e outras regiões do País...”.

O que o desinformado presidente sub judice da Faesp desconhece é que Hugo Cagno Filho preside a UDOP - União Nacional da Bioenergia, uma entidade com foco na qualificação profissional e no estímulo a inovações tecnológicas para o setor da bioenergia. Fundada em 1985, a UDOP foi idealizada com o propósito de capacitar profissionais para as unidades e proporcionar a troca de conhecimentos e informações através das reuniões dos comitês técnicos instituídos.

Hoje, a entidade possui dezenas de unidades associadas distribuídas em pelo menos 11 estados brasileiros, e uma associada na Argentina, orgulhando-se de já ter capacitado cerca de 300 mil profissionais em sua história de mais de três décadas e meia. Considerar que a Udop, se limite a “a representar apenas destilarias” de São Paulo, afronta esta instituição que merece o respeito de todos, principalmente para os que ocupam, ainda que sub judice, instituições da envergadura que deveria ter a Faesp/Senar (Da Redação, 18/11/25)