20/09/2021

Como o agro pode reduzir emissões de gases do efeito estufa - GEEs

Como o agro pode reduzir emissões de gases do efeito estufa - GEEs

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Legenda: Práticas sustentáveis adotadas na agropecuária podem ajudar a melhorar a saúde do planeta

Inerente à existência da terra e dos seres humanos, a camada de ozônio é invisível a olho nu, mas sua importância contra os raios ultravioleta emitidos pelo sol, que são capazes de acabar com as formas de vida do planeta, é cada vez mais presente na vida das pessoas. Não à toa, o reconhecimento desta ferramenta de sobrevivência do planeta motivou a criação do Dia Internacional para a Preservação da Camada de Ozônio. A data escolhida (16/9) foi criada em 1994 pela Assembleia Geral das Nações Unidas para marcar a assinatura do Protocolo de Montreal, tratado internacional em que signatários prometem substituir substâncias capazes de destruir essa proteção.

Algumas das perigosas substâncias são os GEEs (gases do efeito estufa), que podem decompor parte da camada de ozônio e promover o aquecimento da temperatura do planeta, resultando em mudanças climáticas que comprometem a vida na terra. Estão no grupo o CO2 (dióxido de carbono), o CH4 (metano) e o N2O (óxido nitroso), produzidos por diferentes setores econômicos, dentre eles o agronegócio. Segundo o mais recente inventário de GEEs, o setor agrícola brasileiro é responsável pela emissão de 470 milhões de toneladas de CO2 equivalente. O setor de energia, com a queima de combustíveis fósseis responsáveis por 81%, emitiu em 2019, segundo o Iema (Instituto de Energia e Meio Ambiente), 414 milhões de toneladas de CO2 na natureza.

A boa notícia é que, ao contrário de outros setores da economia que somente emitem GEEs, as atividades do campo também mitigam e sequestram esses gases, podendo levar a um balanço negativo de carbono, ou seja, ajudam o planeta.  A adoção de tecnologia como biogás, sistemas integrados e plantio direto, por exemplo, podem ajudar produtores a reduzirem suas pegadas de carbono e prestar serviços ambientais à sociedade. Afinal, é o solo das fazendas que funciona como um depósito de carbono, como um sequestrador de GEEs. 

Conheça oito práticas sustentáveis, reconhecidas pela Embrapa, e que já são adotadas no agro brasileiro para frear as mudanças climáticas:

Biogás

Criado a partir da gestão de resíduos oriundo da criação de animais em propriedades rurais, principalmente suínos e aves, o biogás é uma fonte de energia capaz de reduzir a emissão de metano e CO2. Além de reduzir custos de energia nas propriedades, a geração de biometano como combustível tem potencial para substituir até 70% do consumo de diesel no Brasil, segundo a ABiogás (Associação Brasileira do Biogás). O biometano gera economia de quase R$ 1 por litro equivalente de diesel e sua adoção poderia reduzir em até 96% as emissões de CO2 causadas pelo uso de combustíveis fósseis.

ILPF

O sistema de ILPF (integração lavoura-pecuária-floresta) é cada vez adotado nas fazendas. Propondo a união de produções agrícolas, pecuárias e florestais dentro de uma mesma área, a iniciativa promove a otimização no uso da terra. Segundo um experimento realizado pela Embrapa Cerrados (DF) com o uso de 417 árvores de eucalipto por hectare, a implantação da ILPF em apenas 15% da área de produção já é o suficiente para compensar a emissão de GEEs de uma fazenda. Atualmente, estão nesse sistema 17,4 milhões de hectares no país.

ILP

Na ILP (integração-lavoura-pecuária), o modelo se baseia no conceito de rotação/sucessão de cultivos e criação de animais como prática conservacionista. Além de evitar a degradação do solo, a rotação de culturas aliada à pecuária pode trazer maior rentabilidade ao produtor, uma vez que aumenta o desfrute de uma área da fazenda na maior parte do ano.

Segundo levantamento da Embrapa, a adoção da ILP em quatro milhões de hectares corresponderia a uma redução de emissões de 18 a 28 milhões de toneladas de CO2 equivalente ou mais. Mais comum no país, o sistema ILP é adotado em cerca de 54,6 milhões de hectares do Brasil.

Plantio Direto

O plantio direto, técnica conservacionista de semeadura em que a semente é plantada em solo sem aração ou gradagem, é utilizado no Brasil desde a década de 1970. Com isso, aumenta o volume de matéria orgânica no solo, além da menor necessidade do uso de fertilizantes químicos. O país é pioneiro em seu desenvolvimento, junto com os norte-americanos.

Segundo a Federação Brasileira do Sistema de PD, o país saltou de cerca de 18 milhões de hectares em meados dos anos 2000 para os atuais 33 milhões de hectares. No mundo, a técnica é utilizada em cerca de 180 milhões de hectares. Segundo estudo da Embrapa Soja realizado entre 1989 e 2009, o uso do sistema de plantio direto em culturas de trigo e milho em Londrina (PR) evitou que 79,4 quilos de carbono hectare/hora fossem emitidos para a atmosfera.

Reflorestamento

Publicado em setembro, um estudo da Embrapa Cerrado, unidade localizada em Brasília (DF), com duração de 26 meses no bioma, mostrou que “florestas plantadas com eucalipto absorveram cerca de 1,5 quilo de metano por hectare/ano”. Mas o impacto do reflorestamento vale tanto para áreas de vegetação nativa como campos agrícolas substituídos por plantações de eucalipto.

O reflorestamento, como prática conservacionista e fonte de matéria-prima para a indústria do papel e da celulose, tem sido adotado em grandes áreas de pastagens degradadas. Atualmente, o Brasil é um dos 10 maiores países em florestas plantadas do mundo, com 6,4 milhões de hectares de árvores cultivadas.

Fixação biológica de nitrogênio

O óxido nitroso é um gás nocivo e faz parte do pacote de GEEs. Mas uma técnica desenvolvida pela Embrapa desde o seu nascimento, em meados dos anos 1970, consegue mitigar o seu efeito. A fixação biológica de nitrogênio no solo ocorre quando uma bactéria é inoculada nas raízes de plantas como soja, milho, feijão, cana-de-açúcar, arroz, trigo, entre outras. A grosso modo, são essas bactérias que precisam do nitrogênio para sobreviver, prestando um serviço ambiental ao planeta ao viverem de modo perfeito nas raízes dessas plantas.

As pesquisas constantes servem justamente para descobrir mais bactérias fixadoras de nitrogênio no solo em cultivos de leguminosas, gramíneas e outras espécies de plantas. O nitrogênio também funciona como fertilizante para as plantas, levando ao uso de menos produtos químicos nas lavouras. No caso da soja, por exemplo, com 67,1 milhões de hectares cultivados na safra 2020/21, a estimativa é que a não utilização de fertilizantes nitrogenados tenha proporcionado uma economia da ordem de R$ 60 bilhões no ciclo.

Biocarvão

O biocarvão, também conhecido como biochar, é produzido a partir da transformação de materiais como restos vegetais, pó de serra e até lixo urbano. Os materiais conhecidos como biomassa passam pelo processo de pirólise, que é o aquecimento dos compostos orgânicos com a ausência de ou ínfima presença de oxigênio. Além de produzir energia, o biocarvão funciona como um bom fertilizante no solo e pode ajudar a sequestrar carbono no solo.

Segundo uma pesquisa realizada pela professora Agnieszka Latawiec, do departamento de geografia e meio ambiente da PUC-RIO, a aplicação do biocarvão em pastagens degradadas aumentou em 27% a produtividade de braquiárias. Além disso, cada hectare fertilizado salvou 91 toneladas de carbono equivalente.

Recuperação de Pastagens Degradadas

De acordo com a Embrapa, há no Brasil cerca de 200 milhões de hectares de pastagens nativas ou implantadas, dos quais cerca de 130 milhões possuem algum grau de degradação e precisam de intervenção para reverter seu estado. Áreas de pastagens degradadas perdem matéria orgânica e emitem gás carbônico para a atmosfera. Em casos extremos, a da pastagem degradada pode emitir cerca de oito toneladas de carbono equivalente por hectare. Mas a pesquisa mostra que plantas em crescimento sequestram CO2 da natureza mais do que completaram seu ciclo de crescimento.

Uma estimativa da Universidade de Rio Verde (GO) afirma que cada hectare de pastagem cultivada estoca cerca de 94,6 toneladas de carbono equivalente. Ou seja, recuperar pastos inverte a ordem do ciclo de carbono e é o que vem ocorrendo. O mais recente Censo Agropecuário em 2017, realizado pelo IBGE, mostra que foram recuperados 12 milhões de hectares por meio de adubação e também com técnicas como ILPF e ILP, por exemplo (Forbes, 17/9/21)