COP 30: O circo milionário em meio ao esgoto – Por Paula Sousa
Foto Getty Images-M.Tama
Enquanto o mundo prepara seus ternos de linho e discursos ensaiados para a COP30, Belém do Pará, a cidade-sede, oferece um espetáculo muito mais visceral. Não é um espetáculo de sustentabilidade, mas de sobrevivência. A capital paraense afunda, literal e figurativamente, na lama de enchentes crônicas e num esgoto a céu aberto que revela a ferida exposta de décadas de abandono político.
Este é o palco escolhido pela esquerda global e nacional para debater a "crise climática". Um palco onde 57% da população da capital vive em favelas, onde despejos forçados "embelezam" a cidade para os gringos, empurrando famílias para uma precariedade ainda maior.
É um lugar onde o "desenvolvimento sustentável" soa como uma piada de péssimo gosto para quem tem água de esgoto batendo na canela. E as mais de 30 intervenções em mobilidade e saneamento anunciadas às pressas? Mal arranham a superfície, e poucas chegam às periferias onde o asfalto nunca existiu e onde comunidades quilombolas e ribeirinhas — aquelas que o discurso oficial diz "defender" — sequer têm acesso à energia elétrica ou água potável.
O Pará não é um Estado, é um atestado de fracasso. É um território do tamanho de Angola, mas com a mesma pobreza. Das 20 piores cidades do Brasil em qualidade de vida, 12 estão lá. Não é só mato, é "mato e pobreza". É o lar de Melgaço, a cidade com o pior IDH do país (0,418), um índice que faria a Zâmbia parecer um principado suíço. Em Melgaço, a economia é baseada em "pesca e promessa política". Hospitais parecem casas abandonadas de filme de terror e 73% da mortalidade infantil é evitável. E Melgaço não está sozinha: Chaves, Bagre, Cachoeira do Piriá...a lista da miséria é longa!
Mas o povo paraense, em um caso assombroso de “Síndrome de Estocolmo” política, parece ter se acostumado. Afinal, continuam elegendo os mesmos grupos que os mantêm nesse Estado. Elegeram Igor Normando prefeito do MDB. Ele é primo de segundo grau do governador do Pará, Helder Barbalho, também do MDB.
Ontem (6) o prefeito trocou a participação em discussões no pavilhão da conferência por um evento voltado a conter a insatisfação dos feirantes com mudança de endereço da Feira do Barreiro.
Belém, a capital que os próprios moradores admitem ser a "mais suja do Brasil" é uma cidade onde lixões a céu aberto são "pontos turísticos", a Praça do Relógio virou ponto de viciados e onde a obra de saneamento da Vila da Barca — onde 7 mil pessoas vivem em palafitas sobre o esgoto — está parada há 15 anos.
A ineficiência é a regra. Aliás, em Belém, o lema "o Estado cria o problema pra te vender a solução" é literal. Moradores relatam que o único tipo de obra que vai para frente é furar o asfalto de propósito, só para arrumar depois e fingir que algo útil foi feito. É claro que um "Estado esquerdista sendo ineficiente" não é surpresa. A surpresa é a audácia.
É neste cenário de podridão que o circo da COP30 é montado, com seus bilhões em custos. E para quê? Para que "justiceiros hipócritas e demagogos", como descreve um analista, venham em seus jatinhos, se hospedem com luxo pago por países subdesenvolvidos e discutam como "taxar os mais ricos" para salvar o planeta. Usando a agenda verde para esconder o velho socialismo, o nojo seletivo ao capitalismo e a tara pela "justiça social".
A hipocrisia é tão gritante que nem a militância de esquerda consegue engolir. O anfitrião do evento, o governo Lula, posa de líder da "transição energética" enquanto, simultaneamente, libera a exploração de petróleo na Foz do Amazonas. O plano é claro: o Brasil quer saltar de oitavo para quarto maior produtor de combustível fóssil do mundo.
A COP30, portanto, não passa de um momento para "tirar fotos" e posar de ecologicamente correto para líderes que, em sua maioria, já sinalizaram ausência. As grandes potências sabem que esta é uma festa para fotos, não para resultados, e não vão comparecer para avalizar a farsa.
Mas o verdadeiro show de horrores acontece quando os holofotes se apagam. Enquanto os moradores de Belém eram despejados para "embelezar" a cidade, o "Pai dos Pobres" e sua "Deslumbrada" chegaram para uma agenda pré-COP.
Lula e Janja não iam, claro, sujar os sapatos na lama que eles supostamente vieram salvar.
Optaram por um mergulho na ostentação. Instalaram-se no IANA 3, um iate de luxo disfarçado de "barco-hotel regional". Uma embarcação com suítes climatizadas e salões amplos, custando R$ 5.300 por diária (R$ 2.700 por pessoa) apenas para o casal presidencial. O valor total do contrato? O Planalto colocou em sigilo. Enquanto o povo sofre, eles colocam o luxo em sigilo.
De dentro desse resort flutuante, ancorado sobre as águas do Rio Guamá, Janja viralizou em um vídeo dançando forró, cercada de coquetéis e ar-condicionado, completamente alheia ao contraste com a Vila da Barca a poucos metros dali, ou às veredas alagadas da periferia.
Este iate não é um caso isolado, é o capítulo local de uma saga global de extravagâncias. Desde 2023, o governo já torrou R$ 4,58 bilhões em viagens oficiais. Dentro desse rombo, Lula e Janja acumulam uma conta pessoal que ultrapassa R$ 50 milhões só com hospedagem e logística de luxo. Janja, sozinha, gasta até R$ 280 mil por viagem em hotéis cinco estrelas e classe executiva.
O governo projeta gastar R$ 2,12 bilhões só em 2025 com viagens presidenciais. É uma dissolução financiada por impostos que jamais chegarão às periferias amazônicas. De Paris a Davos, de Roma a Pequim, o roteiro é o mesmo: jantares de gala e vinhos importados, enquanto em casa, Belém implora por asfalto.
Mas o símbolo máximo da insanidade da esquerda no Pará veio do prefeito Igor Normando. A sua ideia brilhante para preparar a capital para os eventos internacionais não foi tapar buraco, limpar esgoto ou dar saneamento básico para Belém, Ananindeua e Santarém (todas no ranking das 20 piores do país). Uma cidade onde, como denuncia o próprio povo, ter um banheiro em casa é artigo de luxo. Mas a ideia estapafúrdia do prefeito foi espalhar patinetes elétricos pela cidade.
O resultado foi uma comédia trágica. O povo, "abrasileirando" a modernidade forçada, usou os patinetes para tudo, menos para o fim correto: teve gente indo ao motel, carregando botijão de gás, andando em trios. Criminosos aplicaram golpes de QR code e nóias furtaram os veículos para vender.
O prefeito deu patinetes a um povo que não tem calçada nivelada, ciclovia decente ou nem mesmo banheiro em casa.
A COP30 não é uma conferência sobre o clima. É um monumento à desfaçatez. É uma festa de gala em um lixão. É a elite globalista e a esquerda caviar brindando com vinhos caros — pagos por nós — sobre a miséria de um povo abandonado. Um povo que, tragicamente, parece aplaudir seus próprios algozes, feliz por ter ganhado um patinete para andar no esgoto. (Paula Sousa é historiadora, professora e articulista; 7/11/2025)

