De Messias a Jair Messias – A batalha de "Dark Horse" no palco global
Fotos Reprodução Blog Diário do Centro do Mundo
Por Paula Sousa
O anúncio de que o aclamado ator americano Jim Caviezel — mundialmente conhecido por sua intensa interpretação de Jesus Cristo em A Paixão de Cristo (2004) e por seu papel como o agente Tim Ballard em O Som da Liberdade (2023) — encarnará o ex-presidente Jair Bolsonaro no filme Dark Horse em 2026, é mais do que uma notícia cinematográfica. É um movimento estratégico e ressonante na guerra cultural.
Esta produção, idealizada e roteirizada pelo deputado federal Mario Frias (PL-SP), não é apenas um registro biográfico brasileiro, mas, um "alerta global sobre liberdade, manipulação e resistência". A escolha de Caviezel, um ator abertamente cristão e conservador, e a decisão de rodar o filme em inglês, sinalizam a ambição de transcender fronteiras e redefinir narrativas em um palco mundial.
A escolha simbólica: Um ator de Hollywood na guerra cultural
Jim Caviezel traz consigo um peso simbólico inegável. Sua carreira, marcada por papéis de grande profundidade e controvérsia — desde o Messias no filme de Mel Gibson, que, o fez ser "perseguido" pela indústria, até o ativista anti-tráfico humano em O Som da Liberdade — ressoa com o público conservador global.
Em entrevista à Revista Oeste, Mario Frias explicou a dimensão dessa escalação. "A participação do Jim Caviezel foi um marco," diz Frias. "Busquei apoio nos Estados Unidos por meio de pessoas que reconhecem a importância da história do presidente Bolsonaro. Durante esse processo, Jim demonstrou interesse imediato – ele compreendeu o peso da narrativa e o momento histórico que estamos vivendo." Sua adesão foi decisiva, conferindo ao projeto uma dimensão internacional e "a força simbólica que a história merece."
Essa escolha de casting e o apelo junto à audiência de direita, transforma a produção em um ato político e cultural.
A estratégia do inglês: Um alerta global
Uma das decisões mais notáveis de Dark Horse é a escolha de ser filmado em inglês, descartando a produção brasileira tradicional. Frias é enfático sobre o porquê: "Optamos por filmar em inglês por uma razão muito clara: esta história precisa ser compreendida pelo mundo."
A visão é que o filme não se trata apenas da política brasileira, mas de um fenômeno que ecoa em democracias ocidentais. "Não se trata apenas de um registro brasileiro, mas de um alerta global sobre liberdade, manipulação e resistência," afirma o roteirista. Ao rodar em inglês, a produção visa "garantir que a mensagem ultrapasse fronteiras e leve ao público internacional a dimensão do que ocorreu com Bolsonaro e das implicações para a democracia no Ocidente." O objetivo é claro: alcançar uma audiência que a mídia e a arte brasileiras, jamais desejariam alcançar.
O título, Dark Horse, traduzido pela imprensa como "Azarão", também é carregado de significado. Frias reconhece a tradução, que "resume um aspecto importante da trajetória de Bolsonaro. Ele sempre foi visto como o outsider, o improvável, o homem que venceu todas as probabilidades." No entanto, ele acrescenta que o título carrega um simbolismo ainda mais profundo, ligado à ideia de alguém que surge inesperadamente para alterar o curso da história.
A batalha pelo imaginário: A arte como arma cultural
O projeto Dark Horse se insere diretamente no centro da guerra cultural, uma batalha pela dominância das narrativas e pelo imaginário popular. A esquerda compreendeu o poder da arte e da cultura, investindo pesadamente no aparelhamento cultural.
Como se observa na análise de alguns comentaristas, essa é a essência do que está em jogo: "Isso é guerra cultural. Assim se constroem heróis no imaginário popular. A esquerda entendeu isso a muito tempo, não é por acaso que a maioria esmagadora da classe artística é de esquerda, eles investem nisso há muito mais tempo."
O cinema, por exemplo, já serviu aos propósitos da esquerda brasileira com o filme Lula, O Filho do Brasil, lançado há 16 anos com o objetivo de construir a imagem de um herói. Embora o sucesso de bilheteria possa ser questionável, o êxito foi "em trazer a classe artística pra perto, abrindo totalmente a torneira do dinheiro público, estabelecendo essa relação de ganha-ganha entre a esquerda financiando a arte e a arte promovendo a esquerda."
Essa relação, manteve a classe artística coesa em seu apoio, mesmo diante de grandes escândalos de corrupção. Em 2018, o movimento "Ele Não" permitiu uma "distância segura" da "podridão dos esquemas de corrupção," mas assim que o sistema inverteu a narrativa para descondenar Lula, a classe artística correu para o apoio escancarado novamente. "Anos de aparelhamento, esquerda financia artistas, artistas promovem a esquerda. E a classe artística domina a opinião pública."
O projeto Dark Horse emerge, assim, como um contraponto direto a esse domínio cultural estabelecido. A premissa central é que a verdade histórica e política não pode ser silenciada pela indústria artística nacional, totalmente aparelhada. Conforme a visão dos idealizadores, mesmo que o cinema brasileiro opte pelo silêncio, "vozes irão se erguer", onde há omissão, a verdade encontrará outras vias de manifestação. Neste contexto, as "vozes" que se recusam a calar vieram de Hollywood, personificadas na figura de Jim Caviezel. A conclusão é que, embora seja uma guerra cultural, a direita recebeu "grandes reforços" internacionais.
Do infarto à missão: O processo de criação
Mario Frias relata que o roteiro começou a ganhar forma após um momento dramático em sua vida: seu segundo infarto. "Comecei a escrever o roteiro logo depois do meu segundo infarto, e essa experiência mudou completamente minha percepção do projeto. Hoje, vejo o filme não apenas como uma obra artística, mas como uma missão."
A produção está "bastante adiantada," com cenas "icônicas" da vida do ex-presidente já gravadas com "extremo cuidado estético e histórico." A previsão é de lançamento para 2026, com uma estreia de alcance mundial, o que coincide com o calendário eleitoral brasileiro.
Frias expressa que sua expectativa para o lançamento é que o filme "provoque reflexão e alcance pessoas muito além do debate político." Seu objetivo é que a obra seja um registro histórico, capaz de "expor injustiças, inspirar coragem e mostrar ao mundo a luta de um homem que se tornou símbolo de liberdade." A esperança é que o público internacional receba o filme "como uma oportunidade de enxergar fatos que foram distorcidos ou silenciados."
Com a união de Jim Caviezel, a ambição de um lançamento global em inglês e a clara intenção de intervir no debate cultural, Dark Horse é um projeto que começou a inflamar as discussões antes mesmo de chegar às telas. Ele marca a entrada da direita brasileira em um novo patamar de produção de conteúdo, utilizando o cinema americano como veículo para contar a verdade histórica e política de Jair Bolsonaro. (Paula Sousa é Historiadora, professora e articulista; 9/12/2025)

