Enviado de Trump e Amorim se reuniram antes do encontro com Lula na ONU
Celso Amorim abriu canal de diálogo na Casa Branca, com Richard Grenell. Foto Wilton Junior
Enviado especial para Missões Especiais da Casa Branca, Richard Grenell, reuniu-se em Nova York com o ex-chanceler Celso Amorim na véspera do primeiro encontro entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump, na Assembleia Geral da ONU.
O Estadão apurou ainda que houve um fator adicional. Quando o petista deixou a tribuna da ONU, depois de discursar, um segurança da equipe nacional indicou com os braços o caminho errado para Lula deixar o espaço, que seria ocupado por Trump na sequência.
“Grenell é um cara muito pragmático”, disse Celso Amorim ao Estadão, sem comentar mais detalhes.
Até agora mantido em sigilo, o encontro de Grenell e Amorim no dia 22 de setembro, na Big Apple, faz parte da série de reuniões secretas entre autoridades dos governos brasileiro e americano, revelada pelo Estadão. Ele marca também a entrada de Amorim nas articulações.
A primeira interação de Lula e Trump não foi tão espontânea como ambos relataram. Houve um discreto trabalho diplomático que envolveu ainda o vice-presidente Geraldo Alckmin e o embaixador Jamieson Greer, representante comercial dos EUA. Mas até o último momento, poderia não ocorrer.
O Estadão apurou ainda que houve um fator adicional. Quando o petista deixou a tribuna da ONU, depois de discursar, um segurança da equipe nacional indicou com os braços o caminho errado para Lula deixar o espaço, que seria ocupado por Trump na sequência.
O petista tomou esse rumo e acabou notando a presença do americano, que assistira na sala de chefes de Estado ao discurso dele. Então Lula acenou e foi ao encontro de Trump, acompanhado do embaixador Fernando Igreja, chefe do Cerimonial do Planalto e intérprete por 39 segundos.
Contatos secretos
A conversa, no entanto, foi o segundo contato entre eles. No dia 15 de setembro, Grenell desembarcou no Rio de Janeiro para se reunir a sós com o ministro Mauro Vieira. Eles conversaram acompanhados de poucos assessores, em um hotel na orla da Zona Sul carioca.
Antes de encontrar o chanceler pessoalmente, Grenell quis conversar com Amorim. Já em território brasileiro, ele telefonou para o mais graduado conselheiro internacional do presidente Lula. As assessorias haviam preparado a conversa. Eles trocaram os telefones pessoais com WhatsApp e combinaram o encontro em Nova York, exatamente uma semana depois.
Para o governo brasileiro, a atuação mais “pragmática” de Grenell foi fundamental para mudar a percepção do presidente americano sobre o caso brasileiro.

Enviado especial do Trump para América latina, Richard Grenell, ao lado do chanceler Mauro Vieira Foto: s Joyce N. Boghosian/White House e Evaristo Sá/AFP
Um integrante do governo considera que Trump passou a ouvir “outras vozes” e começou a se convencer, ao ponto de “enquadrar” o secretário de Estado Marco Rubio, mais suscetível ao lobby bolsonarista e “linha dura” com regimes e governos de esquerda.
Trump, porém, manteve Rubio como interlocutor para o Brasil. Apesar de gerar apreensão, a decisão foi percebida no Brasil como uma escolha dentro da praxe pelo fato de ele ser o secretário de Estado e conselheiro de Segurança Nacional, posições que pressupõem mediação exterior. Ainda, como uma maneira de não “rifar” Rubio por completo. Para Amorim, Rubio é “importante” na administração de Trump para obter “equilíbrio interno” de forças e influência no Congresso americano.
Após o telefonema presidencial de segunda-feira, Rubio já conversou também por telefone na manhã desta quinta com Mauro Vieira. Segundo um relato colhido pela reportagem, eles teriam falado em espanhol - o secretário de Estado fala fluentemente o idioma por ser filho de imigrantes cubanos.
Ambos combinaram uma nova reunião presencial em Washington, desta vez oficial e com equipes. Os preparativos dão conta de que ela pode ocorrer a partir da quarta-feira da semana que vem, antes da viagem de Lula e Trump à Malásia, onde novo encontro presidencial poderia acontecer.
Ex-embaixador na Alemanha e enviado para negociações na Sérvia e no Kosovo, Grenell chegou a ser cogitado como secretário de Estado e faz parte de uma ala do governo americano que por vezes se choca com a de Marco Rubio.
Além de ter cumprido missões na América Latina, como emissário para os governos Lula e Nicolás Maduro, Grenell atualmente exerce também o cargo de diretor do The Kennedy Center.
Após a revelação do Estadão de que ele veio ao Brasil para contatos com Mauro Vieira - e, agora se sabe, com Amorim - Grenell entrou na mira da ala mais ideológica em Washington e dos bolsonaristas.
A reportagem procurou Grenell sobre seus contatos com autoridades do governo Lula, por meio da Casa Branca e do Kennedy Center, mas ainda não recebeu resposta.
Contatos secretos
A conversa, no entanto, foi o segundo contato entre eles. No dia 15 de setembro, Grenell desembarcou no Rio de Janeiro para se reunir a sós com o ministro Mauro Vieira. Eles conversaram acompanhados de poucos assessores, em um hotel na orla da Zona Sul carioca (Estadão, 11/10/25)

