14/11/2025

Escândalo no INSS volta a assombrar Lula – Editorial Folha de S.Paulo

Escândalo no INSS volta a assombrar Lula – Editorial Folha de S.Paulo
  • Além da prisão de ex-presidente do órgão, investigação da PF atinge figuras do governo Bolsonaro
  • A fraude começou na gestão Temer, seguiu na de Bolsonaro e chegou à de Lula, quando atingiu recorde de R$ 1,3 bilhão desviado em 2024

 

Apesar de ter sido encoberta pela sucessão de temas que assolaram o noticiário doméstico desde o começo do ano, como a guerra comercial de Donald Trump contra o Brasil ou o debate acerca da segurança pública, a crise do INSS volta a ser a alvo de atenção.

 

Nesta quinta (13), a Polícia Federal prendeu Alessandro Stefanutto, ex-presidente do órgão que ocupou o cargo de julho de 2023 a abril deste ano, quando a eclosão do escândalo forçou sua saída.

 

É um sinal salutar que, mesmo com a barulheira no mundo político, com direito à criação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito para apurar a fraude, o trabalho de investigação policial seguiu seu curso.

 

Ele já havia revelado as proporções infames do esquema descoberto, no qual entidades usualmente ligadas a políticos descontavam de forma não autorizada valores de aposentadorias e pensões na casa de mais de R$ 6 bilhões, segundo a investigação.

 

Por óbvio, a detenção de Stefanutto e outras frentes são parte do processo, não seu fim, sendo necessário estabelecer responsabilidades e garantir o amplo direito à defesa aos acusados.

 

Do ponto de vista político, a nova etapa da chamada Operação Sem Desconto é motivo para tensão extra no Palácio do Planalto, dado seu potencial impacto na campanha eleitoral de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2026. Os elementos do escândalo são de facílima compreensão para o eleitorado: resumem-se ao proverbial roubo do dinheiro de velhinhos.

 

O que estará em jogo no próximo pleito é a paternidade do malfeito, cujas origens remontam à gestão de Michel Temer (MDB), entre 2016 e 2018.

 

O esquema prosseguiu no governo Jair Bolsonaro (PL) e chegou ao de Lula, quando atingiu o recorde de R$ 1,3 bilhão desviado em 2024, de acordo com a PF.

 

O trabalho da polícia abarca ambos os lados do espectro político. Entre os alvos da operação, além do ex-presidente do INSS nomeado sob Lula, está o ex-ministro do Trabalho de Bolsonaro Armed Mohamad Oliveira (PL).

 

Políticos do PSB do vice Geraldo Alckmin e do Republicanos do governador de São PauloTarcísio de Freitas, também estão no rol de investigados, e ainda há suspeitas sobre sindicato no qual um irmão de Lula, conhecido como Frei Chico, é vice-presidente.

 

Com efeito, o Planalto corre para dizer que o problema é de todos —e que foi sob Lula que a PF enfim revelou o esquema. Pode ser, mas isso não apaga um fato básico do presidencialismo: toda e qualquer crise acaba na mesa do chefe do Executivo (Folha, 14/11/25)