15/12/2025

Fazenda admite ajustes, mas não confirma nova MP para dívidas

Fazenda admite ajustes, mas não confirma nova MP para dívidas

Setor produtivo espera que ao menos três pontos sejam contemplados — Foto: Globo Rural

 

Na quinta-feira, secretário de Política Econômica havia sinalizado a possibilidade de uma nova medida provisória.

 

O Ministério da Fazenda confirmou que tem conversado com instituições financeiras e representantes do setor produtivo gaúcho para aprimorar as regras de implementação da linha de renegociação de dívidas. A Pasta, no entanto, disse que ainda não há definição sobre novas medidas normativas.

Nessa quinta-feira (11/12), em reunião virtual com bancos e produtores do Rio Grande do Sul, o secretário de Política Econômica, Guilherme Mello, sinalizou a possibilidade de publicação de uma nova medida provisória, para resolver entraves da MP 1.314/2025.

 

"O Ministério da Fazenda vem dialogando de forma contínua com as instituições financeiras, com representantes do setor agropecuário e com o governo do Rio Grande do Sul para aprimorar a implementação da linha de renegociação criada pela Medida Provisória nº 1.314/2025. As discussões tratam dos ajustes necessários para garantir que o instrumento cumpra plenamente sua função de apoiar os produtores atingidos, especialmente no contexto do Rio Grande do Sul", afirmou a Pasta em resposta à reportagem.

 

"No momento, não há definição definitiva sobre novas medidas normativas. O Ministério reforça que permanece aberto ao diálogo e à construção conjunta de soluções com todos os atores envolvidos", concluiu na nota.

 

O setor produtivo espera que ao menos três pontos sejam contemplados em uma eventual medida provisória: a inclusão das operações contratadas na safra 2024/25, até 30 de junho deste ano, na renegociação; a possibilidade de renegociar os juros e encargos financeiros de financiamentos que já viraram dívidas, além do valor principal; e a revisão de regras de enquadramento dos produtores em relação ao status no momento da contratação do crédito para liquidação ou amortização do passivo.

 

A Federação de Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) encaminhou ao governo uma lista mais ampla de sugestões. O senador Luis Carlos Heinze (PP-RS) sintetizou em 16 propostas, já enviadas à Casa Civil e aos ministérios da Agricultura e da Fazenda.

 

O diretor de um banco privado com atuação destacada no agronegócio explicou que a impossibilidade de renegociar os juros de financiamentos atrasados tem travado as operações com recursos públicos do BNDES. Ele comentou ainda a necessidade de simplificar os critérios para comprovação das perdas no campo para fazer a linha deslanchar, pois “há demanda”.

 

Atualmente, além da publicação de decretos de calamidade pública ou situação de emergência no município, o produtor precisa apresentar laudos técnicos que indiquem perdas acima de 30% em ao menos duas safras entre 2020 e 2024.

 

Há também debates sobre ajustes necessários na regulamentação da linha, no âmbito das resoluções do Conselho Monetário Nacional (CMN) e até mesmo no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Dos R$ 12 bilhões disponibilizados, cerca de um terço foi acessada desde outubro. Uma das preocupações de instituições financeiras atualmente é a data limite para a reserva dos recursos no banco de fomento estatal.

 

A circular que regulamentou a linha de renegociação determinou que o saldo de cada agente financeiro referente à divisão dos R$ 12 bilhões ficará reservado por 60 dias a partir da abertura do protocolo, que foi em 16 de outubro. Após o prazo, os recursos não utilizados deixarão de permanecer reservados e o BNDES poderá alocá-los e autorizar a aplicação conforme a demanda.

Como a contratação está travada, os bancos acreditam que haverá uma prorrogação desse prazo, até que sejam resolvidas as questões operacionais, e que eles possam usar seus limites. Consultado, o BNDES não confirmou mudança na regra.

 

Nesta sexta-feira, representantes de instituições financeiras vão se reunir com técnicos do Instituto Pensar Agropecuária (IPA), que dá sustentação técnica à Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), para debater os ajustes necessários na implementação da renegociação das dívidas.

 

A intenção inicial era apontar alterações na MP 1.314/2025, que criou a linha. Mas há pouco tempo para articular e votar as mudanças. O Congresso Nacional realizará sessões virtuais na próxima semana, com a pauta focada no orçamento de 2026, e depois entrará em recesso. A MP perderá a validade em 12 de fevereiro, pouco depois da volta aos trabalhos em Brasília.

 

A falta de prazo para alterar o texto reforça a necessidade de edição de uma nova MP, dizem fontes na capital federal (Globo Rural, 12/12/25)