10/03/2020

Impactos do surto do coronavírus sobre o agro no Brasil e no mundo

Impactos do surto do coronavírus sobre o agro no Brasil e no mundo

Apesar da importância da economia chinesa para o desempenho comercial no agronegócio brasileiro até fevereiro:

  • Não foi possível observar contração das exportações; na realidade, elas cresceram, seja quando comparadas com fevereiro/2019 (para evitar sazonalidade), seja quando comparadas com janeiro/2020 (para tentar reduzir o efeito do dólar mais caro);
  • Menor valor das importações. Nesse ponto, não está claro se já é desdobramento da obstrução dos canais logísticos devido ao lockdown chinês ou apenas uma consequência do dólar mais caro.

Contexto: a epidemia do COVID-19 está se disseminando entre os países, mas em fevereiro o grande foco do surto foi na China. Com isso:

O mundo crescerá menos: de acordo com a OCDE, o mundo deverá crescer menos em 2020 devido ao surto do Coronavírus (a projeção passou de 2.9% a.a para 2.4% a.a.). Apesar dessa revisão, se o cenário se deteriorar, certamente, novas revisões serão necessárias;

Como essa situação externa deverá afetar a economia brasileira? Por meio de três canais principais:

  • Comércio internacional (exportações): menor volume exportado e menor preço em dólar recebido. Esse deve ser o principal canal de transmissão para o agronegócio brasileiro;
  • Comércio internacional (importações): maior dificuldade para receber as importações e, talvez, preços mais altos. Esse deve ser o principal canal de transmissão para a agroindústria brasileira;
  • Maior aversão ao risco dos agentes do mercado financeiro. Isso gera maior fuga de capitais, dólar mais alto e, consequentemente, maior dificuldade de obter financiamento externo.

O que já foi possível observar dessa conjuntura externa no agronegócio brasileiro?

  • Preços de commodities operando em um patamar menor no final de fevereiro do que estava na virada do ano: de acordo com o Banco Mundial, o índice de preços de commodities agrícolas contraiu -2.8% em fevereiro (em comparação com o mês anterior). Vale destacar que a contração das cotações de commodities energéticas (-12.7%) e de commodities minerais e metálicas (-6.0%) foi ainda maior;
  • Expansão do valor exportado em fevereiro: de acordo com o levantamento do FGV Agro a partir dos números do MDIC, em termos de valor (em US﹩), o agronegócio brasileiro exportou em fevereiro 3.3% a mais do que em fevereiro de 2019 (média por dia útil), e 35.4% a mais que em janeiro de 2020 (também média por dia útil). De forma mais desagregada, houve expansão no valor exportado de: carne de aves e suínos (26.6%), carne bovina (19.7%), café (3.4%) e soja (4.2%) - variação da média por dia útil de fevereiro/2020 contra fevereiro/2019.

Entre os produtos que houve contração, merece destaque as exportações de papel e celulose (-13.5%);

  • Forte contração do valor importado em fevereiro: de acordo com o mesmo levantamento do FGV Agro, em termos de valor (em US﹩), o agronegócio brasileiro importou em fevereiro (média por dia útil) 12.3% a menos do que em fevereiro de 2019 (ao comparar com média por dia útil de janeiro de 2020, o agronegócio importou um valor 5.8% maior em fevereiro, talvez, devido ao dólar mais caro). De forma mais desagregada, merece destaque a contração de insumos agropecuários (-28.2%) e de produtos têxteis (-3.4%).

Qual a contribuição da economia chinesa para os números anteriores?

  • Expansão nas exportações de carnes: apesar de todos os problemas na economia chinesa, o valor exportado pelo agronegócio brasileiro para a China registrou uma leve expansão (1.2%) em fevereiro (comparado com a média por dia útil de fevereiro de 2019). Nessa expansão merece destaque o aumento das exportações de carne bovina (43.5%) e de carnes de aves e suína (78.0%), que compensou inclusive a redução dos embarques de soja (-13.2%);
  • Contração das importações de produtos têxteis: do lado das importações, em fevereiro, houve diminuição (-10.0%) do valor importado (média diária) da China. Nessa contração, merece especial destaque a forte dos embarques de produtos têxteis (-4.9%) e de insumos agropecuários (-27.5%) (Assessoria de Comunicação, 9/3/20)