22/11/2017

Indústria ainda restringe conilon nos blends de café

Indústria ainda restringe conilon nos blends de café

 

 

Um ano depois de ter alcançado preços recorde no país, o café conilon retornou a patamares vistos antes da quebra da produção nacional, mas as indústrias do setor ainda não voltaram a usar a matéria-prima nas mesmas proporções em seus blends.

Antes do forte recuo da colheita em duas safras consecutivas, em decorrência da seca no principal Estado produtor, Espírito Santo, as indústrias que produzem café torrado e moído tradicional utilizavam, em média, 50% de conilon e 50% de arábica em seus blends. Mas com a alta meteórica dos preços do conilon em função da escassez de oferta, passaram a usar entre 80% e 90% de arábica na mistura.

 

E, apesar do recuo dos preços do conilon, as torrefadoras ainda não voltaram a usar a mesma quantia que utilizavam antes. "O volume de conilon nos blends não voltou aos níveis anteriores", afirma Nathan Herszkowicz, diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic). Hoje, segundo informações das indústrias de café, a proporção está em 80% de arábica e 20% de conilon.

Segundo ele, há disponibilidade "normal" de cafés conilon e de arábica no mercado, "apesar de a safra 2017/18 não ter sido tão grande", mas a "indústria não está comprando as quantidades que comprava de conilon porque diminuiu a fatia no blend".

O conilon foi substituído principalmente por cafés arábica tipo consumo interno duro, considerado de menor qualidade. Esse produto é geralmente mais caro que o conilon, mas ficou mais barato durante o auge de falta de oferta.

Conforme acompanhamento da Abic com base em várias fontes do mercado, em outubro de 2016, o conilon capixaba bateu R$ 522 por saca, enquanto o arábica consumo interno era negociado a R$ 490,00. No último dia 16, segundo o mesmo acompanhamento, a saca do conilon estava em R$ 355,00 e a do arábica consumo interno, R$ 440,00.

Para Herszkowicz, "se houver previsibilidade [na oferta]", a indústria pode voltar a utilizar mais conilon em seus blends. Ele afirma, no entanto, que "problemas do passado recente" deixam a indústria cautelosa.

Edimilsom Calegari, gerente geral da Cooperativa dos Cafeicultores de São Gabriel (Cooabriel), de São Gabriel da Palha (ES), diz que a queda dos preços do conilon levará a indústria a usar a espécie novamente em maiores quantidades nos blends. Isso, porém, não ocorre do dia para a noite e deve ser uma mudança gradativa, uma vez que implica alterações no sabor do café, da mesma forma que o maior uso de arábica levou a uma mudança no sabor da bebida.

Para ele, o recuo das cotações do conilon pode ser explicado principalmente pela maior oferta de arábicas inferiores – que podem substituir o produto no blend. Essa disponibilidade maior ocorre em função da queda das exportações brasileiras de café este ano, afirma.

Além disso, Calegari considera que a retração dos preços do conilon se deve à perspectiva de uma recuperação na produção brasileira da espécie na safra 2018/19, que está em fase de desenvolvimento, graças ao clima mais favorável que nos ciclos anteriores. Segundo ele, para o Espírito Santo, a avaliação é de que pode haver um crescimento de 20% a 30% na comparação com as 5,9 milhões de sacas colhidas no ano-safra 2017/18.

Jorge Luiz Nicchio, presidente do Centro do Comércio de Café de Vitória, também avalia que a tendência é que a indústrias reduzam a fatia de arábica nos blends diante da queda dos preços do conilon. "Hoje o conilon está a R$ 355 a saca. Há um ano estava em R$ 550,00", diz. "O conilon caiu mais do que o arábica".

O dirigente acredita que as torrefadoras voltarão a usar 40% de conilon nos blends no próximo ano. "A indústria vai voltar ao blend de 50% de conilon e 50% de arábica no café. Aos poucos vai voltar", acrescenta Carlos Alberto Paulino da Costa, presidente da mineira Cooxupé (Assessoria de Comunicação, 21/11/170

Potencial produtivo da próxima safra em xeque

Passado o período de florada do café da safra 2018/19 no país, as expectativas se voltam para o desenvolvimento das lavouras nas regiões produtoras. Ainda é cedo para fazer estimativas sobre a colheita, mas a percepção é de que o potencial produtivo da próxima safra não deve ser alcançado. Ainda assim, a produção deve superar a atual, uma vez que o ciclo 2018/19 é de bienalidade positiva.

Uma das principais razões para os receios em relação ao potencial produtivo da safra é o volume de chuvas abaixo da média em outubro passado, mês em que ocorre a principal florada do café arábica.

Houve, de maneira geral, chuvas em todas as regiões produtoras de arábica e de conilon do país, em outubro. Mas as precipitações ficaram abaixo da média e foram mais concentradas no fim do mês, observa Marco Antonio dos Santos, agrometeorologista da Rural Clima.

Diante disso, deve haver redução do potencial produtivo, afirma Santos. Na safra 2017/18, que acaba de ser colhida, de bienalidade negativa, a produção está estimada em 44,77 milhões de sacas, 12,8% menos que no ciclo anterior. O número considera a produção de arábica e a de conilon.

"Houve pouca chuva em relação a anos anteriores. Em outubro, choveu menos da metade", afirma Carlos Alberto Paulino da Costa, presidente da Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé). Mas, segundo ele, "a florada foi boa" nas regiões de atuação da cooperativa. Agora, diz, são necessárias chuvas até março para garantir o bom desenvolvimento dos cafezais.

Santos, da Rural Clima, afirma que a previsão é de chuvas mais regulares nas regiões de café do Brasil nos próximos 60 dias, o que é uma boa notícia para os produtores do grão.

O presidente da Cooxupé estima que só será possível ter uma ideia do tamanho da nova safra de café a partir de março. Mas os números da temporada em curso, a 2017/18, estão virtualmente definidos.

A maior cooperativa de café do mundo revisou para 4,7 milhões de sacas o volume de café arábica que irá receber este ano. Em setembro, previa 4,8 milhões. Agora, serão 3,8 milhões de sacas de cooperados e 900 mil de terceiros. Inicialmente, a Cooxupé esperava receber 5,6 milhões de sacas – 4,28 milhões de cooperados e 1,320 milhão de terceiros.

A razão para a redução na estimativa de recebimento é a menor produtividade dos cafezais da região, pois houve maior incidência de peneiras menores. "Está entrando menos café [nos armazéns]", afirma Costa.

Considerando estoques remanescentes do grão, a Cooxupé deve exportar 4 milhões de sacas de café este ano, segundo ele. Outras 1,5 milhão de sacas serão destinadas ao mercado doméstico (Assessoria de Comunicação, 21/11/17)