24/11/2025

Lula prepara guerra santa contra Alcolumbre para emplacar Messias no STF

Lula prepara guerra santa contra Alcolumbre para emplacar Messias no STF

Jorge Messias foi indicado por Lula ao STF. Foto: Ricardo Stuckert/PR

 

Por Sergio Denicoli

 

O Messias do presidente representa o elo que ele precisa para se aproximar do campo evangélico. É um movimento que mistura fé, estratégia e conveniência.

 

Após abraçar o patriotismo, no rastro do tarifaço de TrumpLula avança sobre outra bandeira central da direita, ao iniciar uma cruzada cristã visando um quarto mandato. A escolha de Jorge Messias para o Supremo Tribunal Federal segue um cálculo eleitoral meticuloso. É um recado a quem ainda duvidava de que o presidente sacrificaria bandeiras históricas da esquerda em nome do poder.

 

O Messias de Lula representa o elo que ele precisa para se aproximar do campo evangélico. É um movimento que mistura fé, estratégia e conveniência. O presidente percebeu que o caminho para 2026 passa pelo conservadorismo religioso, hoje dominante no Congresso, nos púlpitos e em parte expressiva do eleitorado. Ao escolher um evangélico de seu círculo mais próximo, Lula tenta furar o bloqueio simbólico que a direita ergueu nos últimos anos e se colocar como interlocutor legítimo do discurso moral.

 

O ponto fulcral dessa operação ocorreu há cerca de um mês, no Palácio do Planalto, quando o presidente se reuniu com o bispo Samuel Ferreira, da Assembleia de Deus, uma das figuras mais influentes entre os pentecostais e interlocutor frequente de parlamentares. O grupo que ele lidera reúne milhões de fiéis em todo o País.

 

A cena foi simbólica. Lula, orando com Messias, líderes religiosos e deputados evangélicos, transformou uma reunião administrativa em ato de consagração política. O gesto enviou um recado direto ao Senado. A futura sabatina deixou de ser apenas técnica. Rejeitar Messias poderá significar desafiar um segmento com peso eleitoral e presença social. O governo trabalha para associar eventual rejeição ao STF a uma rejeição às igrejas. Uma arma contra as articulações de Davi Alcolumbre, que ainda sonha em viabilizar Rodrigo Pacheco para a vaga.

 

A cruzada cristã de Lula envolve também o Vaticano. O recente encontro do presidente com o papa Leão XIV funcionou como gesto simbólico de proximidade com a Igreja Católica, enquanto a conversa com Samuel Ferreira consolidou uma aliança com o campo evangélico. Juntos, esses movimentos ampliam o espectro religioso que Lula busca atrair.

 

Só que essa guinada tem custo. Nenhuma mulher, nenhuma pessoa negra, nenhum nome ligado às minorias foi lembrado para o Supremo. O presidente que subiu a rampa cercado de diversidade tem priorizado o pragmatismo eleitoral nas indicações para a mais alta Corte do País. Mas, com a esquerda unida em torno do seu nome, Lula consegue tirar de letra as adversidades entre os progressistas. União que, diga-se de passagem, está ainda longe de acontecer à direita, o que dá ao presidente vantagem competitiva neste momento.

 

O projeto de Lula 4 é mais conservador nos costumes. A prioridade é a popularidade. E, nesse contexto, um casamento com dogmas cristãos oferece ganhos imediatos, mesmo que não comporte as concessões pedidas pela esquerda.

Mudam os tempos, e Lula muda com eles. O que não muda é o instinto de poder que guia cada movimento e que sustenta sua permanência no centro da política brasileira por tantas décadas (Estadão, 22/11/25)