15/12/2025

Lula rifa o Brasil para salvar Moraes - Por Paula Sousa

Lula rifa o Brasil para salvar Moraes - Por Paula Sousa

Getty Images

 

O dia em que Alexandre de Moraes e sua esposa, Viviane Barci de Moraes, foram retirados da lista de sancionados pela Lei Global Magnitsky da OFAC (Office of Foreign Assets Control) não pode ser lembrado como um marco sombrio ou como o fim do mundo. Mas como o dia em que Lula, oficialmente, trocou tal soberania por alívio político para seus comparsas.

 

O gesto levantou uma nuvem densa de fumaça e perguntas. Todas convergem para uma constatação incômoda e clara: o Brasil de Lula funciona como um balcão de negócios.

 

O que foi negociado? A caixa-preta de Brasília

 

A verdade precisa ser dita sem rodeios: não sabemos, e talvez nunca vamos saber, o que de fato foi negociado para que essa “gentileza” americana acontecesse.

 

A versão oficial, frágil e pouco convincente, afirma que a aprovação do PL da Dosimetria, (apelidado pelos americanos de “anistia”), pela Câmara dos Deputados teria sido um “passo na direção certa”, sinalizando melhora no ambiente de “lawfare”. É difícil levar isso a sério. Um passo tímido no Congresso, que sequer se sustenta, seria suficiente para derrubar sanções globais?

 

Nos bastidores, porém, o suposto cardápio da negociação, que ainda estaria em curso, é digno de um manual do entreguismo:

 

  1. Terras raras: concessão da exploração de terras raras brasileiras a empresas norte-americanas.
  2. Tecnologia e mídia: fim da censura e da perseguição contra redes sociais e plataformas digitais, não contra usuários brasileiros, mas contra empresas americanas, além do cancelamento de impostos e barreiras não tarifárias impostas às Big Techs.
  3. Geopolítica: encerramento da cooperação do Brasil com a China no setor de satélites, reduzindo a influência chinesa na região.
  4. Segurança regional: colaboração no combate ao crime organizado e ao narcotráfico e, de forma ainda mais sensível, ajuda nas negociações para a saída de Nicolás Maduro do poder na Venezuela.

 

Se esse acordo for real, Lula rasgou o próprio discurso. Entregou ativos estratégicos e alinhou a política externa brasileira aos interesses mais urgentes dos Estados Unidos. Tudo isso em troca de uma coisa só: aliviar a pressão internacional sobre Alexandre de Moraes e, por extensão, sobre a cúpula do poder em Brasília.

 

Não foi Trump quem cedeu. Ele apenas esticou a corda até o limite. Lula que entregou tudo o que Trump quis para livrar o amigo. Trump negocia como sempre negociou: sem amigos, apenas interesses.

 

A estratégia americana e a pressão sobre Trump

 

A decisão de Trump não foi um ato de bondade, mas uma manobra calculada. Ele próprio deixou isso claro em sua carta de 9 de julho de 2025 enviada a Lula. A pressão era máxima.

 

É preciso considerar também o contexto interno dos Estados Unidos. Trump enfrenta um cenário político delicado. No próximo ano haverá eleições de meio de mandato. Ele corre o risco real de perder a maioria na Câmara. Se isso acontecer, os democratas irão com tudo para cima dele.

Há ainda o desgaste causado por gravações envolvendo um de seus secretários, acusado de favorecer a Rússia nas negociações com a Ucrânia. Esse episódio pode, inclusive, evoluir para um processo de impeachment.

 

Trump precisa resolver a economia antes das eleições. Se falhar, sua posição política fica seriamente comprometida.

A questão da Venezuela pesa nesse cálculo. Manter navios americanos em prontidão custa milhões de dólares por dia. Se essa pressão não produzir resultados, Trump terá desperdiçado dinheiro do contribuinte americano, algo simplesmente inaceitável para o eleitor médio dos Estados Unidos.

Portanto, existem negociações por trás, e elas não são simples. Trump age como presidente dos EUA. Sua preocupação primordial é com o povo americano, não com o Brasil.

 

O manifesto de Trump ao Brasil: A ameaça do tarifaço

 

A carta enviada por Trump é um documento que merece leitura atenta. Com a sutileza de um trator, ele denunciou a “caça às bruxas” contra Jair Bolsonaro, condenou as “centenas de ordens de censura secretas e ilegais” do STF contra plataformas americanas e anunciou:

 

“Em parte por causa dos ataques insidiosos do Brasil contra eleições livres e da violação fundamental da liberdade de expressão de cidadãos americanos, a partir de 1º de agosto de 2025 cobraremos do Brasil uma tarifa de 50% sobre todas e quaisquer exportações enviadas para os Estados Unidos.”

 

A Magnitsky era apenas uma peça do tabuleiro. O verdadeiro arsenal era econômico. Segundo Trump, a relação comercial entre Brasil e EUA estava longe de ser recíproca. O tarifaço serviria para corrigir “graves injustiças do sistema atual”.

 

A saída apresentada foi clara: abrir mercados, eliminar tarifas e remover barreiras não tarifárias. O recado era direto. O Brasil está sob auditoria.

O fato de Moraes ter sido retirado da Magnitsky antes da queda do tarifaço e da revogação dos vistos, que ainda seguem em vigor ou em análise, mostra que o Brasil aceitou dar o “sinal de boa-fé” exigido por Washington. As negociações não terminaram. O gesto de Trump é um teste, não um acordo definitivo.

 

Joesley Batista: O carteiro do acordo

 

Nesse cenário de alta diplomacia e interesses cruzados, surge o intermediário ideal: Joesley Batista.

Ao lado de seu irmão Wesley, Joesley comanda a JBS/J&F, um dos maiores grupos econômicos do Brasil, com forte presença nos Estados Unidos e promessas de investimentos bilionários em um momento de dificuldades internas americanas, especialmente no agronegócio.

 

Ele teria sido o elo entre Lula e Trump, além de participar das conversas sobre a Venezuela.

Os Estados Unidos não lidam com o Brasil por afinidade ideológica. Lidam por interesse. Joesley representa a garantia de que promessas econômicas e compromissos de longo prazo serão cumpridos, independentemente de quem esteja no Planalto.

Trump não foi enganado. Ele negociou com quem tinha poder real.

 

Lula, o entreguista, e a soberania de fantasia

 

A retirada da Magnitsky em troca de concessões estratégicas escancara o cinismo da retórica da esquerda brasileira.

 

  • Lula traiu sua militância. O discurso contra o “imperialismo ianque” evaporou. O homem que acusava a direita de vender o patrimônio nacional agora negocia terras raras e interesses das “big techs” para salvar um ministro do STF.
  • Trump deixou de ser fascista. O pragmatismo falou mais alto. O vilão da democracia global virou parceiro necessário. Não é ideologia. É sobrevivência.
  • O Brasil foi entregue. Se confirmada, a negociação coloca o país sob tutela geoeconômica americana, com política externa e ativos estratégicos definidos fora de Brasília.
  • O processo da Trump Media continua. A ação movida pela Truth Social contra Moraes permanece como lembrete de que a paz é provisória.

 

A culpa é nossa? A inação brasileira

 

E o povo? O povo se manifestou. Os patriotas fizeram sua parte.

Vários analistas acreditam que os EUA esperavam mais do Brasil.

 

“Os Estados Unidos olharam e disseram: a oposição no Congresso não se organizou, não fez nada. Fizemos o que podíamos. Vocês não aproveitaram o impulso. Temos mais o que fazer.”

 

As sanções eram um catalisador externo para que o Congresso, os setores produtivos e a elite econômica pressionassem pelo fim do lawfare e da censura.

 

Nada aconteceu.

 

  • O Congresso não fez nada.
  • A indústria e a Faria Lima não se mobilizaram.
  • A direita se fragmentou.

 

A inação brasileira deu a Trump o álibi perfeito. Se nem a oposição se leva a sério, por que os EUA gastariam capital político por ela?

Trump sancionou quem era apontado como violador de direitos humanos. Impôs tarifas que prejudicaram até os próprios americanos. E nós, brasileiros?

 

Não falo de revolta popular. O povo se manifestou. Falo da inércia de nossas instituições, especialmente do Senado Federal.

Nada. Absolutamente nada foi feito.

 

O que vem pela frente

 

O pior talvez não seja o que foi negociado, mas aquilo que permanece oculto. Se envolveram terras raras e “big techs”, o País foi vendido. Se passaram por China e Venezuela, a política externa foi entregue. Lula e seus apoiadores sempre acusaram a direita de fazer exatamente o que Lula acabou fazendo.

 

Se tudo isso foi documentado, permanecerá sob sigilo, protegido pela continuidade do poder atual. Permitiriam que um governo de direita tivesse acesso a esse acordo? Por enquanto, o Brasil comprou um curto período de “paz” ao preço mais alto possível: a rendição de uma soberania de algodão doce e a prova de que a prioridade do governo Lula não é a nação, mas a autopreservação. O Brasil está à venda para salvar os poderosos. (Paula Sousa é historiadora, professora e articulista; 15/12/2025)