Lula se aproxima da eleição e se afasta da moderação – Editorial Folha
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Guilherme Boulos (PSOL-SP), indicado como novo ministro da Secretaria-Geral da Presidência - Leandro Paiva/Divulgação
- Nomeação de Boulos para ministério reforça pauta de esquerda e discurso de confronto na próxima eleição
- Em seu primeiro governo, Lula deixou de lado crenças petistas em prol da economia; tal movimento, tudo indica, será mais difícil desta vez
Mudanças ministeriais devem buscar, idealmente, melhoras na formulação e na gestão de políticas públicas. Ou, numa perspectiva mais pragmática, são úteis ao contemplar aliados capazes de fortalecer a sustentação política ao governo. A ida de Guilherme Boulos para a Secretaria-Geral da Presidência não se encaixa em nenhum dos dois critérios.
Graduado em filosofia com mestrado em psiquiatria, deputado por São Paulo em primeiro mandato, derrotado em disputas pela Presidência e pela prefeitura da capital, Boulos, 43, não dispõe de experiência administrativa nem formação que o credenciem naturalmente ao posto.
Seu partido, o modesto PSOL, conta com somente 14 dos 513 votos da Câmara dos Deputados e não tem nenhum representante entre os 81 senadores. De mais a mais, a legenda já apoia organicamente a administração petista.
Informa-se em Brasília que a missão do novo ministro será reforçar laços com os movimentos sociais à esquerda e intensificar a combatividade nas redes sociais, mirando a campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à reeleição. "Colocar o governo na rua", nas palavras do próprio Boulos, que surgiu na política como militante de um movimento de sem-teto.
Não deixa de ser coerente com outras trocas ministeriais que Lula promoveu nos últimos meses. Na mais significativa delas, alojou seu marqueteiro de campanha, Sidônio Palmeira, na Comunicação Social do Planalto.
Para a pasta das Relações Institucionais, responsável pelo diálogo com o Congresso, nomeou Gleisi Hoffmann, até então presidente do PT e ortodoxa na doutrina da sigla a ponto de se opor até às débeis tentativas da Fazenda de conter a gastança oficial.
Já estava claro desde o início de seu terceiro mandato que Lula não governaria com a frente ampla vendida na disputa presidencial de 2022 —os aliados ao centro praticamente só receberam postos periféricos na Esplanada. Agora, com a aproximação de 2026, o petista dá cada vez mais sinais de que se afasta da moderação em busca da reeleição.
O discurso do confronto ganhou força com as resistências do Congresso em aprovar propostas de aumento de impostos e, não menos importante, com o tarifaço de Donald Trump estupidamente apoiado pela direita bolsonarista, que ajudou Lula a recuperar algo de sua popularidade.
Após o bem-sucedido projeto que amplia a faixa de isenção do Imposto de Renda, aliados especulam agora sobre outras pautas caras à esquerda, como a gratuidade do transporte público ou a limitação legal das jornadas de trabalho —nesses casos o apelo eleitoral, claro, pesa mais do que considerações sobre viabilidade ou consequências adversas.
Em seu primeiro governo, Lula soube deixar de lado velhas crenças petistas, desde a campanha eleitoral, para fazer os ajustes necessários na economia. Esse movimento, tudo indica, será bem mais difícil desta vez (Folha, 23/10/25)

