17/11/2025

Marcha histórica, dívida climática e entraves; como foi 6º dia da COP30

Marcha histórica, dívida climática e entraves; como foi 6º dia da COP30

Foto Reprodução Blog O Liberal-Youtube

 

  • Manifestação em Belém reúne 70 mil em ato marcado por indígenas; países ricos acumulam débito de US$ 97,5 trilhões
  • Plano de Brasil e Azerbaijão de caminhos para financiamento climático esbarra em resistência de negociadores

 

As negociações da COP30 seguem em seu tradicional ritmo lento, agora com resistências expressas aos planos de Brasil e Azerbaijão para o chamado "mapa do caminho" até a meta de US$ 1,3 trilhão em financiamento climático. A disputa é mais sobre a legitimidade de discutir esse assunto em Belém e menos sobre o conteúdo da discussão, segundo o presidente da COP.

 

A quantia parece ambiciosa —e é, diante dos avanços concretos que ainda são tímidos—, mas é uma fração mínima do que os países desenvolvidos devem por suas emissões de carbono até aqui, segundo estudo do Ipea.

 

Mas o grande acontecimento do dia foi a marcha que reuniu cerca de 70 mil pessoas em Belém. As ruas da capital paraense foram tomadas pelos protestos de diversos movimentos sociais, em especial o de grupos indígenas.

 

Leia a seguir um resumo do que é mais importante saber sobre este sábado (15).

 

  1. Países se dividem, e plano de US$ 1,3 tri para clima sofre resistência

 

O documento produzido pelas presidências da COP29 e COP30 para sugerir caminhos rumo ao financiamento climático de US$ 1,3 trilhão ao ano dividiu as delegações. Países como JapãoChina e Quênia manifestaram ceticismo —não pelo conteúdo técnico, mas por entenderem que o texto não integra o mandato oficial de negociação da COP, segundo disseram.

Já NoruegaReino Unido e União Europeia expressaram apoio e até sugeriram formas de acompanhar a implementação do plano ao longo do tempo.

 

O presidente da COP30, André Corrêa do Lago, ressaltou que a resistência se deveu à legitimidade do debate dentro da conferência, já que alguns pontos afetam instituições multilaterais como FMI e Banco Mundial. Ele afirmou estar satisfeito com a discussão e disse que o mapa do caminho seguirá sendo trabalhado mesmo após o fim da conferência, como parte da presidência brasileira da COP.

 

O estudo reúne contribuições de governos, bancos, empresas e pesquisadores e propõe rever regras financeiras, ampliar o acesso de países em desenvolvimento ao capital privado e criar novas fontes de financiamento, incluindo taxações e mecanismos como mercado de carbono e troca de dívida por ação climática.

2.   Marcha durante a COP30 reúne cerca de 70 mil pessoas em Belém

Foto Reprodução Blog A Crítica

 

A Marcha Global pelo Clima levou cerca de 70 mil pessoas às ruas de Belém durante a COP30, em um ato marcado por diversidade, música e reivindicações por justiça climática. Movimentos sociais, organizações internacionais e milhares de indígenas da Amazônia puxaram o cortejo, que percorreu 4 km com faixas, cantos e performances —incluindo um "funeral dos combustíveis fósseis".

 

Foi a primeira grande marcha em uma COP desde 2021, após anos de conferências em países com restrições à liberdade de expressão. As pautas mais fortes vieram dos povos indígenas, especialmente do baixo Tapajós, que lideraram a caminhada pedindo a revogação de uma hidrovia na região, o cancelamento da Ferrogrão e o fim da exploração de petróleo na foz do Amazonas.

 

Lideranças destacaram que esta é a maior participação indígena da história das COPs e reforçaram a importância dos territórios tradicionais para enfrentar a crise climática. Entre críticas a governos e apelos por ação urgente, o clima foi de mobilização intensa, mas pacífica. O grupo se dispersou sem incidentes ao chegar à Aldeia Amazônica, encerrando um dos eventos mais simbólicos da COP30.

 

  1. Estudo calcula que países devem US$ 97 trilhões ao mundo por poluição

 

Os países desenvolvidos acumularam uma "dívida climática" estimada em US$ 97,5 trilhões por terem ultrapassado suas cotas de emissões desde 1990, segundo estudo do Ipea. A pesquisa calcula quanto cada nação poderia emitir para manter o aquecimento global dentro de 1,5°C e atribui um valor econômico ao excesso de carbono lançado na atmosfera. Os EUA lideram o passivo, seguidos por Japão e Brasil —este último devido principalmente ao desmatamento.

 

O estudo defende que essa dívida funcione como um instrumento de justiça climática, não de punição. Propõe medidas como taxação de bilionários e criação de impostos mínimos globais para ajudar países a compensar danos, remover carbono ou restaurar áreas degradadas. A pesquisa também destaca que grandes emissores atuais, como a China, ainda não entraram no "vermelho" graças ao tamanho de sua população, mas alerta que isso não legitima novas emissões sem controle.

 

As conclusões reforçam o descompasso entre o tamanho da dívida histórica e o que está sendo prometido internacionalmente (Folha, 16/11/25)