04/11/2025

O Alvo é Castro: A trama de Moraes e do TSE – Por Paula Sousa

O Alvo é Castro: A trama de Moraes e do TSE – Por Paula Sousa

Foto Marcelo Camargo Agência Brasil

A operação policial no Rio de Janeiro contra o crime organizado provocou algo muito mais significativo do que uma simples resposta do governo. O que se vê agora é uma movimentação calculada — e perigosamente coordenada — entre instituições que deveriam servir à Justiça, mas parecem agir com objetivos políticos.

A urgência de Alexandre de Moraes em intervir e o rápido agendamento de um julgamento que pode cassar o governador Cláudio Castro pelo TSE levantam uma questão que não pode mais ser ignorada: até onde vai o uso das instituições para eliminar adversários políticos?

A inesperada (e questionável) viagem de Moraes ao Rio

A visita-relâmpago de Alexandre de Moraes ao Rio de Janeiro é o centro dessa tempestade. Sob a desculpa de “audiências” e “reuniões” sobre segurança pública, o ministro assumiu a relatoria da ADPF das Favelas e passou a agir, segundo juristas, de forma irregular e inconstitucional.

A questão é clara: um ministro do Supremo não investiga, não interroga e não comanda operações policiais. O papel de um juiz é julgar — não agir como investigador, chefe de polícia, muito menos como um governador paralelo.

A ADPF, por definição, trata de princípios jurídicos abstratos, não de fatos concretos. Portanto, quando Moraes convoca autoridades para uma espécie de “audiência inquisitorial”, ele deixa de lado o campo do Judiciário e pisa no campo político. É um claro desvio de função que fere a Constituição e desafia o conceito de separação de poderes.

O gesto não é apenas irregular — é simbólico: mostra o avanço de um poder que não aceita limites e de um ministro que acredita estar acima das instituições que deveria respeitar.

Reuniões secretas e o esvaziamento da autoridade

Os bastidores dessa visita apenas reforçam a sensação de algo anormal. A reunião entre Moraes e o governador Cláudio Castro foi conduzida a portas fechadas, com a presença vetada de secretários de Estado.

Por que um ato judicial, que deveria ser totalmente transparente, é conduzido em absoluto sigilo? E se, como alguns veículos de imprensa afirmam, o encontro teve caráter “político”, a gravidade é ainda maior — porque isso significa que um ministro da Suprema Corte atuou fora de suas atribuições.

O segundo encontro, com o prefeito Eduardo Paes, é ainda mais suspeito. Paes não tem qualquer relação com a operação policial nem com a ADPF, mas é claramente um adversário político de Castro. O que justificaria uma conversa privada com Paes no auge da crise? O cenário é nítido: um jogo político de bastidores travestido de preocupação institucional, no qual um ministro da Corte parece escolher com quem dialoga — e contra quem age.

O "timing" suspeito da Justiça Eleitoral

Enquanto o ministro Moraes fazia política no Rio, o Tribunal Superior Eleitoral, sob seu círculo de influência, desenterrava um processo de cassação contra Cláudio Castro que estava parado desde maio. E não por acaso: o julgamento foi marcado logo após a operação policial que deu visibilidade nacional ao governador.

O “timing” é perfeito demais para ser coincidência. O padrão também é conhecido: qualquer nome da direita que ganha projeção ou ameaça o domínio político de Brasília torna-se alvo de algum processo judicial.

Não se trata mais de zelar pela lisura eleitoral, mas de usar a Justiça como arma política. O TSE e o STF, sob a justificativa de “defender a democracia”, passaram a agir como árbitros de quem pode ou não concorrer, de quem deve ou não continuar governando. No caso de Castro, o objetivo parece claro: neutralizar um adversário que mostrou força política e competência administrativa — algo que o governo federal teme profundamente.

O que o governo federal teme?

Cláudio Castro não se limitou a repetir o discurso vazio de segurança pública. Ele agiu, e de forma contundente. Firmou cooperação com órgãos internacionais como o DEA e o FBI e chegou a enviar um relatório ao governo Donald Trump pedindo que a facção Comando Vermelho fosse classificada como organização terrorista.

Esse gesto rompeu com a postura covarde e conivente de Brasília diante do crime organizado. E é exatamente isso que parece ter incomodado. Classificar uma facção como terrorista implicaria em abrir as portas para sanções internacionais e para o envolvimento direto dos Estados Unidos no combate ao narcotráfico — algo que o governo Lula evita a todo custo.

Enquanto Lewandowski tenta justificar a inércia federal alegando “limitação orçamentária”, o país arrecada mais de R$ 3,3 trilhões. A desculpa não se sustenta. Castro, por outro lado, mostrou ação, resultados e independência — três coisas que o sistema não perdoa.

Perseguição política ou zelo institucional?

Somando os fatos, o quadro é claro: há uma perseguição em curso, e Cláudio Castro é apenas o alvo da vez.

Sua disposição em agir contra o crime com apoio internacional e sua tentativa de colocar o Rio de Janeiro fora das garras política de Brasília parecem ter despertado a fúria de um sistema que não tolera independência.

A sequência de eventos — as ações de Moraes, as reuniões secretas, o julgamento relâmpago no TSE — forma um enredo que cheira mais a retaliação do que a zelo institucional.

Castro expôs uma verdade incômoda: o problema do Brasil não é falta de lei, mas o uso seletivo dela.

E é justamente por isso que ele precisa ser silenciado.

A pergunta que resta é perturbadora: o que Moraes e o governo Lula tanto temem que seja revelado no Rio de Janeiro? (Paula Sousa é historiadora, professora e articulista; 4/11/2025)