12/11/2025

O Circo Climático da “Flop30” – Por Paula Sousa

O que, a princípio, seria a gloriosa COP30 — o cenário para o “visionário” estadista brasileiro apresentar o país como líder global em sustentabilidade — transformou-se rapidamente na notória “Flop30”. O evento, meticulosamente organizado e exorbitantemente caro, com despesas estimadas em cerca de R$ 5 bilhões (excluindo valores colocados em sigilo), transformou-se em um espetáculo ridículo e de alto custo. O Brasil, que buscava reconhecimento como o grande protetor da Amazônia, acabou conquistando, em tempo recorde, um lugar de destaque no pódio internacional da vergonha.

 

A implementação do plano foi marcada por uma série de falhas que expuseram, em cada aspecto, uma hipocrisia ambiental de enormes proporções. Belém foi o exemplo perfeito de uma administração que promete um futuro sustentável, mas oferece um presente caótico, movido a diesel e inundado por um “toró” que nem o público estrangeiro conseguiu ignorar.

 

A grande enchente e o calvário logístico

 

A Flop30 começou com um sinal digno do desastre que viria: se o objetivo era simular os efeitos extremos das mudanças climáticas, a organização superou as expectativas. A abertura foi marcada por um começo trágico, com fumaça preta e tóxica de um incêndio nas áreas internas do aeroporto cobrindo o local do evento, levando até chefes de Estado a questionarem se a conferência não era, ironicamente, sobre combate à poluição.

 

Esse foi apenas o início do espetáculo de horrores que se seguiu. O calor de 40ºC, somado à falha total dos sistemas de ar-condicionado, transformou os pavilhões em saunas de luxo, forçando as delegações a uma busca desesperada por leques.

 

A chegada do “toró” evidenciou a falta de profissionalismo da organização: a chuva intensa e esperada transformou as regiões privilegiadas da Blue Zone em lagos e a entrada do evento em um pântano intransitável. Ainda bem que o Lula veio de navio, assim ele pode desembarcar na porta.

 

A falta de drenagem adequada em uma cidade conhecida pelas chuvas só pode ser descrita como um ato de pura negligencia. O resultado foram goteiras nos pavilhões, áreas de trabalho alagadas e a prova de que o Brasil adota uma verdadeira imersão prática na crise climática. Tudo isso com preços absurdos, ameaças de facções criminosas e o colapso completo da nossa reputação global. O objetivo era mostrar competência; o resultado foi um vexame tão grande que só resta rir.

 

A nova matriz energética: O templo do diesel

 

Em um evento cujo propósito era condenar os combustíveis fósseis, a ironia atingiu o auge. Enquanto líderes mundiais discursavam sobre a urgência da transição energética, o pavilhão principal funcionava com 160 geradores a óleo diesel. A conferência do clima era movida a fumaça preta.

 

O governador, cujo estado abriga grandes hidrelétricas, preferiu o diesel, escolhendo poluir o ar e a imagem de Belém. Ficou mais barato do que investir em energia limpa — trocando o simbolismo da COP30 pela “viabilidade logística” do combustível fóssil.

 

O contrato de R$ 38 milhões exigia biocombustível 100% renovável, mas “por razões logísticas e de segurança”, o diesel comum foi usado, com apenas 10% de conteúdo verde. A hipocrisia é tão densa que poderia ser vendida como piche: condenamos o petróleo, mas só do lado de fora da tenda climatizada.

 

Para finalizar o circo da incoerência e garantir que os convidados VIP não se atrasassem, o governo acelerou a construção da Avenida Liberdade, que tem 13 km de extensão. O presidente Donald Trump e outras personalidades internacionais criticaram a obra por ter devastado uma parte da floresta amazônica. A razão? Facilitar a chegada dos ambientalistas de luxo ao evento, partindo do aeroporto. A lógica brasileira que financiou o Flop30 — um escândalo que não se tornou, mas nasceu, movido a diesel e desmatamento — vamos derrubar árvores para “salvar a floresta”.

 

A vaca de metano: O agrobusiness bizarro e a ciência de celebridade

 

O circo da Flop30 não estaria completo sem a participação das celebridades ativistas, personificadas pela funkeira "internacional" Anitta, a "grande cientista da ecologia". A cantora já defendeu uma dieta de baixo impacto ambiental, apresentando argumentos que deixariam qualquer estudante com um QI de 83 morrendo de inveja, como o de que o "peido da vaca" causa "grande impacto ambiental".

 

Defendeu que a carne deveria ser mais cara, pois, segundo ela, as empresas não pagam o “valor real da água usada”. No entanto, a hipocrisia chegou junto com o churrasco: Anitta prega o veganismo ao público, mas admitiu comer carne em casa. Em resumo: “dieta para vocês, churrasco para mim”.

 

O problema desse tipo de ativismo barato é a desinformação que ignora a ciência verdadeira. O metano emitido pelo gado (biometano) se decompõe naturalmente na atmosfera e não é o vilão principal.

 

Enquanto o agronegócio brasileiro se moderniza com fazendas que capturam mais carbono do que emitem, a agenda climática global prefere culpar o boi de um país em desenvolvimento, ignorando as chaminés industriais dos países ricos.

 

A hipocrisia geopolítica: A China ri, o Brasil paga

 

A história da “vaca peidante” faz parte de uma estratégia geopolítica perigosa: de repente, o vilão ambiental deixou de ser a indústria dos países ricos e passou a ser a agricultura dos países em desenvolvimento.

 

O presidente francês, Emmanuel Macron — o eterno inimigo do agro —, depois de apanhar da esposa, já afirmou no passado a narrativa enganosa, afirmando que “depender da soja brasileira é o mesmo que apoiar o desmatamento da Amazônia”. Isso é completamente falso: a soja ocupa apenas 0,7% do bioma amazônico.

 

A hipocrisia europeia é muito clara: enquanto agricultores europeus protestam por terem de preservar apenas 4% de suas terras (e ainda recebem subsídios), o produtor rural brasileiro é obrigado a preservar até 80% na Amazônia, destinando, em média, quase metade de sua propriedade à vegetação nativa.

 

Diferentemente dos europeus, o produtor brasileiro não recebe nenhum subsídio por essa preservação — paga impostos até sobre áreas intocadas. E, em vez de defender o próprio agro e cobrar compensações, o governo brasileiro preferiu abraçar a narrativa estrangeira, aceitando o papel de culpado na farsa global. Uma verdadeira obra-prima de incompetência diplomática.

 

O Plano Clima e a demonização do prato

 

O Plano Clima que será apresentado na Flop30 reflete uma agenda ideológica que desconsidera tanto a ciência quanto o Código Florestal. O documento coloca a culpa do desmatamento ilegal sobre o agro, ignorando que 49% das propriedades rurais permanecem intactas e que as plantações ajudam a capturar carbono.

 

O absurdo maior é a meta de reduzir as emissões do agro em 50%, enquanto outros setores poderão aumentá-las. Resumindo, a política climática brasileira quer inviabilizar o uso produtivo da terra e prejudicar justamente o setor que mais fortalece nossa economia: a produção de alimentos.

 

A comparação internacional mostra o quanto o Brasil se sabota: a China, responsável por um terço das emissões globais, promete reduzi-las em apenas 10% (a partir de 2030), enquanto o Brasil decide cortar até 67% com base em dados antigos e mentirosos. O maior poluidor do mundo protege sua economia; o Brasil faz o contrário, sacrificando seu setor mais eficiente — o agro — sob a falsa ideia de que ele é o vilão do meio ambiente.

 

A Flop30 ainda está em andamento, mas já se mostra não apenas um evento fracassado; é o retrato fiel do que o atual governo faz com o País: um espetáculo caro, desorganizado e hipócrita diante dos olhos do mundo. O único legado que se desenha, inegavelmente, é a piada (Paula Sousa é historiadora, professora e articulista; 12/11/2025)