21/11/2025

Participação do agro na COP 30 denota setor “subrepresentado”

Participação do agro na COP 30 denota setor “subrepresentado”

Evento de nível ministerial na agenda da COP 30. Participação do agronegócio na conferência é alvo de elogios e questionamentos — Foto: Rafa Neddermeyer/COP30 Brasil Amazônia/PR

 

Dirigente da Abag afirma que presença é pequena, mas enviado para os estados da Amazônia Legal vê elevada exposição no evento.

 

A representatividade do agronegócio na cúpula central dos debates da 30ª Conferência do Clima (COP 30) gera avaliações divergentes de lideranças ligadas ao setor, que estão em Belém, cidade que sedia o evento. Há quem diga que a participação do setor é pequena e deixa a desejar. E quem avalie que a exposição do agro brasileiro é a maior já vista em uma COP.

 

Entre os pontos de crítica nos bastidores, está a ausência do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, em discussões com outros países. Fávaro chegou à COP na segunda-feira (17/11) e concentrou sua participação na Agri Zone, espaço dedicado ao setor. Na terça-feira (18/11), ele cumpriu agenda oficial no município de Tomé-Açú (PA) antes de voltar à conferência.

 

"O setor consegue falar para fora da bolha, mas tem poucas representações nas discussões principais", diz o diretor da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) e presidente do Instituto Equilíbrio, Eduardo Bastos.

 

Segundo ele, o Ministério da Agricultura teve menos de 20 credenciais para as mesas de negociação da "Blue Zone", área que concentra as discussões entre autoridades nacionais e internacionais, e de onde saem as principais decisões. "Outros ministérios tiveram 300, 400 credenciais", compara.

 

Um dos itens vistos como essenciais para o agronegócio é o debate acerca do mercado de carbono. "O agro tem condição de gerar excedente de crédito, que pode ser vendido no mercado brasileiro, mas a grande oportunidade é exportar crédito de carbono, mas para avançarmos nisso precisamos intensificar a presença nas discussões", pontua Bastos.

 

"É uma pena que estejamos subrepresentados", acrescentou.

Ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, participa de evento na COP 30. "Não devia ter vindo?", questionou — Foto: Rafa Neddermeyer/COP30 Brasil Amazônia/PR

 

Nos corredores da COP, e sob a condição de anonimato, interlocutores ligados ao agro ressaltam as restrições de acesso à Blue Zone. Há casos de representantes do setor com cadeiras em órgãos internacionais que ficaram de fora desta área.

 

“A maioria dos líderes globais e ministros do mundo inteiro esteve aqui na semana passada. A segunda semana é, sobretudo, de discussões técnicas, e onde se chega a conclusões que virarão acordos. Chegar neste momento foi um tiro no pé”, diz um deles, com conhecimento sobre as discussões.

 

Paralelamente, a sociedade civil, empresas e representantes setoriais têm acesso à “Green Zone”, com a realização de eventos menores onde há também discussões relativas à produção agropecuária. Mas é na AgriZone que a participação do setor se concentra, onde há eventos, debates e áreas de demonstração técnica sobre sustentabilidade nas cadeias produtivas.

 

Algodão naturalmente colorido da Embrapa é um dos destaques em exposição na Agro Zone — Foto Guilherme Lemos

 

No geral, as avaliações ouvidas pela reportagem da Globo Rural sobre o espaço são positivas. Entretanto, o distanciamento geográfico das demais áreas da COP desagradou, uma vez que limita o acesso de pessoas que não têm relação com o setor, mas são um público de interesse.

 

Com base em dados da Embrapa, Bastos, da Abag, afirma que o espaço da AgriZone tem recebido cerca de 2 mil pessoas diariamente, das quais 10% seriam estrangeiras.

 

"Estamos em um esforço para trazer as pessoas para cá (Agri Zone), porque quando quem não é do agro vê as demonstrações, fica impressionado. No calor do Pará, as áreas com florestas ou integrações deixam o solo muito mais fresco, fica óbvio o impacto das mudanças climáticas e como a agricultura pode contribuir com a solução para isso", ressalta.

 

Indagado pela Globo Rural sobre as críticas, após um evento na Agri Zone, o ministro ressaltou que não tinha nada a dizer sobre o assunto e ironizou os questionamentos do setor. “Não devia ter vindo?”

 

“Agro está no centro da discussão”

 

O secretário-executivo do Consórcio dos Estados da Amazônia Legal, Marcello Brito, rebate as queixas e diz discordar da avaliação de que o agronegócio esteja pouco representado na COP 30. Ele explica que os negociadores brasileiros ligados ao setor são os mesmos de outras COPs, e que existem procedimentos para que eles ocupem estas posições.

 

"Dizer que não estamos participando ou estamos subrepresentados, eu discordo em 100%", enfatiza. Em sua visão, nunca houve uma COP onde a agricultura e pecuária esteja tão no centro da discussão como a de Belém, que tem um espaço dedicado a isso.

 

Britto destaca que, desde o início do evento, houve oportunidade para se fazer uma "apresentação maravilhosa" da agropecuária brasileira para 160 países, que "nunca foram tão expostos" ao tema como agora.

 

"Se a gente vai conseguir os financiamentos ou não, é responsabilidade nossa. Não falta oferta de capital no mundo, temos problema de demanda de projetos", afirma.

 

Para ele, os estrangeiros estão dispostos a investir no país, e se o projeto não conseguir investimento, é porque não foi apresentado da maneira correta, mas a perspectiva é que bons avanços saiam da COP neste sentido (Globo Rural, 19/11/25)