09/12/2019

Pesquisa e tecnologia fazem o País bater recorde na exportação agrícola

Pesquisa e tecnologia fazem o País bater recorde na exportação agrícola

Legenda: Frederick Wolters, produtor de soja, milho, feijão e suínos na cidade de Itararé, em São Paulo

 

Puxadas pelos embarques de milho, algodão e carne, vendas devem registrar crescimento de 5% e atingir 200 mi de toneladas neste ano; setor se apoia em avanços tecnológicos para elevar sua produtividade e ganhar novos mercados no exterior.

O produtor rural Frederick Wolters, descendente de holandeses que deixaram a Europa se aventurar na lavoura no Brasil, aponta o milharal que mancha de verde as terras vermelhas de Itararé, no sudoeste de São Paulo. Quase 80% das 180 toneladas de milho que espera colher nesta safra vão ficar ali mesmo, alimentando mais de 20 mil suínos, alojados em uma granja na fazenda Agropecuária Ponte Alta. Ele vê o bom momento vivido por dois importantes negócios da propriedade, com a valorização do milho e da carne suína, e não esconde o entusiasmo. “É o momento de recuperar os anos difíceis e de guardar dinheiro para o futuro”, diz.

Wolters é um dos beneficiários de um cenário que levará o agronegócio brasileiro a bater mais um recorde este ano. As exportações, puxadas pelo aumento expressivo das vendas de milho, algodão e carne, devem atingir as 200 milhões de toneladas, um crescimento de mais de 5% em relação a 2018. Em dez anos, o crescimento das exportações supera os 70%.

A cada ano, o agronegócio se consolida como um dos principais pilares da economia brasileira. Apoiado em muita pesquisa e tecnologia, o setor tem conseguido elevar de forma consistente sua produtividade e ganhar mercado mundo afora, o que não acontece com outros segmentos. Dados da consultoria MB Agro mostram bem isso: na safra 2008/09, a produção brasileira foi de 135 milhões de toneladas de grãos, para uma área plantada de 42,79 milhões de hectares. Na safra 2018/19, a área plantada subiu 16,3%, para 49,7 milhões de hectares, enquanto a produção teve um salto muito maior, de 78%, para mais de 240 milhões de toneladas.

“Da porteira para dentro (ou seja, sem considerar a questão de logística, ainda um enorme gargalo no País), a agricultura avança pela combinação de uma série de fatores, que vão do uso intenso de tecnologia, de manejo, melhoria genética, controle de pragas”, diz José Carlos Hausknecht, sócio da MB Agro. “E o Brasil ainda conta com um fenômeno que não ocorre em países do Hemisfério Norte, que é conseguir ter mais de uma safra por ano, por causa do clima favorável”, diz Hausknecht.

Segundo João Martins, presidente da Confederação Nacional da Agricultura, o setor vive um momento favorável e as perspectivas para 2020 também são positivas. A produção recorde de grãos deste ano, de mais de 240 milhões de toneladas, deve subir mais no ano que vem – a projeção inicial da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) é de aumento de 6,4%. Atualmente, o Brasil é o terceiro maior produtor agrícola mundial, atrás de União Europeia e Estados Unidos e à frente da China.

Queda na soja

Curiosamente, esse bom desempenho do agronegócio em 2019 vem a despeito do que acontece com a soja, principal produto agrícola brasileiro e carro-chefe das exportações. O produto teve as vendas e os preços prejudicados pelos atritos comerciais entre Estados Unidos e China, segundo a pesquisadora do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da USP (Cepea/Esalq), Andréia Adami. “O volume total embarcado foi maior por causa das vendas de carnes, milho, algodão, etanol, café e frutas, mas os produtos do complexo soja e o açúcar tiveram seus embarques reduzidos em 2019”, diz.  A exportação de soja foi de 12% menor.

Essa queda na venda e no preço da soja faz com que, em receita, as exportações este ano fiquem menores que as registradas em 2018 – um recuo de US$ 101 bilhões para US$ 96 bilhões. Mesmo assim, a soja segue como o carro-chefe das exportações brasileiras, devendo atingir uma receita de US$ 32,2 bilhões.

Neste ano, o milho foi o produto brasileiro com maior alta nas vendas externas, tanto em valor (123%) como em volume (130%). A alta produção interna, superior a 100 milhões de toneladas, e a quebra na safra americana favoreceram as vendas. O país é o terceiro maior produtor de milho e o segundo maior exportador. Em volume, o algodão (86% de aumento) e o café verde (11,3%) também tiveram destaque, segundo o Agrostat Brasil, sistema de dados do governo federal. A alta nas vendas de carne brasileira também foi decisiva para o volume das exportações. A bovina aumentou 10% e o frango in natura, 9%.

Carnes em alta

A valorização das carnes foi um fator importante para melhorar o desempenho do agronegócio brasileiro em 2019, segundo estudos do Cepea/Esalq. Uma das causas desse desempenho é a demanda maior causada pela peste suína em países asiáticos desde setembro de 2018. A exportação de bovinos aumentou 9,3%, e o preço da arroba do boi atingiu patamares históricos. Em 27 de novembro, chegou a R$ 231, nível nunca antes alcançado.

Na carne suína, a situação é semelhante. O produtor Frederick Wolters ­ - que toca sua fazenda em sociedade com a irmã, Marian Hendrika Wolters -, reconhece que a suinocultura vive momento de euforia, com o preço do suíno vivo em torno de R$ 6 o quilo, custo de R$ 4,40 e margem de lucro líquida de até 20%. “Estamos em processo de recuperação, após anos difíceis. Há um ano, vendíamos suíno a R$ 4,15 o quilo. Na época, o milho estava a R$ 31 a saca e hoje está a R$ 45”, diz. “Analistas dizem que esse mercado fica favorável por mais um ano, mas a margem de lucro vai ficar mais apertada. Nossa expectativa é reduzir ao máximo a tomada de capital de giro, investir na fábrica de ração e ter sobra para o giro quando ficar difícil outra vez” (O Estado de S.Paulo, 8/12/19)