05/12/2025

PIB do agro impulsiona outros setores, mas 2026 deve trazer desafios

PIB do agro impulsiona outros setores, mas 2026 deve trazer desafios

Efeito positivo da agropecuária se espalha por toda a economia — Foto: Wenderson Araujo/CNA

 

Cenário que se desenha é desafiador, em razão de que nem preço e nem volume tendem a crescer.

 

O Produto Interno Bruto (PIB) do setor agropecuário teve crescimento de 0,4% no terceiro trimestre, na comparação com o segundo. A alta veio bem acima da projeção mediana de queda de 1,8%, esperada por analistas de consultorias e instituições financeiras consultados pelo Valor.

 

Para Fábio Silveira, senior advisor da Volt Partners, o desempenho da agropecuária no terceiro trimestre de 2025 reflete um aumento expressivo na produção de grãos — especialmente milho, que exerce maior pressão altista nesse período. Houve também redução na produção de cana-de-açúcar, mas insuficiente para neutralizar o avanço do setor agropecuário, conforme observa o especialista.

 

Silveira destaca que o efeito positivo da agropecuária se espalha por toda a economia. No terceiro trimestre, a receita agrícola cresceu cerca de 10% em relação ao mesmo período de 2024. “Esse aumento da receita acaba beneficiando outras atividades da economia brasileira, principalmente serviços. Isso também fortalece o crescimento da economia como um todo", acrescenta.

 

Segundo ele, esse impacto não é apenas imediato: a receita agrícola auferida nos primeiros trimestres tende a se refletir nos seguintes, sustentando o nível de atividade. O PIB do agro tem efeito real sobre setores como transporte, que apresentou bom desempenho devido à maior movimentação de produtos. “Se a receita agrícola tivesse caído, poderia até haver aumento de produção física, mas a queda prejudicaria indústria e serviços”, explica.

 

Para o próximo ano, de acordo com Silveira, o cenário que se desenha é desafiador, em razão de que nem preço e nem volume tendem a crescer. "2026 vai ser um ano em que a receita agrícola deve decepcionar. A agropecuária, em particular soja e grãos, vai inspirar cuidados maiores."

 

As projeções da FGV Ibre indicam que o PIB do agro deverá crescer 8,3% em 2025. O professor Felippe Serigati, da FGV Agro, ressalta o tamanho da safra 2024/2025 de milho, considerada a maior da história. Uma vez que houve atraso no plantio, o cenário "empurrou" o calendário da segunda safra, provocando impacto no terceiro trimestre do ano.

 

Além da safra recorde, o milho vive momento de demanda aquecida tanto para a produção de ração animal quanto para a produção de etanol, com diversas usinas sendo inauguradas no país.

 

A pecuária, por sua vez, conta com volume de abates crescente: "O fato de ter conseguido fazer algo ligeiramente superior ao que foi o ano passado já é para chamar a atenção", observa o especialista. Cenário que, segundo ele, não deve acontecer no ano que vem. "Em algum momento vai ter de haver retenção de fêmeas. O mercado de reposição está apertado."

 

A projeção de crescimento do agro, porém, não esconde problemas em alguns segmentos. Culturas como algodão passam por momentos menos confortáveis, observa Serigati, enquanto o setor da laranja respirou mais aliviado do que outros com o tarifaço dos Estados Unidos.

 

No caso do arroz, mesmo com uma safra grande, a rizicultura enfrenta problemas. "O fato de crescer em volume não significa que todo mundo está com receita confortável", explica Serigati (Globo Rural, 4/12/25)