15/03/2022

Seca reduz renda agrícola no Sul, e MT avança em participação nas receitas

Legenda: Plantação danificada pela seca em Iporã do Oeste (SC) – Foto Aleisson Ludtke/Epagri

Plantação  danificada pela seca Foto Aleisson Ludtke Epagri

Safra de verão aumentou custos para todos, mas ganhos estarão localizados em poucas regiões.

O agronegócio de 2022 vai provocar uma dicotomia entre o Sul e as demais regiões do país. A safra de verão de 2021/22 foi caracterizada por pesados aumentos de custos para todos, mas as receitas vão estar localizadas em poucas regiões.

A intensa quebra na produção agropecuária do Sul voltou a elevar os preços das commodities, que já vinham em alta desde o ano passado.

Quem produzir bem vai se beneficiar dessa elevação. Para os demais, a conta não fecha. O estrago financeiro será maior na região Sul, constituída por propriedades menores de terra. Já o Centro-Oeste, que concentra grandes produtores, terá receitas melhores neste ano.

Soja e milho praticamente dominam as culturas no Sul, e elas estiveram entre as mais afetadas nesta safra de verão.

A região Sul teve uma quebra de 23% na produtividade de milho, segundo dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). A redução foi de 34% no Rio Grande do Sul e de 24% no Paraná.

Já as regiões do Centro-Oeste e Nordeste, com menor importância na produção do cereal nesta primeira safra, obtiveram aumentos de 7% e de 9, respectivamente.

O cenário para a soja não é muito diferente. Pelas contas da Conab, o Sul deverá ter uma queda de 42% na produtividade da safra atual, enquanto as demais regiões praticamente mantêm o volume da anterior.

Os produtores do Paraná vão obter apenas 2.065 kg por hectare, o menor volume dos últimos 30 anos; e os gaúchos, 1.767 kg, o menor em dez anos. Já os produtores de Mato Grosso vão conseguir produtividade recorde de 3.592 kg, informa a Conab.

A seca muda a configuração das receitas neste ano, que vão para Mato Grosso. Em 2020, os mato-grossenses detinham 16% do VBP (Valor Bruto da Produção) nacional —volume produzido dentro da porteira, multiplicado pelo preço dos produtos.

Neste ano, tendo em vista o resultado desastrado da primeira safra no Sul, Mato Grosso deverá ficar com 18% das receitas agropecuárias do país. A estimativa é que o VBP atinja R$ 1,21 trilhão, conforme dados divulgados pelo Ministério da Agricultura nesta segunda-feira (14).

São Paulo e Minas Gerais também têm participação maior, mas os grandes perdedores são Paraná e Rio Grande do Sul.

No ano passado, os paranaenses detinham 14% do VBP nacional; e os gaúchos, 10,5%. Neste ano, serão 11% e 8%, respectivamente. O total da região cai para 23%, após ter atingido 29% em 2021.

"É um ranking fora da curva e faz parte do jogo", diz Antônio da Luz, economista-chefe da Farsul (Federação da Agricultura o Estado do Rio Grande do Sul). Assim como aconteceu nos estados do Sul neste ano, a seca poderá ocorrer nos do Centro-Oeste em outro, afirma.

As perdas, no entanto, são de grande relevância para a economia da região. O importante agora é ter uma agenda consistente na busca de soluções e na tomada de decisões. Não é só o campo que vai perder. Dos 67 segmentos da economia, conforme dados do IBGE, 63 são impactados pelo crescimento ou pela queda da agropecuária, segundo Luz.

A economia é circular. As máquinas, antes de chegar ao campo, saem das indústrias, passam por revendas e exigem uma área de serviços. A agroindústria envolve tradings, cooperativas e agrosserviços.

Para cada R$ 1 que a agropecuária deixa de arrecadar, R$ 3,2 deixam de circular nas indústrias, no setor de serviços e em pagamentos de impostos. Essa deverá ser a seca com os maiores efeitos sobre a economia gaúcha, calcula o economista da Farsul.

A projeção de um PIB (Produto Interno Bruto) positivo em 0,58% para este ano se converteu em uma perspectiva de queda de 8% no estado, afirma ele (Folha de S.Paulo, 15/3/22)