27/05/2025

Setor privado se une para tentar barrar no Congresso aumento do IOF

Setor privado se une para tentar barrar no Congresso aumento do IOF

Entidades que assinam manifesto têm atuação forte de lobby no Congresso, o que pode pressionar o governo Foto  Wilton Júnior Estadão

 

Representantes da indústria, agronegócio, comércio, bancos e seguradoras elaboram manifesto em que apontam preocupação com medida e criticam aumento de imposto.

 

Representantes da indústriaagronegócio, comércio, bancos e seguradoras defendem que o Congresso Nacional barre o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) anunciado pelo governo na última quinta-feira, 22.

 

Em manifesto, a que o Estadão teve acesso, as entidades afirmam que o aumento do imposto foi recebido com “preocupação” e representa aumento de custos para o setor privado.

 

“Iniciativas arrecadatórias, com aumento de impostos, impactam negativamente a construção de um ambiente econômico saudável”, afirmam. “Esperamos que o Congresso Nacional se debruce sobre o tema e avalie com responsabilidade a anulação do teor do decreto do governo federal.”

 

O documento é assinado pelas confederações nacionais da Indústria (CNI), do agronegócio (CNA), do comércio e serviços (CNC), das instituições financeiras (CNF), das seguradoras (CNseg), além da Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca) e da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), o que indica que o setor privado se uniu contra o aumento do IOF.

 

Na quinta-feira, o governo anunciou o aumento do imposto em operações de crédito para empresas, em investimentos de pessoas físicas acima de R$ 50 mil por mês na previdência privada (VGBL), e em operações cambiais que atingem tanto empresas quanto pessoas físicas.

 

Horas depois, o governo recuou e poupou as aplicações financeiras de fundos de investimentos e de pessoas físicas no exterior.

Mas advogados tributaristas e empresários afirmam que ainda haverá efeitos sobre o dia a dia de multinacionais brasileiras na relação com suas filiais no exterior e também na importação de máquinas e equipamentos.

 

No manifesto, as entidades afirmam que a medida encarece o crédito para empreendimentos produtivos “aumentando a carga tributária do IOF sobre empréstimos para empresas em mais de 110% ao ano e, ao mesmo tempo, expõe assimetrias”.

 

“A tributação no câmbio impacta a importação de insumos e bens de capital necessários para o investimento privado e a modernização do parque produtivo nacional. A tributação sobre VGBL amplia distorções no mercado financeiro, uma vez que outros produtos não foram tributados e desincentiva a formação de poupança nacional de longo prazo em favor de investimentos de curto prazo”, afirmam.

 

Na sexta-feira, o líder da oposição no Senado, Rogério Marinho (PL-RN), apresentou uma proposta de decreto legislativo para sustar o aumento do imposto. Para avançar, a medida precisa ser aprovada pela maioria dos parlamentares da Câmara e do Senado.

 

As entidades que assinam o manifesto têm atuação forte de lobby no Congresso, o que pode pressionar o governo.

 

As confederações afirmam, no manifesto, rejeitar o aumento de impostos como forma de ajustar as contas do governo.

 

“É preciso enfrentar os problemas crônicos do Orçamento para acabar com a contínua elevação de impostos. Construir um desenho institucional mais eficiente é a forma certa de garantir o equilíbrio fiscal, reduzir o enorme custo tributário que trava o crescimento do país e garantir previsibilidade para investidores”.

 

Leia o manifesto na íntegra:

 

“Manifestação das Confederações sobre as mudanças no IOF

 

O setor privado brasileiro recebe com preocupação as medidas anunciadas pelo Governo Federal de aumento de alíquotas do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).

 

A decisão gera imprevisibilidade e aumenta os custos para produzir no país. Com as medidas, os custos das empresas e dos negócios com operações de crédito, câmbio e seguros serão elevados em R$ 19,5 bilhões apenas no que resta do ano de 2025. Para 2026 o aumento de custo chega a R$ 39 bilhões.

 

A medida encarece o crédito para empreendimentos produtivos, aumentando a carga tributária do IOF sobre empréstimos para empresas em mais de 110% ao ano e, ao mesmo tempo, expõe assimetrias.

 

A tributação no câmbio impacta a importação de insumos e bens de capital necessários para o investimento privado e a modernização do parque produtivo nacional. A tributação sobre VGBL amplia distorções no mercado financeiro, uma vez que outros produtos não foram tributados e desincentiva a formação de poupança nacional de longo prazo em favor de investimentos de curto prazo.

 

Iniciativas arrecadatórias, com aumento de impostos, impactam negativamente a construção de um ambiente econômico saudável. O IOF, aliás, é um imposto regulatório, e não arrecadatório. É preciso enfrentar os problemas crônicos do Orçamento para acabar com a contínua elevação de impostos. Construir um desenho institucional mais eficiente é a forma certa de garantir o equilíbrio fiscal, reduzir o enorme custo tributário que trava o crescimento do país e garantir previsibilidade para investidores.

 

Esperamos que o Congresso Nacional se debruce sobre o tema e avalie com responsabilidade a anulação do teor do decreto do Governo Federal.

 

O Brasil ostenta uma das maiores cargas tributárias do mundo. Precisamos de um ambiente melhor para crescer — e isso se faz com aumento de arrecadação baseado no crescimento da economia, não com mais impostos.

 

É hora de respeitar o contribuinte” (Estadão, 27/5/25)